João Batista Scalabrini foi bispo de Piacenza, fundou as Congregações dos Missionários e Missionárias de São Carlos com a missão específica de servir os migrantes
Mauriceia Silva
Da Redação
Neste domingo, 9, a Igreja ganhará dois novos santos: os beatos João Batista Scalabrini e Artêmides Zatti. A data foi anunciada pelo Papa Francisco, na Basílica de São Pedro, durante o Consistório realizado em maio para a votação de algumas causas de beatificação. Por ocasião das duas canonizações, nosso site de notícias preparou uma série de matérias que serão publicadas diariamente até sexta-feira, 7, sobre a vida e obra dos dois futuros santos. A série também estará no Instagram – @cnnoticias – com vídeos diários.
Com o olhar voltado para os migrantes e refugiados, Scalabrini percorreu um caminho que a Igreja reconheceu seguro para se chegar ao céu. Vê-se no mesmo dia dois religiosos de congregações diferentes que serão canonizados no mesmo dia, e então vem a pergunta que não quer calar: o que os une?
O primeiro, João Batista Scalabrini, é Apóstolo dos Migrantes. Zatti e sua família foram Migrantes na Patagônia. Duas vidas que se entrelaçam pela dura realidade que atinge a milhões de pessoas em todo o mundo. Sejam pessoas que foram obrigadas a sair de suas cidades por causa das guerras, como aqueles que fugiram da Ucrânia, ou também nas histórias de muitos outros homens, mulheres, famílias inteiras que, à procura de um lugar seguro, tiveram de deixar a própria casa e nação na Ásia, na África e nas Américas.
Por hora, vamos nos debruçar sobre a vida e legado do Fundador dos Scalabrinianos, uma vida doada por uma necessidade tão antiga, e ao mesmo tempo contemporânea. Já no Século XIX, João Batista Scalabrini ouviu um grito que ecoa até hoje, o choro daqueles que deixam as suas casas, os seus, a sua pátria, em busca de um nova vida, e em grande parte se deparam com condições mais que desafiantes, subumanas.
Uma vida doada pelos imigrantes
Segundo a missionária secular Scalabriniana, Rosiane Aparecida de Melo, na época que João Batista Scalabrini começou a conhecer a realidade da migração, ele visitava as muitíssimas paróquias da diocese de Piacenza, e via que os italianos daquela época, no século XIX, estavam migrando para as Américas, para os EUA, Brasil e Argentina. Para eles, começou a criar cooperativas, sistemas de trabalho.
Rosiane conta ainda que um senhor imigrante que estava pronto para imigrar com sua família disse à Scalabrini: “ ‘Senhor bispo, é imigrar ou começar a roubar’. Então, o padre foi visitar a estação de Milão, onde os italianos tomavam o trem para ir para o porto de Gênova e aí ele viu muitíssimas famílias com poucas coisas, prontos e decididos a imigrar e nunca mais voltar para ver os seus parentes.”
A missionária conta que, a partir de então, o fundador dos Scalabrinianos decidiu formar missionários e missionárias para acompanhar esse povo durante a viagem. Também ele mesmo foi para as Américas em 1901. “E assim ele fundou a Congregação dos padres Scalabrinianos em 1887, a Congregação das irmãs em 1895, e o nosso Instituto de Missionárias Seculares Scalabrinianas”.
Desde cedo, Scalabrini mostrou o interesse por aqueles que tinham que deixar a terra natal para trabalhar, é o que afirma o Missionário Scalabriniano e vice-presidente do Serviço de Proteção ao Migrante, padre Alfredo J. Gonçalves, cs. O padre também recorda que, oito anos depois, em 1895, com Madre Assunta e Padre Marchetti, Scalabrini fundou a Congregação das Missionárias de São Carlos, ramo feminino do carisma. Seu legado é a “causa dos migrantes”. Os padres e irmãs hoje estão espalhados em mais de 30 países.
Dispensa do segundo milagre
Padre Alfredo também comentou sobre a autorização da dispensa do segundo milagre para a canonização de João Batista Scalabrini. Segundo ele, essa dispensa leva em consideração a vida e a obra de Scalabrini, mas também a sensibilidade e solidariedade do Papa Francisco junto aos migrantes.
“Desde sua eleição, o Papa visitou as ilhas de Lampedusa (Itália) e Lesbos (Grécia), duas portas de entrada dos imigrantes na Europa. Visitou também a fronteira entre México e Estados Unidos. Acolheu várias famílias de migrantes sírios. Enfim, tem sido um grande defensor dos direitos do migrante. Tudo isso traz à Congregação novo ânimo, novo ardor e novo alento.”
O missionário também acredita que essa canonização deixa para o mundo a importância de voltar os olhos para a questão migratória. Ele afirma que, com a globalização da economia, a questão migratória fez emergir rostos vulneráveis e excluídos, sujeitos a longas marchas e grandes tragédias.
Sobre Scalabrini ser canonizado por decreto, Rosiane afirma que realmente é um impulso muito forte na família Scalabriniana e estão todos em festa, em gratidão. “A gente percebe que até todas as pessoas se alegram conosco mesmo quem está conhecendo Scalabrini pela primeira vez acaba se alegrando profundamente conosco, fazendo com que seja um santo também deles”.
Apóstolo dos Migrantes
Dom Scalabrini nasceu na Itália, em Fino Mornasco, no dia 8 de julho de 1839. Faleceu em 1° de junho de 1905, em Piacenza.
Nomeado pelo Papa Pio IX, tornou-se bispo com apenas 36 anos. Diante da realidade de pobreza e grande esforço dos imigrantes italianos que encontrou, certa vez, em Milão, pensou que seria necessário dar atenção aos que saíam em viagem com todos os pertences e toda a família, principalmente para as Américas.
Em 1887, fundou a Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu e, poucos anos depois, abraçou o ramo feminino, que nasceu por iniciativa do missionário scalabriniano Giuseppe Marchetti e de sua irmã, Assunta Marchetti, também beata da Igreja. Dom Scalabrini viajou muitas vezes, sempre indo ao encontro dos migrantes.
O Apóstolo dos Migrantes está prestes ir para os altares. Pouco antes de proclamar o dia em que a Igreja irá canonizá-lo, que será 9 de outubro, o Papa Francisco declarou: “Alegremo-nos e exultemos”.