Aniversário de pontificado

A Igreja é casa para todos, reitera Papa Francisco em entrevista

Entrevista por ocasião dos dez anos de pontificado do Papa Francisco aborda temas como as prioridades do pontificado e o cenário de guerra

Da Redação, com Vatican News

Papa Francisco / Foto: Eric Vandeville/ABACAPRESS.COM via Reuters

O Portal Vatican News publicou nesta sexta-feira, 10, trechos da entrevista com o Papa Francisco realizada por Paolo Rodari para a rádio e televisão suíça (RSI). A entrevista é dedicada aos dez anos de seu pontificado, aniversário que será recordado na próxima segunda-feira, 13.

As prioridades do pontificado, a guerra na Ucrânia e outros conflitos e as relações com o predecessor são alguns dos temas da conversa. A entrevista será transmitida em horário nobre no domingo, 12, véspera do décimo aniversário da eleição e estará disponível na íntegra no site www.rsi.ch.

Perguntado sobre o que mudou nestes dez anos, o Papa diz que está velho, tem menos resistência física e que se envergonhava um pouco de andar de cadeira de rodas. Já sobre a descrição que muitos fazem dele – “o Papa dos últimos” – admite que tem preferência pelos descartados, mas isso não significa que descarte os outros. “Os pobres são os favoritos de Jesus, mas Jesus não manda embora os ricos.”, afirma.

Na entrevista, o Papa também é questionado sobre o porquê de algumas pessoas se sentirem excluídas da Igreja devido às suas condições de vida. “Sempre há pecado. Há homens de Igreja, mulheres de Igreja que fazem a distância. E isso é um pouco a vaidade do mundo, se sentir mais justo que os outros, mas não está certo. Somos todos pecadores. Na hora da verdade põe a sua verdade sobre a mesa e você verá que é um pecador.”

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A moradia na Casa Santa Marta

Francisco também comenta, uma vez mais, o motivo de ter escolhido morar na Casa Santa Marta. “Dois dias depois da eleição fui tomar posse do palácio apostólico. Não é tão luxuoso. É feito bem, mas é enorme. A sensação que tive foi como a de um funil invertido. Psicologicamente eu não tolero isso. Por acaso passei em frente ao quarto onde moro. E eu disse: “Vou ficar aqui.” É um hotel, moram lá quarenta pessoas que trabalham na cúria. E vêm pessoas de todos os lugares.”

Da vida anterior, em Buenos Aires, o Papa diz que sente falta de andar pelas ruas. “Eu andava muito. Usava o metrô, o ônibus, sempre com as pessoas”.

Um marco: oração pelo fim da pandemia

Em outro ponto da entrevista a Rodari, Francisco recorda um momento marcante: sua oração silenciosa na Praça São Pedro em 27 de março de 2020, pelo fim da pandemia. “Chovia e não havia ninguém. Eu senti que o Senhor estava lá. Era algo que o Senhor queria nos fazer entender a tragédia, a solidão, a escuridão, a peste.”

O cenário de guerra

Outro tema abordado na entrevista são as várias guerras no mundo. Francisco recorda que, em pouco mais de cem anos, houve três guerras mundiais (1914-198, 1939-1945 e a atual).

“Começou aos poucos e agora ninguém pode dizer que não é mundial. As grandes potências estão todas emaranhadas. O campo de batalha é a Ucrânia. Todos lutam lá. Isso faz pensar na indústria de armas. Um técnico me dizia: se as armas não fossem produzidas por um ano, o problema da fome no mundo estaria resolvido. É um mercado. A guerra é travada, velhas armas são vendidas, novas são testadas.”

Perguntado sobre o que diria ao presidente russo, Wladimir Putin, caso o encontrasse, Francisco responde: “Eu falaria com ele claramente como falo em público.”

O Papa recorda que, no segundo dia da guerra, foi à embaixada russa na Santa Sé para dizer que estava disposto a ir a Moscou com a condição de que Putin lhe abrisse uma brecha para negociar, mas não era o momento. “Putin sabe que estou à disposição. Mas há interesses imperiais lá, não apenas do império russo, mas de outros impérios. É próprio do império colocar as nações em segundo lugar.”

O Papa também acena ao conflito do Iêmen, da Síria, à situação dos pobres Rohingya de Mianmar. “Por que esses sofrimentos? As guerras machucam. Não há espírito de Deus, não acredito em guerras santas.”

Bento XVI

O Pontífice também comenta sua relação com seu predecessor, Bento XVI, que faleceu no dia 31 de dezembro passado. Recorda-o como um homem de Deus, a quem pedia opiniões. “Ele dava o seu parecer, mas sempre equilibrado, positivo, sensato. Da última vez, porém, se via que estava no fim.”

Sobre o caminho para a renúncia aberto por Bento, Francisco já disse que esta é uma possibilidade, mas que atualmente não a contempla. A Rodari, explica que o que poderia fazê-lo renunciar no futuro seria um cansaço que não o fizesse ver as coisas com clareza.

“A falta de clareza, de saber avaliar as situações. Até o problema físico, talvez. Eu sempre pergunto sobre isso e sigo os conselhos. Como estão as coisas? Você acha que devo… às pessoas que me conhecem, até mesmo alguns cardeais inteligentes. E eles me dizem a verdade: continua está bom. Mas por favor: grite em tempo.”

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