Bento XVI encontrou-se com expoentes da sociedade civil, do mundo acadêmico, cultural e do Corpo Diplomático e com os líderes religiosos na Westminster Hall, às 17h10min (13h10min em Brasília) desta sexta-feira, 17.
O Papa centrou seu discurso no lugar apropriado das crenças religiosas no processo político, lembrando São Tomás Morus, “admirado por crentes e não crentes pela integridade com que foi fiel à sua consciência, inclusive com o preço de contrariar ao soberano de quem era um ‘bom servidor’, pois elegeu servir primeiro a Deus”.
O Santo Padre ressaltou sua preocupação pela crescente marginalização da religião, especialmente do cristianismo, até mesmo em nações ditas tolerantes.
“O mundo da razão e o mundo da fé – o mundo da racionalidade secular e o mundo das crenças religiosas – necessitam um do outro e não deveriam ter medo de iniciar um diálogo profundo e contínuo, para o bem de nossa civilização. Em outra palavras, a religião não é um problema que os legisladores devam solucionar, mas uma contribuição vital para o debate nacional”, indicou.
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O Bispo de Roma salientou que o papel da religião no debate político não é tanto o de proporcionar normas objetivas para uma ação justa do governo, mas “ajudar a purificar e iluminar a aplicação da razão ao descobrimento dos princípios morais objetivos”.
Bento XVI aproveitou para lembrar que a tradição jurídica inglesa serve de base para os sistemas legais de muitos lugares do mundo, bem como a visão particular com relação aos direitos e deveres do Estado e das pessoas e a separação dos poderes.
Nesse sentido, destacou que a Doutrina Social da Igreja tem muito a ver com a perspectiva adotada pelas instituições políticas do Reino Unido, especialmente “em sua preocupação primordial com a proteção da dignidade única de toda a pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, e em sua ênfase nos deveres da autoridade civil para a promoção do bem comum”.
Ética e crise financeira
Acerca da fundamentação ética da vida civil, o Santo Padre afirmou: “Se os princípios éticos que sustentam o processo democrático não se regem por nada mais sólido que o mero consenso social, então esse processo apresenta-se evidentemente frágil. Aqui reside o verdadeiro desafio para a democracia”.
O Papa também falou que a recente crise financeira global “mostrou claramente a inadequação de soluções pragmáticas e a curto prazo relativas a complexos problemas sociais e éticos. É opinião amplamente compartilhada que a falta de uma base ética sólida na atividade econômica contribuiu para agravar as dificuldades que agora estão padecendo milhões de pessoas em todo o mundo”.
“Sou consciente do grande privilégio que me foi concedido de poder falar ao povo britânico e a seus representantes em Westminster Hall, um edifício de significado único na história civil e política do povo destas ilhas”, disse o Pontífice sobre a parte mais antiga do Palácio de Westminster, que foi construída em 1097 e, então, era a maior sala da Europa.
Após o encontro, Bento XVI dirigiu-se à Westminster Abbey, onde participou de uma Celebração Ecumênica com integrantes de diferentes confissões cristãs presentes no Reino Unido, especialmente anglicanos. Será o primeiro Papa a entrar na Abadia, que pertenceu aos monges beneditinos por mais de 600 anos e, após o cisma de 1534, tornou-se propriedade da Igreja Anglicana.
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