CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia,
Na última catequese, destaquei como a Eucaristia nos introduz na comunhão real com Jesus e o seu mistério. Agora podemos nos colocar algumas perguntas sobre a relação entre a Eucaristia que celebramos e a nossa vida, como Igreja e como cristãos individualmente. Como vivemos a Eucaristia? Quando vamos à Missa aos domingos, como a vivemos? É somente um momento de festa, é uma tradição consolidada, é uma ocasião para se encontrar ou para sentir-se bem, ou é algo a mais?
Há alguns sinais muito concretos para entender como vivemos tudo isso, como vivemos a Eucaristia; sinais que nos dizem se nós vivemos bem a Eucaristia ou não a vivemos tão bem. O primeiro indício é o nosso modo de olhar e considerar os outros. Na Eucaristia, Cristo realiza sempre novamente o dom de si que fez na Cruz. Toda a sua vida é um ato de total partilha de si por amor; por isso Ele amava estar com os discípulos e com as pessoas que tinha oportunidade de conhecer. Isto significava para Ele partilhar os desejos deles, os seus problemas, aquilo que agitava as suas almas e suas vidas. Agora nós, quando participamos da Santa Missa, encontramo-nos com homens e mulheres de todo tipo: jovens, idosos, crianças, pobres e ricos; originários do lugar ou de fora; acompanhados por familiares ou sozinhos… Mas a Eucaristia que celebro leva-me a senti-los todos, realmente, como irmãos e irmãs? Faz crescer em mim a capacidade de alegrar com quem se alegra, de chorar com quem chora? Impele-me a seguir rumo aos pobres, aos doentes, aos marginalizados? Ajuda-me a reconhecer neles a face de Jesus? Todos nós vamos à Missa porque amamos Jesus e queremos partilhar, na Eucaristia, a sua paixão e a sua ressurreição. Mas amamos, como quer Jesus, aqueles irmãos e irmãs mais necessitados? Por exemplo, em Roma, nestes dias vimos tantos problemas sociais ou pela chuva que fez tantos danos a bairros inteiros, ou pela falta de trabalho, consequência da crise econômica em todo o mundo. Pergunto-me, e cada um de nós se pergunte: eu que vou à Missa, como vivo isto? Preocupo-me de ajudar, de aproximar-me, de rezar por aqueles que têm este problema? Ou sou um pouco indiferente? Ou talvez me preocupo de fofocar: viu como está vestida aquela, ou como está vestido aquele? Às vezes se faz isso, depois da Missa, e não se deve fazer! Devemos nos preocupar com os nossos irmãos e irmãs que têm necessidade por causa de uma doença, de um problema. Hoje, fará bem a nós pensar nestes nossos irmãos e irmãs que têm este problema aqui em Roma: problemas pela tragédia provocada pela chuva e problemas sociais e de trabalho. Peçamos a Jesus, que recebemos na Eucaristia, que nos ajude a ajudá-los.
Um segundo indício, muito importante, é a graça de sentir-se perdoados e prontos a perdoar. Às vezes alguém pergunta: “Por que se deveria ir à igreja, visto que quem participa habitualmente da Santa Missa é pecador como os outros?”. Quantas vezes ouvimos isso! Na realidade, quem celebra a Eucaristia não o faz porque se acredita ou quer parecer melhor que os outros, mas propriamente porque se reconhece sempre necessitado de ser acolhido e regenerado pela misericórdia de Deus, feita carne em Jesus Cristo. Se algum de nós não se sente necessitado da misericórdia de Deus, não se sente pecador, é melhor que não vá à Missa! Nós vamos à Missa porque somos pecadores e queremos receber o perdão de Deus, participar da redenção de Jesus, do seu perdão. Aquele “Confesso” que dizemos no início não é “pro forma”, é um verdadeiro ato de penitência! Eu sou pecador e o confesso, assim começa a Missa! Não devemos nunca esquecer que a Última Ceia de Jesus aconteceu “na noite em que foi traído” (1 Cor 11, 23). Naquele pão e naquele vinho que oferecemos e em torno do qual nos reunimos se renova toda vez o dom do corpo e do sangue de Cristo para a remissão dos nossos pecados. Devemos ir à Missa humildemente, como pecadores e o Senhor nos reconcilia.
Um último indício precioso nos vem oferecido pela relação entre a celebração eucarística e a vida das nossas comunidades cristãs. É necessário sempre ter em mente que a Eucaristia não é algo que fazemos nós; não é uma comemoração nossa daquilo que Jesus disse e fez. Não. É propriamente uma ação de Cristo! É Cristo que age ali, no altar. É um dom de Cristo, que se torna presente e nos acolhe em torno de si, para nutrir-nos da sua Palavra e da sua vida. Isto significa que a missão e a identidade própria da Igreja surge dali, da Eucaristia, e ali sempre toma forma. Uma celebração pode ser também impecável do ponto de vista exterior, belíssima, mas se não nos conduz ao encontro com Jesus Cristo arrisca não levar alimento algum ao nosso coração e à nossa vida. Através da Eucaristia, em vez disso, Cristo quer entrar na nossa existência e permeá-la pela sua graça, de forma que em toda comunidade cristã haja coerência entre liturgia e vida.
O coração se enche de confiança e esperança pensando nas palavras de Jesus reportadas no Evangelho: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54). Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de penitência, de alegria comunitária, de preocupação pelos necessitados e pelas necessidades de tantos irmãos e irmãs, na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: a vida eterna. Assim seja!