Além de se encontrar com os detentos, Francisco almoçará com eles na prisão de Montorio, num encontro que está marcado para este sábado, 18
Da redação, com Vatican News
Um presente extraordinário para ser guardado no coração: o senso de dignidade, que muitos, quando entram em detenção, acham que não têm mais ou que não podem recuperar, uma perspectiva que o mundo exterior muitas vezes lhes nega. Essa é a “revolução” que o Papa trará para a prisão de Verona, de acordo com o frei Paolo Crivelli, da Fraternidade Franciscana de Betânia, capelão da prisão de Montorio há poucos meses: “Outro presente que Francisco dará aos detentos com a sua visita será a esperança de olhar para além da prisão, onde há um tempo e um espaço para mudar, um futuro no qual investir”, explica o religioso à Rádio Vaticano-Vatican News, relatando o clima de entusiasmo e alegria que está sendo vivido lá dentro nestes dias que antecedem a visita do Santo Padre: “Os detentos são desconfiados por natureza, porque receberam muitas decepções”, ressalta, “mas agora que perceberam que o Papa realmente virá até eles, estão muito felizes”.
“Por que eles e não eu?”
O que o Papa Francisco faz a si mesmo toda vez que cruza o portão de uma instituição penal é uma pergunta importante, na verdade é a pergunta por excelência, e também com essa visita a Montorio vem para desfazer o preconceito que enfatiza a separação entre o interior e o exterior, entre o mundo dos bons e dos maus: “Aqueles que têm autoconsciência e consciência de suas próprias vidas sabem que essa pergunta que o Papa faz é verdadeira”, continua o frei Paolo, “a visão dicotômica entre bons e maus serve apenas para acalmar a consciência, mas é profundamente equivocada. Na prisão, encontro constantemente pessoas com uma extraordinária riqueza interior. Esse é o objetivo: ver as pessoas, não o crime cometido”.
Trabalho e esperança
A maior dificuldade que um capelão encontra em sua missão é levar a esperança “para dentro”, de acordo com o franciscano: “Mas é também o tema sobre o qual mais nos concentramos”, ressalta, “é difícil porque muitas vezes a sentença não termina quando a detenção acaba, mas continua, por exemplo, nos olhares certamente não benevolentes da sociedade”. A receita contra o preconceito, segundo o capelão, é construir um projeto de vida que leve a uma mudança real, depois que o recluso sair da prisão: “O trabalho também é muito importante por outro motivo: preenche o tempo vazio; esse fluxo de tempo que às vezes parece interminável, para os prisioneiros é a maior dor”. E do trabalho profissionalizante que é feito em Montorio surgiram sinais claros para a visita do Papa: itens de decoração da Arena da Paz, por exemplo, foram produzidos na oficina de carpintaria dentro da prisão, assim como os tecidos para os assentos foram costurados na alfaiataria do cárcere.
Perdão, justiça restauradora
Toda a visita do Papa a Verona será marcada pela expressão extraída do Salmo 85 “A justiça e a paz se beijarão”, que deriva da experiência humana do perdão, necessária ao homem e fundamental na história da salvação. “Na prisão, o perdão é um conceito difícil”, ressalta o capelão, “para os detentos é complicado entender que podem ser perdoados, mas, por outro lado, também é difícil perdoar”. Quanto ao paradigma da justiça restauradora, ainda não é aplicado em todas as instituições penais para adultos porque não há legislação específica sobre o assunto.
A convivência entre diferentes religiões
Como costuma acontecer em muitas instituições penais italianas, muitos detentos são estrangeiros e pertencem a outras culturas, falam outro idioma e professam outra fé religiosa. Montorio não é exceção: “Aqui, 50% dos detentos são de fé islâmica, e também temos cristãos evangélicos, ortodoxos e testemunhas de Jeová”, diz o franciscano. “Vivemos isso como uma dimensão natural, não são as diferenças religiosas que nos separam. Estou à disposição de todos, encontro quem quiser me encontrar, independentemente da fé”. Todos os prisioneiros, de fato, se sentarão à mesa com o Papa no sábado, para o almoço preparado no salão da capela: “Isso certamente criará um ambiente familiar, pacífico e sereno, no qual Francisco poderá encontrar os prisioneiros pessoalmente e ouvir suas histórias” conclui frei Paolo. “Tenho certeza de que o Papa dedicará seu tempo para conversar com eles e tenho a mesma certeza de que o encontro com o Santo Padre deixará marcas emocionais importantes em todos os detentos”.