Em discurso a professores da universidade católica mais antiga do mundo, Francisco exorta criação de cultura de inclusão e paixão por busca pela verdade
Da Redação, com Boletim da Santa Sé
O Papa Francisco se encontrou com os professores da Universidade Católica de Lovaina nesta sexta-feira, 27. Após assinar o livro de honra da instituição, que é a universidade católica mais antiga do mundo, com 600 anos, ele discursou aos presentes.
Em sua fala, o Pontífice destacou que a primeira tarefa de uma instituição de ensino é oferecer uma educação integral para que as pessoas tenham as ferramentas necessárias para interpretar o presente e planejar o futuro. Além disso, enfatizou que as universidades devem ser lugares que impulsionam ideias e estímulos para a vida, pensamento e desafios da sociedade, tornando-se “espaços generativos”.
“É bom pensar que a universidade gera cultura, gera ideias, mas, sobretudo, promove a paixão pela busca da verdade, a serviço do progresso humano”, afirmou o Santo Padre. Citando a Constituição Apostólica Veritatis gaudium, reiterou que as universidades católicas em especial são chamadas a “prestar o decisivo contributo de fermento, sal e luz do Evangelho de Jesus Cristo e da Tradição viva da Igreja sempre aberta a novos cenários e propostas”.
Neste contexto, Francisco convidou os participantes do encontro a “alargar as fronteiras do conhecimento”. “Não se trata de multiplicar as noções e as teorias”, prosseguiu, “mas de fazer da formação acadêmica e cultural um espaço vivo, que englobe a vida e fale à vida (…) A grande missão da universidade é alargar fronteiras e tornar-se um espaço aberto ao homem e à sociedade”.
Atenção ao cansaço do espírito e ao racionalismo sem alma
Na sequência, o Papa apontou uma situação ambivalente em que as fronteiras se estreitam. Por um lado, sinalizou, a humanidade se encontra imersa em uma cultura marcada pela renúncia à busca da verdade. “Perdemos a paixão inquieta da procura, para nos refugiarmos no comodismo do pensamento fraco, na convicção de que tudo é igual, de que tanto vale uma coisa como outra, de que tudo é relativo”, manifestou.
Por outro lado, quando se fala da verdade, sinalizou o Pontífice, “cai-se, muitas vezes, numa atitude racionalista, segundo a qual só aquilo que podemos medir e experimentar pode ser considerado verdadeiro, como se a vida se reduzisse exclusivamente à matéria e ao visível”.
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Diante deste cenário, o Santo Padre chamou a atenção para dois aspectos. O primeiro deles é o cansaço de espírito, que arrasta o homem para a incerteza permanente e a falta de paixão. “Procurar a verdade é cansativo, porque nos obriga a sair de nós próprios, a correr riscos, a fazer perguntas. Por isso, no cansaço do espírito, ficamos mais fascinados por uma vida superficial que não se põe demasiadas questões; tal como nos sentimos mais atraídos por uma ‘fé’ fácil, leve, confortável, que nunca questiona nada”, explicou.
O segundo ponto abordado por Francisco é o racionalismo sem alma. “Quando o homem se reduz apenas à matéria, quando a realidade se restringe aos limites do visível, quando a razão é apenas matemática e ‘laboratorial’”, sublinhou, “perde-se o espanto, aquele assombro interior que nos impele a procurar mais além, a olhar para o céu, a descobrir aquela verdade escondida”.
Alargar as fronteiras
Desta forma, o Papa exortou os professores a rezar a Deus pedindo que Ele alargue os territórios e fronteiras. É precisamente a limitação humana, pontuou, “que sempre os deve impulsionar, ajudando-os a conservar acesa a chama da investigação e a manter uma janela aberta para o mundo de hoje”.
O Pontífice então agradeceu aos presentes por realizarem este esforço, abrindo espaço para acolher tantos refugiados no país. “Enquanto alguns apelam ao reforço das fronteiras, cada um dos que aqui se encontram, como comunidade universitária, alarga as fronteiras, abre os braços para acolher estas pessoas marcadas pela dor, ajudando-as a estudar e a crescer”, observou.
Por fim, o Santo Padre reforçou a necessidade de uma cultura que alargue as fronteiras. “Sejam inquietos buscadores da verdade e nunca extingam a paixão, para não cederem à acídia do pensamento. Sejam protagonistas na criação de uma cultura de inclusão, de compaixão, de atenção para com os mais fracos e para com os grandes desafios do mundo em que vivemos”, concluiu.