Tailândia

Aos bispos da Ásia, Papa pede apoio aos padres e memória missionária

Encontro do Santo Padre com os bispos da Tailândia aconteceu no Santuário do primeiro beato do país, o sacerdote Nicolau Bunkerd 

Da redação, com Vatican News

Papa durante encontro com os bispos da Tailândia/ Foto: Reprodução – Vatican Media

O Papa Francisco deu seguimento à agenda oficial em Bangcoc nesta sexta-feira, 22, em Tha Kham ao encontrar os bispos da Tailândia e da Federação das Conferências dos Bispos da Ásia (FABC) no Sampran, o santuário do primeiro Beato da Tailândia, o sacerdote e mártir, Nicolau Bunkerd Kitbamrung. A FABC é uma associação que reúne os membros das 19 Conferências Episcopais da Ásia, com sede em Hong Kong, além de associados, para promover o apostolado da Igreja no grande continente.

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Ao iniciar o discurso aos bispos asiáticos, o Santo Padre agradeceu as boas vindas e logo fez referência ao local que hospedava o encontro, recordando o Beato Nicolau. Segundo o Pontífice, o mártir dedicou a sua vida à evangelização e à catequese, formando discípulos do Senhor. O Papa incentivou que o exemplo do beato se espalhe pelas Igrejas da Ásia, feito “bálsamo e perfume”.

Francisco citou a assembleia geral da FABC de 2020, que completou 50 anos, e afirmou que a ocasião incentiva todos a voltarem a visitar os ‘santuários’, onde se guardam “as raízes missionárias”. De acordo com o Papa, é importante que essa memória dos pastores que lutaram e intercederam pelo seu povo, ajude a avaliar a missão atual em meio a tantas tensões:

“Vocês vivem num continente multicultural e multirreligioso, dotado de grande beleza e prosperidade, mas ao mesmo tempo provado por uma pobreza e exploração em vários níveis. Os rápidos progressos tecnológicos podem abrir imensas possibilidades para facilitar a vida, mas podem também suscitar um crescente consumismo e materialismo, sobretudo entre os jovens”.

O Pontífice prosseguiu: “Vocês carregam nos ombros as preocupações dos povos ao ver o flagelo das drogas e o tráfico de pessoas, a necessidade de atender a um grande número de migrantes e refugiados, as más condições de trabalho, a exploração laboral sofrida por muitos, bem como a desigualdade econômica e social que existe entre os ricos e os pobres”.

Papa Francisco durante discurso/ Foto: Reprodução – Vatican Media

O Papa exortou os bispos a buscarem na memória missionária o exemplo dos santos. Para o Santo Padro isso ajuda a enfrentar os embates dos tempos atuais: “Temos consciência de que ‘há estruturas [e mentalidades] eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador; de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia; [porque, em última análise], sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem fidelidade da Igreja à própria vocação, toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo’ e pode tornar difícil ao nosso coração o importante ministério da oração e intercessão”.

Ao descrever o caminho missionário na Ásia, o Santo Padre observou a importância do Espírito Santo seguir sempre na primeira linha: é ele quem “chega antes do missionário, e permanece com ele”. O impulso do Espírito Santo, acrescentou Francisco, motivou os próprios Apóstolos e tantos missionários a não descartar nenhuma “terra, povo, cultura ou situação”para receber “a semente de vida”.

“Toda a vida tem valor aos olhos do Mestre. Ousados, corajosos, porque sabiam, antes de mais nada, que o Evangelho é um dom para ser semeado em todos e para todos: doutores da lei, pecadores, publicanos, prostitutas, todos os pecadores de ontem e de hoje. Apraz-me salientar que a missão, mais do que atividades a realizar ou projetos a implementar, requer um olhar e um olfato que se deve educar; requer uma preocupação paterna e materna, porque a ovelha se perde quando o pastor a dá por perdida; nunca antes”, frisou.

A força do Evangelho na missão foi destacada pelo Pontífice: consiste não somente em proclamá-lo, mas em “também aprender a crer no Evangelho e deixar-se transformar por ele”. Ao parafrasear Paulo VI ao afirmar que “a Igreja começa por se evangelizar a si mesma”, o Santo Padre falou da importância da dinâmica “conversão-anúncio”, de tornar-se “testemunha por vocação”.

“Uma Igreja em caminho, sem medo de descer pra rua e ter contato com a vida das pessoas que lhe foram confiadas, é capaz de se abrir humildemente ao Senhor e, com o Senhor, viver a maravilha da aventura missionária sem necessidade, consciente ou inconsciente, de querer aparecer ela em primeiro lugar, ocupando ou pretendendo talvez que lhe atribuam lugar de destaque”, explicou.

Bispos tailandeses durante encontro com o Papa/ Foto: Reprodução – Vatican Media

Para Francisco, a Igreja universal precisa aprender com os bispos asiáticos que, apesar de serem minoria em muitos dos países ou regiões, não se deixam levar ou contaminar pelo complexo de inferioridade ou pela lamentação de não se sentirem reconhecidos.  O Papa caracterizou, assim, a fecundidade evangélica ao enaltecer o trabalho realizado pela Igreja asiática que, mesmo “pequena em pessoas e recursos”, é ardente e ansiosa por ser um instrumento vivo da promessa do Senhor para todas as pessoas das aldeias e cidades.

“O martírio da dedicação diária e frequentemente silenciosa dará os frutos de que precisam os povos de vocês. (…) Não percamos de vista que muitas das terras de vocês foram evangelizadas por leigos. Eles puderam falar o dialeto do povo, um exercício simples e direto de inculturação, não teórica nem ideológica, mas fruto da paixão por partilhar Cristo”, sublinhou.

A missão deve, de acordo com o Pontífice, ser perpetuada por todos, ao percorrer um caminho de evangelização que inspire paciência e amabilidade, escuta e respeito. O Santo Padre finalizou o discurso fazendo um convite especial aos bispos da Ásia: “De maneira particular, convido a ter sempre a porta aberta para os sacerdotes. Não esqueçamos que o próximo mais próximo do bispo é o sacerdote”.

“Mantenham-se próximo deles, escutem-nos, procurem sustentá-los em todas as situações que enfrentam, sobretudo quando estarão desanimados ou apáticos, que é a pior das tentações do demônio. E o façam, não como juízes, mas como pais, não como gerentes que se servem deles, mas como verdadeiros irmãos mais velhos. Criem um clima de confiança que favoreça um diálogo sincero e aberto, buscando e pedindo a graça de terem a mesma paciência que o Senhor tem com cada um de nós… e tem tanta! ”.

 

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