Balanço da visita a Portugal

"Papa foi peregrino com o povo", explica porta-voz do Vaticano

O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, padre Federico Lombardi, concedeu uma entrevista à Rádio Vaticano da Itália, em que fez um balanço e destacou as principais características da viagem apostólica de Bento XVI a Portugal.Lombardi ressalta sinais evidentes da vontade da Igreja em dialogar com o mundo contemporânero, as colocações do Papa acerca do mistério de Fátima e as demonstrações de afeto dos fiéis pelo Pontífice.A seguir, confira a entrevista na íntegra

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Padre Lombardi: Um balanço certamente positivo, diria também que superior à expectativa. Podemos dizer que foi uma viagem que se desenvolveu muito bem, e podemos também dizer que foi uma viagem maravilhosa. O acolhimento foi bastante amplo, caloroso, foi também superior às expectativas dos organizadores.

O Papa ficou impressionado, muito feliz e confortado. Pôde viver esta viagem nas melhores condições e como tempo também de grande experiência espiritual de oração com o Povo de Deus, no ponto culminante que foi evidentemente aquele das celebrações em Fátima. O Papa pôde dar as grandes mensagens que eram esperadas e também – em um certo sentido – requisitadas, e que eram expectativas da Igreja portuguesa.

O encontro com o mundo da cultura, com o mundo do empenho social, o encontro com os sacerdotes eram encontros de importância estratégica para a presença da Igreja em Portugal e, por isso, havia uma grandíssima expectativa. Me confirmaram isso os bispos, ontem (sexta-feira, 14), que a presença do mundo da cultura no encontro em Lisboa era verdadeiramente total. Foi, então, um encontro de grandíssimo significado, diria de significado histórico e que indica a vontade da Igreja de dialogar de modo construtivo com todos aqueles que buscam, se empenham no mundo do pensamento, da pesquisa, da arte, da criatividade. São coisas, essas, que permanecerão certamente para a Igreja portuguesa. Sobretudo com o momento de Fátima, cujo olhar também se alarga sobre a Europa e o mundo, porque Fátima é um lugar que assumiu realmente um significado para a Igreja universal, como momento de encontro e – em um certo sentido – de comunicação entre o céu e a terra, entre a presença de Deus na nossa história e a busca de salvação do povo e o desejo de empenho na história por parte da Igreja com base na conversão, penitência, oração, renovação espiritual. Esse é um discurso que naturalmente vale para todos e que foi escutado também para muito afora dos confins de Portugal.

Pergunta: O Papa foi a Fátima para dizer que o amor de Jesus e por Jesus é a coisa mais importante: tudo parte disso e a Igreja anuncia e propõe – não impõe – esse amor, em diálogo com o mundo…

Padre Lombardi: Certamente o Papa volta sempre aos pontos essenciais, aos fundamentos da missão da Igreja e de sua mensagem. E certamente esse amor por jesus foi expresso em particular na homilia em Fátima de um modo muito intenso, portado também pelo grande clima de espiritualidade, afeto, amor que se sentiu naquela imensa assembleia que chegou de diversas partes do mundo e, em um certo sentido, parecia mais convocada pelo Alto que pelos homens. O Papa fez-se peregrino com esse povo que responde a um chamado que vem através de Maria e que leva naturalmente ao centro da nossa fé e, então, ao amor do Filho de Deus, ao acolhimento da Revelação. Nessa história concreta, através de eventos belos e tristes, às vezes dramáticos em nosso tempo, sentimos que continua a estar presente a graça de Deus por nós e que, então, vale a pena continuar a empenhar-se, a esperar, propriamente a partir das atitudes fundamentais que a fé nos inspira, aquelas da caridade e do amor pelos outros. Uma mensagem, então, que está inserida na história e que olha o horizonte com esperança.
Pergunta: Uma das frases do Papa que mais surpreenderam é que se ilude quem crê que a profecia de Fátima esteja concluída, O que desejava dizer o Papa?
 
