Na catequese, Francisco frisa: o ser humano é verdadeiramente feliz quando é amado; quem procura comprar amor ou mendigar afeto, contrai relações infelizes
Da redação, com Boletim da Santa Sé

Foto: Anadolu via Reuters
A catequese do Papa Francisco desta quarta-feira, 9, foi divulgada pela Santa Sé. Com o tema “O homem rico. Jesus fitou nele o olhar (Mc 10,21)”, o texto preparado pelo Santo Padre, durante este período de restabelecimento da saúde na Casa Santa Marta, segue a sequência “A vida de Jesus. Os Encontros”, no âmbito do Ciclo de Catequeses para este Jubileu 2025 sobre o tema “Jesus Cristo nossa Esperança”.
O Pontífice começa destacando que o encontro de Jesus, alvo da reflexão de hoje, é com uma pessoa que “não tem nome”, apresentada pelo evangelista Marcos simplesmente como “um homem”. Ele recorda que este homem, desde jovem, guardou os mandamentos, mas, apesar disso, ainda não encontrou o sentido da sua vida.
“Talvez seja alguém que não se tenha decidido totalmente, apesar da aparência de pessoa empenhada. Para além, de fato, das coisas que fazemos, dos sacrifícios ou dos sucessos, o que conta realmente para ser feliz é o que trazemos no coração”, enfatiza.
Enquanto caminha pela estrada, o Papa lembra que o homem corre ao encontro de Jesus, ajoelha-se diante d’Ele e pergunta-lhe: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (v. 17). Francisco pede que os fiéis se atentem aos verbos: “Que devo fazer para alcançar a vida eterna”. Ele explica que a observância da Lei não deu ao homem a felicidade e a segurança de ser salvo, por isso foi ao encontro do mestre Jesus.
“O que chama a atenção é o fato de este homem não conhecer o vocabulário da gratuidade! Tudo parece devido. Tudo é um dever. A vida eterna é para ele uma herança, algo que se obtém por direito, através da observância meticulosa dos compromissos. Mas numa vida vivida assim, ainda que certamente para o bem, que lugar pode ter o amor?”, questiona.
Gratuidade do amor
O Santo Padre afirma que Jesus vai para além das aparências, como sempre: o homem coloca diante de Jesus o seu belo currículo e Jesus vai mais longe e olha para dentro. O Pontífice frisa o verbo que Marcos utiliza no trecho: “fitando nele o olhar” (v. 21).
“Precisamente porque Jesus olha para dentro de cada um de nós, ama-nos tal como somos. O que terá visto de fato dentro desta pessoa? O que vê Jesus quando olha para dentro de nós e nos ama, apesar das nossas distrações e dos nossos pecados? Vê a nossa fragilidade, mas também o nosso desejo de sermos amados tal como somos”, reflete.
No Evangelho, Jesus, ao fitar o homem, sente “afeição por ele” (v. 21). Francisco sublinha então o fato de Jesus amar o homem antes de fazer o convite para que o seguisse. “Ama-o tal como ele é. O amor de Jesus é gratuito: exatamente o contrário da lógica do mérito que atormentava esta pessoa”.
O Papa reforça que o ser humano é verdadeiramente feliz quando se dá conta de que é amado assim, gratuitamente, pela graça. Ele enfatiza que isto vale também nas relações humanas, por isso quem procura comprar o amor ou mendigar afeto, contrai relações infelizes.
Mudar a maneira de viver
A proposta de Jesus ao homem é para que ele mudasse a maneira de viver e de se relacionar com Deus. Jesus, explica o Santo Padre, reconhece que dentro daquele homem, como em todos, existe uma carência. É o desejo que todos trazem no coração de serem amados. Uma ferida que pertence aos seres humanos.
O Pontífice defende que para suprir esta carência não é preciso “comprar” reconhecimentos, afeto, consideração; pelo contrário, é preciso “vender” tudo aquilo que torna a vida pesada, para que o coração seja mais livre.
Alerta para a cultura do individualismo
Por fim, Jesus convida o homem a não ficar sozinho. A partir disso, Francisco alerta para a cultura da autossuficiência e do individualismo. Nela, ele ressalta que o ser humano se descobre mais infeliz, porque já não ouve pronunciar o seu nome por alguém que quer o seu bem gratuitamente.
“Este homem não acolhe o convite de Jesus e fica sozinho, porque os lastros da sua vida o retêm no porto. A tristeza é o sinal de que não conseguiu partir. Por vezes, pensamos que sejam riquezas e, no entanto, são apenas pesos que nos estão a bloquear. A esperança é que esta pessoa, como cada um de nós, mais cedo ou mais tarde possa mudar e decidir de se fazer ao largo”, frisa.
O Santo Padre pediu aos fiéis que confiem ao Coração de Jesus todas as pessoas tristes e indecisas, para que possam sentir o olhar de amor do Senhor, que se comove olhando com ternura para dentro de todos.