Leonardo Meira
Da redação, com Rádio Vaticano
A Rádio Vaticano entrevistou o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, acerca da recém-concluída viagem de Bento XVI ao Reino Unido.
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O sacerdote jesuíta comentou a mudança de tom da mídia britânica em torno da figura do Santo Padre. “O Papa não quer ser um astro. […] Porém, certamente está feliz por ser conhecido e visto por aquilo que ele realmente é”, disse.
Lombardi também falou sobre os “serviços maravilhosos” que os mídia prestaram na cobertura da visita e o real interesse do Papa – “não impor, mas propor. Propor a mensagem da fé como algo positivo e propor reflexões para poder discernir, para poder compreender a situação em que estamos hoje como sociedade, como mundo, diante de grandes desafios de hoje e do futuro, a que valores podemos nos orientar, os riscos também de perder a orientação dos valores essenciais”, finaliza.
Leia a entrevista na íntegra
Rádio Vaticano: Voltamos a falar sobre a viagem do Papa ao Reino Unido. Pedimos ao diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé e da Rádio Vaticano que nos fizesse um balanço dessa viagem. Padre Lombardi, um balanço que podemos definir positivo?
Padre Federico Lombardi: Diria que sim, e diria que é positivo na perspectiva que interessa ao Papa, isto é, o fato de poder transmitir uma mensagem positiva em nome de Cristo, em nome da fé cristã e saber que esta mensagem chega aos ouvidos prontos para ouvi-la. Ao Papa não interessa muito os grandes números, mesmo que eles tenham ocorrido. O importante é o que podem manifestar, isto é, a escuta, a escuta da mensagem. Nós podemos estar muito tranquilos que efetivamente o que o Papa queria dizer nesta viagem, seja para a sociedade, seja para a comunidade católica, seja aos políticos, foi ouvido.
RV: Notamos, em particular, uma mudança radical no tom da mídia. Alguém falou de sucesso pessoal do Papa…
Lombardi: Sim. O Papa não quer ser um astro – e isso nós sabemos muito bem -, pois não corresponde à sua personalidade, ao seu ministério e ao seu desejo. Porém, certamente está feliz por ser conhecido e visto por aquilo que ele realmente é, como um servo do Senhor e também como pessoa, com a sua personalidade. O Papa não é somente um grande mestre, um homem de cultura, como todos sabem, mas é também um homem humilde, gentil, sensível, que quer se aproximar dos outros com uma profunda humanidade. Isso durante a viagem foi entendido por muitos, superando os que poderiam ter preconceitos contra ele ou uma falta de conhecimento.
Agora podemos dizer que os católicos ingleses, mas também a sociedade inglesa, conhece melhor o Papa por aquilo que realmente é e, portanto, o conhece como um amigo, como uma pessoa que foi levar uma mensagem positiva. Neste sentido, gostaria de evidenciar que a televisão fez um grande serviço, e uma televisão bem utilizada pode fazer grandes coisas. Muitas vezes nós criticamos a televisão, com razão, pelas muitas coisas que faz, mas, na realidade, ela também pode realizar serviços maravilhosos, como fez nesta viagem. Não só fazendo ver objetivamente quantas pessoas estavam presentes nos eventos ouvindo o Papa, mas também mostrando de perto o rosto e a pessoa do Santo Padre com suas atitudes. Acho que este é um dos grandes serviços que a televisão pode e deve fazer para aumentar o conhecimento da pessoa do Papa.
No passado, recordo a viagem à Turquia, foi precisamente decisiva – para fazer compreender a sua atitude amigável e de respeito pelo mundo muçulmano – a cobertura televisiva na Mesquita Azul. Nos Estados Unidos, as imagens televisivas do Papa na Quinta Avenida, seu sorriso, seu afeto pelo povo, a sua bondade, suscitaram o entusiasmo e – digamos – a amizade e a cordialidade do povo americano. Assim também foi no Reino Unido: as imagens da BBC e do pool de televisões que transmitiu tudo ajudaram as pessoas a compreender e mudar a opinião que tinha anteriormente do Papa e, portanto, podemos dizer, a amá-lo e a estar mais dispostos a ouvir corretamente a sua mensagem.
RV: O primeiro-ministro, na cerimônia de despedida, disse algo significativo: o Papa desafiou o país a pensar…
Lombardi: Eu diria que essa é verdadeiramente uma ótima conclusão da viagem e é muito real e bom que tenha sido dito pelo chefe de Governo e, portanto, uma das pessoas mais influentes na sociedade e na vida no Reino Unido. O Papa foi com este desejo: não impor, mas propor. Propor a mensagem da fé como algo positivo e propor reflexões para poder discernir, para poder compreender a situação em que estamos hoje como sociedade, como mundo, diante de grandes desafios de hoje e do futuro, a que valores podemos nos orientar, os riscos também de perder a orientação dos valores essenciais.
Essa é uma questão sobre a qual eu gostaria de insistir um pouco. O Papa tem sempre uma proposta que é fundamentalmente positiva, porque o Evangelho é uma proposta de salvação, de bem para a humanidade. Há sempre, no entanto, lealmente, a chamada de atenção para os riscos, para os problemas que a nossa sociedade e o nosso tempo vivem, o risco de perder as raízes, perdendo os pontos de orientação. O positivo, portanto, mas também a advertência para o perigo. Muitas vezes, esses alertas sobre os perigos são entendidos de modo polêmico, como algo agressivo, enquanto, ao invés, são realmente o resultado de uma profunda preocupação com o bem de todas as pessoas, homens e mulheres de hoje, da sociedade e do mundo.
Quando Cameron diz “a nossa sociedade, todo o Reino Unido, foi convidado e desafiado pelo Senhor para parar e pensar” significa que ele compreendeu exatamente isso: a mensagem do Papa merece ser levada a sério, para compreender qual é o bem que devemos buscar, o caminho que devemos procurar para o bem de nossa sociedade e da humanidade e não apenas a comunidade de crentes, mas também da sociedade em geral.