Sua Santidade, irmãos bispos, irmãos e irmãs em Cristo. É um prazer especial que nesta ocasião histórica sejamos capazes de unir bispos das igrejas Católica Romana e Anglicana neste país para cumprimentá-lo, Sua Santidade, durante uma visita que todos esperamos que seja significativa tanto para a Igreja de Cristo quanto para a Sociedade Britânica.
Sua consistente e penetrante análise do estado da sociedade europeia em geral tem sido uma importante contribuição para o debate público entre Igreja e cultura, e nós agradecidamente reconhecemos nosso débito a esse respeito.A nossa missão como bispos é pregar o Evangelho e pastorear o rebanho de Cristo; e isso inclui a responsabilidade não somente de alimentar, mas também de protegê-lo do perigo. Hoje, isso envolve a prontidão para responder às várias tendências em nosso cenário cultural que apresentam a fé cristã tanto como um obstáculo à liberdade humana quanto um escândalo para o intelecto.
Precisamos ter clareza de que o Evangelho da nova criação em Jesus Cristo é a porta pela qual entramos na verdadeira liberdade e no verdadeiro entendimento: tornamo-nos livres para sermos humano como Deus quer que sejamos humanos; é-nos dada a iluminação que nos ajuda a vermos uns aos outros e a todas as coisas criadas à luz do divino amor e inteligência. Como vós dissestes em vossa Missa Inaugural em 2005, recordando as primeiras palavras de vosso predecessor como Papa, Cristo não tira nada “que pertence à liberdade ou dignidade humana para a construção de uma sociedade justa […] Se deixarmos que Cristo entre em nossas vidas, não perdemos absolutamente nada do que faz a vida livre, bela e grande. Somente na amizade com Ele está revelado o grande potencial da existência humana” (Homilia Inaugural, Roma, 24 Abril 2005).
A nossa presença juntos como bispos ingleses aqui, hoje, é uma mostra do caminho que buscamos percorrer, neste país, nossa missão enquanto una e indivisível. A Comissão Internacional Anglicano-Católica sobre Unidade e Missão apresentou-nos a importância vital de nosso comum chamado enquanto bispos a sermos agentes de missão. Nosso oração fervorosa é para que essa visita nos dê uma renovada energia e visão para trabalharmos juntos neste contexto, em nome do que um grande pensador Romano Católico chamou no século passado de ‘verdadeiro humanismo’ – um compromisso apaixonado pela dignidade de todos os seres humanos, do início ao fim da vida, e uma resistência a toda a tirania que ameaça abafar ou negar o lugar do transcendente nos assuntos humanos.
Nós, enquanto igrejas, não buscamos o poder ou controle político, ou o domínio da fé cristã na esfera pública, mas a oportunidade de testemunhar, argumentar, algumas vezes para protestar, outras para afirmar – para desempenhar o nosso papel nos debates públicos das nossas sociedades. E devemos, claro, ser eficazes não quando tivermos reunido bastante influência política para atingir os nossos objetivo, mas quando tenhamos convencido nossos contemporâneos que a vida de fé é uma vida bem vivida e vivida com alegria.
Em outras palavras, devemos ser eficazes defensores ou arautos da nossa fé quando podemos mostrar o que é uma vida santa, uma vida em que a alegria de Deus está presente de forma transparente. E isso significa que o nosso ministério em conjunto, como bispos, apesar das fronteiras que ainda sobrevivem entre nossas confissões não é apenas uma busca sobre como melhor agir em conjunto na arena pública; antes, é uma busca conjunta pela santidade e transparência de Deus, busca das formas pelas quais podemos ajudar uns aos outros a crescer na vida no Espírito Santo. Como vós dissestes, Sua Santidade, “um fundamental testemunho comum de fé deve ser dado diante de um mundo dilacerado por dúvidas e abalado por temores” (“Lutero e a unidade das igrejas”, 1983].
Em 1845, quando John Henry Newman finalmente decidiu que deveria seguir sua consciência e buscar seu futuro servindo a Deus em comunhão com a Sé de Roma, um de seus mais íntimos amigos e aliados anglicanos, o presbítero Edward Bouverie Pusey, cuja memória a Igreja da Inglaterra marcou em seu calendário litúrgico ontem, escreveu uma meditação no sentido desta “despedida de amigos”, em que ele disse sobre a separação entre anglicanos e católicos romanos: “é o que existe de profano em ambos os lados que nos separa”.
Isso não deveria nos surpreender: santidade é a mais simples comunhão com Cristo, e quando essa comunhão com Cristo é trazida à maturidade, assim é a nossa comunhão com o outro. Enquanto bispos, somos servos da unidade do povo de Cristo, do único Corpo de Cristo. E, como somos bispos integrantes de comunidades eclesiais separadas, devemos todos sentir que cada um de nossos próprios ministérios é menos fecundo pelo fato de nossa divisão, nessa real mas imperfeita comunhão. Talvez não será rápido ultrapassarmos os obstáculos para a plena e restabelecida comunhão; mas sem obstáculos no caminho da nossa procura, como uma questão de alegre obediência ao Senhor, há mais maneiras para construirmo-nos uns aos outros em santidade pela oração e celebração pública em conjunto, mais amizade, através do crescimento juntos no desafiador trabalho de serviço para todos aqueles a quem Cristo ama, e a missão de tudo o que Deus fez.
Que esta visita histórica seja para todos nós um tempo especial de graça e crescimento em nossa vocação comum, enquanto vós, Sua Santidade, traz-nos a renovada palavra do Evangelho.
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