Agradeço a Sua Beatitude Crisóstomo II pelas amáveis palavras de boas-vindas, Sua Eminência Giorgio, Metropolita de Paphos, que nos acolhe, e todos aqueles que se empenharam para tornar possível este encontro. Me é caro, também, saudar cordialmente os cristãos de outras confissões aqui presentes, inclusive aqueles que pertencem à comunidade armena, luterana e anglicana.
Na verdade, é uma graça extraordinária para nós estarmos unidos em oração nesta igreja de Agia Kiriakì Chrysopolitissa [Igreja da Santíssima Senhora Recoberta de Ouro]. Acabamos de ouvir a leitura dos Atos dos Apóstolos, que nos lembrou como o Chipre foi a primeira etapa da viagem missionária do Apóstolo Paulo (cf. At 13, 1-4). Reservados para si pelo Espírito Santo, Paulo, juntamente com Barnabé, natural do Chipre, e Marcos, o futuro evangelista, chegam em primeiro lugar a Salamina, onde começaram a proclamar a palavra de Deus nas sinagogas. Do outro lado da ilha, chegaram a Paphos, onde, muito perto deste lugar, pregaram na presença do procônsul romano Sérgio Paulo. Foi então que a mensagem do Evangelho começou a se espalhar por todo o império e a Igreja, fundada sobre a pregação apostólica, foi capaz de plantar raízes em todo o mundo então conhecido.
A Igreja no Chipre pode justamente orgulhar-se de sua conexão direta com a pregação de Paulo, Barnabé e Marcos e da comunhão na fé apostólica, que a liga a todas as igrejas que possuem a mesma regra da fé. Esta é a comunhão, real, embora imperfeita, que já agora nos une, e que nos impele a superar as nossas divisões e a lutar para restabelecer aquela plena unidade visível, que é desejada pelo Senhor para todos os seus seguidores. Uma vez que, nas palavras de Paulo, “há um só corpo e um só Espírito, como uma só é a esperança à qual fostes chamados, aquela de vossa vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 4-5).
A comunhão eclesial na fé apostólica é simultaneamente um dom e um chamado à missão. Na passagem dos Atos que ouvimos, vemos uma imagem da unidade da Igreja na oração, na abertura às forças do Espírito à missão. Como Paulo e Barnabé, todo o cristão, mediante o batismo, é “reservado” porque leva testemunho profético do Senhor ressuscitado e ao seu Evangelho de reconciliação, misericórdia e paz. Neste contexto, a Assembleia Especial para o Oriente Médio do Sínodo dos Bispos, que se reunirá em Roma no próximo mês de Outubro, refletirá sobre o papel vital dos cristãos na região, lhes encorajará no testemunho do Evangelho e lhes ajudará a promover um maior diálogo e cooperação entre os cristãos em toda a região. Significativamente, os trabalhos do Sínodo serão enriquecidos pela presença de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades cristãs da região, como sinal do empenho comum no serviço da Palavra de Deus e da nossa abertura ao poder da sua Graça que reconcilia.
A unidade de todos os discípulos de Cristo é um dom a se implorar do Pai, na esperança de que Ele reforce o testemunho do Evangelho no mundo de hoje. O Senhor rezou pela santidade e unidade dos seus discípulos para que o mundo creia (cf. Jo 17, 21). Justamente há cem anos atrás, na Conferência Missionária de Edimburgo, a aguda consciência de que as divisões entre os cristãos eram um obstáculo à difusão do Evangelho deram origem ao movimento ecumênico moderno. Hoje, devemos ser gratos ao Senhor, que, através de seu Espírito, nos levou – especialmente nas últimas décadas – a redescobrir a rica herança apostólica compartilhada entre Oriente e Ocidente, e, através de um diálogo sincero e paciente, a encontrar formas de aproximarmo-nos uns dos outros, superando as controvérsias do passado e olhando para um futuro melhor.
A Igreja no Chipre, que se mostra como uma ponte entre Oriente e Ocidente, contribuiu muito neste processo de reconciliação. A estrada que conduz ao objetivo da plena comunhão não será, certamente, privada de dificuldades, mas a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa no Chipre estão empenhadas em avançar no caminho do diálogo e da cooperação fraterna. Possa o Espírito Santo iluminar as nossas mentes e robustecer a nossa determinação, para que, juntos, possamos levar a mensagem da salvação aos homens e mulheres do nosso tempo, que estão sedentos daquela verdade que leva liberdade autêntica e salvação (cf. Jo 8, 32), a verdade cujo nome é Jesus Cristo!
Queridos irmãos e irmãs, eu não posso terminar sem evocar a memória dos santos que adornaram a Igreja no Chipre, em especial Santo Epifânio, bispo de Salamina. A santidade é o sinal da plenitude da vida cristã, uma profunda docilidade interior ao Espírito Santo que nos chama a uma conversão e a uma renovação constante, enquanto nos esforçamos para ser cada vez mais conformados a Cristo, nosso Salvador. Conversão e santidade são também os meios privilegiados mediante os quais abrirmos as mentes e corações à vontade do Senhor para a unidade da sua Igreja. Enquanto rendemos graças pelo encontro de hoje e pelo fraterno afeto que nos une, paçamos aos santos Bárbara e Epifânio, aos santos Pedro e Paulo, e a todos os santos de Deus, que abençoem as nossas comunidades, para conservar-nos na fé dos Apóstolos, e para guiar os nossos passos no caminho da unidade, da caridade e da paz.