CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017
Boletim da Santa Sé
Tradução livre: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Desde pequenos nos é ensinado que não é bonito vangloriar-se. Na minha terra, aqueles que se vangloriam são chamados “pavões”. E é justo, porque vangloriar-se daquilo que se é ou daquilo que se tem, além de uma certa soberba, denuncia também uma falta de respeito para com os outros, especialmente para com aqueles que são menos afortunados que nós. Neste trecho da Carta aos Romanos, porém, o Apóstolo Paulo nos surpreende, quando por duas vezes nos convida a nos vangloriarmos. Do que, então, é justo vangloriar-se? Porque se ele convida a vangloriar-se, de algo é justo fazê-lo. E como é possível fazer isso, sem ofender os outros, sem excluir ninguém?
No primeiro caso, somos convidados a nos vangloriarmos da abundância da graça da qual somos imbuídos em Jesus Cristo, por meio da fé. Paulo quer nos fazer entender que, se aprendemos a ler cada coisa com a luz do Espírito Santo, percebemos que tudo é graça! Tudo é dom! Se prestamos atenção, de fato, a agir – na história, como na nossa vida – não somos somente nós, mas é antes de tudo Deus. É Ele o protagonista absoluto, que cria toda coisa como um dom de amor, que tece a trama do seu desígnio de salvação e que o leva a cumprimento por nós, mediante o seu Filho Jesus. A nós é pedido reconhecer tudo isso, acolhê-lo com gratidão e fazê-lo se tornar motivo de louvor, de benção e de grande alegria. Se fazemos isso, estamos em paz com Deus e fazemos experiência da liberdade. E esta paz se estende depois a todos os âmbitos e a todas as relações da nossa vida: estamos em paz conosco mesmo, estamos em paz em família, na nossa comunidade, no trabalho e com pessoas que encontramos todos os dias no nosso caminho.
Paulo, porém, convida a nos vangloriarmos também nas tribulações. Isto não é fácil de ser entendido. Isso é mais difícil e pode parecer que não tem nada a ver com a condição de paz há pouco descrita. Em vez disso, constitui o pressuposto mais autêntico, mais verdadeiro. De fato, a paz que o Senhor nos oferece e nos garante não deve ser entendida como ausência de preocupações, de desilusões, de falhas, de motivos de sofrimento. Se fosse assim, no caso em que conseguíssemos estar em paz, aquele momento acabaria logo e cairíamos inevitavelmente no desconforto. A paz que surge da fé é, em vez disso, um dom: é a graça de experimentar que Deus nos ama e que está sempre próximo a nós, não nos deixa sozinhos nem mesmo um minuto da nossa vida. E isso, como afirma o apóstolo, gera a paciência, porque sabemos que, também nos momentos mais duros e chocantes, a misericórdia e a bondade do Senhor são maiores que qualquer coisa e nada nos arrancará de suas mãos e da comunhão com Ele.
Eis porque a esperança cristã é sólida, eis porque não desilude. Nunca desilude. A esperança não desilude! Não é fundada naquilo que nós podemos fazer ou ser nem mesmo naquilo em que nós podemos acreditar. O seu fundamento, isso é, o fundamento da esperança cristã, é aquilo que de mais fiel e seguro pode existir, o amor que o próprio Deus alimenta por cada um de nós. É fácil dizer: Deus nos ama. Todos o dizemos. Mas pensem um pouco: cada um de nós é capaz de dizer: sou seguro de que Deus me ama? Não é tão fácil dizer isso. Mas é verdade. É um bom exercício, isso, dizer a si mesmo: Deus me ama. Esta é a raiz da nossa segurança, a raiz da esperança. E o Senhor infundiu abundantemente nos nossos corações o Espírito – que é o amor de Deus – como artífice, como garantia, justamente para que possa alimentar dentro de nós a fé e manter viva essa esperança. E essa segurança: Deus me ama. “Mas neste momento ruim?” – Deus me ama. “E a mim, que fiz essa coisa ruim?” – Deus me ama. Essa segurança ninguém nos tira. E devemos repetir isso como oração: Deus me ama. Sou seguro de que Deus me ama. Sou segura de que Deus me ama.
Agora compreendemos porque o apóstolo Paulo nos convida a nos vangloriarmos sempre de tudo isso. Eu me vanglorio do amor de Deus, porque me ama. A esperança que nos foi dada não nos separa dos outros, nem tão pouco nos leva a desacreditá-los ou marginalizá-los. Trata-se, em vez disso, de um dom extraordinário do qual somos chamados a ser “canais”, com humildade e simplicidade, para todos. E então o nosso orgulho maior será aquele de ter como Pai um Deus que não tem preferências, que não exclui ninguém, mas que abre a sua casa a todos os seres humanos, a começar pelos últimos e distantes, para que como seus filhos aprendamos a nos consolar e a nos apoiar uns aos outros. E não se esqueçam: a esperança não desilude.