Palavra do Papa

Discurso de Bento XVI aos estudantes em Londres

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,
Queridos jovens.
Quero manifestar, em primeiro lugar, a minha alegria por estar convosco aqui hoje. Saúdo com carinho a todos vós que tendes vindo à Saint Mary’s University College das diversas escolas e colégios católicos de todo o Reino Unido, e aos que acompanham este encontro através da televisão ou Internet. Agradeço ao Bispo McMahon sua amável boas-vindas. Agradeço também ao coro e à orquestra pela bela música que deu início a essa nossa celebração, e igualmente desejo expressar minha gratidão à senhorita Bellot pelas amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos os jovens aqui presentes. Com vistas aos próximos Jogos Olímpicos em Londres, foi um prazer inaugurar esta fundação desportiva, intitulada em honra ao Papa João Paulo II, e rezo para que todos que venham aqui deem glória a Deus com suas atividades desportivas e encontrem benefícios para si mesmos e os demais.

Não é frequente que um Papa – na verdade, nem mesmo qualquer outra pessoa – tenha a oportunidade de falar ao mesmo tempo com os estudantes de todas as escolas católicas da Inglaterra, Gales e Escócia. E como eu tenho essa oportunidade, há algo que está muito forte em meu coração para dizer-vos. Tenho a esperança que entre vós, que hoje estais aqui para ouvir-me, haja alguns dos futuros santos do século XXI. O que Deus mais quer para cada um de vós é que vos torneis santos. Ele vos ama muito mais que possais imaginar e deseja o melhor para vós. E a melhor coisa de todas para vós é, de longe, o crescer em santidade.

Talvez alguns de vós jamais tivésseis pensado nisso antes de agora. Talvez alguns pensem que ser santo não seja para si. Deixai-me explicar o que quero dizer. Quando se é jovem, pensamos geralmente em pessoas que estimamos e admiramos, pessoas às quais desejamos nos assemelhar. Poderia tratar-se de alguém que encontramos na nossa vida cotidiana e por quem tenhamos grande estima. Ou poderia ser alguém famoso. Vivemos em uma cultura da celebridade, e os jovens, muitas vezes, são incentivados a ter como modelo figuras do mundo do esporte ou do espetáculo. Desejo fazer-vos esta pergunta: Quais são as qualidades que vedes nos outros e que vós mesmos mais desejaríeis possuir? Qual tipo de pessoa desejaríeis ser de verdade?

Quando vos convido a tornar-vos santos, estou pedindo-vos que não vos contenteis com escolhas de segunda mão. Estou pedindo-vos que não persigam um objetivo limitado, ignorando todos os outros. Ter dinheiro torna possível sermos generosos e fazer o bem no mundo, mas, por si só, não é suficiente para fazer-vos felizes. Ser altamente qualificado em alguma atividade ou profissão é uma coisa boa, mas não poderá nunca satisfazê-los a ponto de dispensar a aspiração por algo ainda maior. Poderá tornar-nos famosos, mas não nos fará felizes. A felicidade é algo que todos desejamos, mas uma das grandes tragédias deste mundo é que muitas pessoas nunca conseguem encontrá-la, porque a procuram nos lugares errados. A solução é muito simples: a verdadeira felicidade é encontrada em Deus. Precisamos ter a coragem de colocar as nossas esperanças mais profundas somente em Deus: não no dinheiro, numa carreira, no sucesso mundano, ou nas nossas relações com os outros, mas em Deus. Somente Ele pode satisfazer as necessidades mais profundas do nosso coração.

Deus não somente nos ama com uma profundidade e intensidade que dificilmente podemos imaginar: Ele convida-nos a responder a esse amor. Todos vós sabeis o que acontece quando encontrais alguém interessante e atraente, como desejaríeis serem amigos daquela pessoa. Esperais sempre que aquela pessoa considere-vos interessantes e atraentes e deseje fazer amizade convosco. Deus deseja a vossa amizade. E, uma vez que vós tenhais entrado na amizade com Deus, tudo na vossa vida começa a mudar. À medida que O conhecereis melhor, percebereis o desejo de refletir na vossa própria vida algo de Sua infinita bondade. Sereis atraídos pela prática da virtude. Começareis a ver a ganância e o egoísmo, e todos os outros pecados, como eles realmente são, tendências destrutivas e perigosas que causam profundo sofrimento e grande dano, e desejareis evitar cair naquelas armadilhas. Começareis a sentir compaixão por aqueles que estão em dificuldade e desejareis fazer algo para ajudá-los. Desejareis ajudar os pobres e famintos, confortar o sofredor, serem bons e generosos. Quando essas coisas começarem a estar em vossos corações, estareis já plenamente encaminhados na via da santidade.

Há sempre um horizonte maior, nas vossas escolas católicas, acima e para além dos temas específicos do vosso estudo e das várias capacidades que aprendeis. Todo o trabalho que fazeis está inserido no contexto do crescimento na amizade com Deus, e daquela amizade deve partir todo o trabalho. Desse modo, aprendeis não somente a ser bons estudantes, mas bons cidadãos e boas pessoas. Enquanto prosseguíeis com o percurso escolar, deveis tomar a decisão sobre o que estudar, e começar a especializar-vos frente ao que fareis na vida. Isso é justo e conveniente. Mas lembrai-vos sempre que toda a matéria que estudais se insere em um horizonte mais amplo. Não vos reduzíeis jamais a um horizonte restrito. O mundo precisa de bons cientistas, mas uma perspectiva científica tornada perigosamente estreita ignora a dimensão ética e religiosa da vida, assim como quando a religião torna-se estreita, rejeita-se a legítima contribuição da ciência à nossa compreensão do mundo. Precisamos de bons historiadores, filósofos e economistas, mas se a percepção que oferecem da vida humana no interior do seu campo específico é centrada em uma perspectiva demasiado estreita, podem seriamente levar-nos à perdição.

Uma boa escola oferece uma formação completa para a pessoa inteira. E uma boa escola católica, acima e para além desse aspecto, deveria ajudar os seus estudantes a tornarem-se santos. Sei que há muitos não católicos que estudam em escolas católicas na Grã-Bretanha e desejo dirigir-me a vós com minhas palavras de hoje. Rezo para que também vós sejais encorajados a praticar a virtude e crescer na consciência e amizade com Deus, juntamente com seus companheiros católicos. Vós sois para eles a lembrança de um horizonte mais amplo que existe fora da escola e, sem sombra de dúvidas, o respeito e a amizade entre os membros de diferentes tradições religiosas deve estar entre as virtudes que são aprendidas em uma escola católica. Espero também que desejeis compartilhar com outros os valores e ensinamentos aprendidos através da formação cristã recebida.

Queridos amigos, agradeço-vos pela vossa atenção, prometo que rezarei por vós e peço-vos que rezeis por mim. Espero ver muitos de vós em agosto próximo na Jornada Mundial da Juventude, em Madri. Nesse meio tempo, que Deus abençoe a todos vós!



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