Padre Lombardi: O Papa desejou dizer uma coisa muito simples, qual seja, que não devemos esperar mais de Fátima e de tudo quanto foi dito aos pastorinhos, videntes, na profecia o sentido de eventos concretos no que diz respeito aos próximos anos ou ao próximo século. Isso não está em questão. A profecia de Fátima, na perspectiva do Papa, que deve ser pois a nossa perspectiva, significa ter aprendido a ler os acontecimento da nossa história, o caminho da Igreja com as suas dificuldades e esperanças na luz da fé, isto é, sob o olhar de Deus, que segue a Igreja e a humanidade em caminho, opera com a sua graça para acompanhar aqueles que se voltam a Ele e nos convida a empenhar-nos nessa história a partir da conversão de nós mesmos para agir segundo os critérios do Evangelho.

A profecia entendida como leitura da realidade humana e da história humana, isso é característico de Fátima, nos ensinou a olhar não somente a nossa vida pessoal, mas á vida da Igreja e da humanidade no contexto da história, sob a luz de Deus, de seu amor e com o empenho a converter-nos,a  tornar-nos testemunhas sempre mais fiéis do amor de Deus no mundo em que vivemos e na nossa história.

Essa é uma mensagem profética que continua a ser de grande atualidade e o será no futuro.
Pergunta: Sempre falando do segredo de Fátima, o Papa disse que a grande perseguição da Igreja não vem de inimigos esternos, mas do próprio pecado do interior da Igreja…
 
Padre Lombardi: Sim, isso é o que ele explicou com palavras extremamente eficazes na sua conversação durante o voo rumo a Portugal. Fez compreender que os sofrimentos, as dificuldades que a Igreja encontra, também com evidente referência às situações dos meses recentes ou desses anos, em que a Igreja teve tantas dificuldades por consequência do pecado de seus membros – uma referência exatamente aos abusos sexuais – são algo de que a Igreja porta em si: leva em si infelizmente também a realidade do pecado. E é exatamente por isso que a mensagem de Fátima é extremamente atual e importante, porque nos fala de conversão, penitência, para renovar-nos de tal modo que o nosso testemunho seja coerente. Então, no contexto de uma leitura mais ampla do significado do evento de Fátima, de um ponto de vista espiritual, não é preciso pensar somente nas perseguições que vêm de fora, que certamente são responsáveis por uma grande parte dos sofrimentos e dificuldades da Igreja, por exemplo ao longo do século passado, e que também agora continuam e continuarão a serem exercidas, mas o Papa fez notar que os sofrimentos e as dificuldades da Igreja vêm também, de modo particular, do nosso interior, do nosso ser pecadores, e por isso a mensagem de conversão e penitência tem uma particular atualidade e importância. Isso me parece verdadeiramente muito bonito, muito importante, isto é, como o Papa foi capaz de inserir a temática que nos aflige nesses últimos meses a propósito dos abusos contra menores em uma perspectiva espiritual muito ampla. Então, reconhecendo a gravidade, mas inserindo-a na condição da Igreja no mundo, da Igreja diante de Deus e do seu caminho, que deve ser sempre de purificação, de renovação.

E isso foi inserido, diria, com muita naturalidade, exatamente na condição da Igreja peregrina, e então foi dada ocasião a todos aqueles que estavam em Fátima, mas também a toda a Igreja, de orar intensamente, de cultivar um espírito de renovação e de conversão exatamente para sermos testemunhas mais límpidas e eficazes para o mundo de hoje e de amanhã.

Pergunta: Também nessa ocasião o Papa sentiu o grande afeto das pessoas…
 
Padre Lombardi: Sim, o sentiu verdadeiramente de um modo excepcional. E não é a primeira vez, Também na viagem a Malta, embora de dimensões mais limitadas por ser um País menor, também na viagem a Turim, mas em particular nesta viagem mais ampla, prolongada, que deu lugar a verdadeiramente grandes massas, a um grande número de pessoas presentes.

Nós sabemos que no coração de muitos mais, que não puderam ir fisicamente par encontrar o Papa, mas que lhe seguiram e desejaram bem. De qualquer modo, foi uma grande presença e um sinal eficaz de afeto. O Papa ficou certamente muito agradecido e diria que foi um fato que demonstrou também a vitalidade da Igreja, da fé simples mas viva da Igreja portuguesa e, então, um grande sinal de esperança para a Igreja que caminha.

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