Representantes das igrejas ortodoxa, anglicana, presbiteriana e católica comentam o cenário da perseguição aos cristãos e defendem, uma vez mais, o ecumenismo
Jéssica Marçal
Da Redação
Nesta quinta-feira, 6, cristãos de todo o mundo foram convidados a rezar pelos cristãos que sofrem com a perseguição no Oriente Médio. Diante da situação de violência perpetrada por grupos extremistas principalmente nessa região, líderes cristãos são unânimes em defender a unidade e a solidariedade para apoiar, de alguma forma, os mártires dos tempos atuais.
O Papa Francisco tem sido enfático toda vez que se pronuncia sobre o assunto. Em diversas ocasiões ele mencionou o chamado “ecumenismo de sangue”, que é a unidade dos cristãos através do sangue derramado por muitos fiéis por não negarem a fé em Cristo, independente da postura doutrinal.
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“Homens, mulheres, crianças, clérigos, leigos estão sendo mortos não por suas diferenças doutrinais, disciplinares ou teológicas, mas porque não negam Jesus Cristo e esse não negar Jesus Cristo nos força a nos olharmos como irmãos de um mesmo sangue derramado e que carregam a mesma cruz”, explica o coordenador da Comissão de Comunicação da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil, diácono Pablo Nasrani Neves.
Moderador da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, o presbítero Wertson Brasil lamenta que, para ter uma certa unidade, seja preciso que os cristãos sejam mortos mundo afora. Porém, ele considera que esse momento atual é uma boa oportunidade de reflexão sobre a realidade da perseguição em evidência nos últimos anos.
Postura semelhante a essa é a do bispo de Barra do Piraí – Volta Redonda (RJ), Dom Francisco Biasin. O bispo católico afirma que não se pode esperar a perseguição para que haja unidade, mas esse é um cenário que pode ajudar na superação das diferenças que causam a separação.
“Eu creio que o ecumenismo de sangue, de martírio, ajude as igrejas a superar justamente as divergências, encontrando, no derramamento de sangue, na doação de sua vida, o caminho-mestre no seguimento de Jesus, Ele que primeiro deu a vida por nós” .
O secretário-geral da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Reverendo Arthur Cavalcante, destaca que há unidade entre as igrejas cristãs em muitas questões, como aquelas relacionadas à vida e à dignidade do ser humano. Trata-se, portanto, de valores universais independentes da corrente cristã, algo que está presente no DNA dessas Igrejas.
“É interessante que, quando nos envolvemos com essas temáticas, parece que as nossas diferenças ficam muito pequenas e conseguimos transitar nos ambientes de nossas igrejas com mais facilidade, com menos preconceitos e isso é muito saudável”.
Postura diante da perseguição
Líderes cristãos em várias partes do mundo têm condenado a perseguição que os cristãos estão sofrendo. Diante dessa realidade, o reverendo Arthur comenta a necessidade de pronunciamento por parte das Igrejas, em especial das lideranças pastorais.
“As igrejas não devem se sentir acuadas, elas precisam avançar, reafirmar os seus compromissos e fazer a denúncia da perseguição como algo que não se deve conceber na humanidade, nem com elas e nem com outros grupos religiosos, inclusive fora do cristianismo”.
O diácono Pablo, da Igreja ortodoxa, mencionou a necessidade de pedir o consolo de Deus para todas as famílias que precisam abandonar os seus lares e enterrar os entes queridos que foram mortos. “Rezem por essas famílias que estão agora desoladas, que não têm mais perspectiva alguma de voltar para a sua terra, de viver a sua vida”.
E para além da oração e do papel das Igrejas, o presbítero Wertson defende a participação também dos governantes na busca da solução para o problema.
“Nós temos orado, nós temos buscado nos congregar, temos colocado a lista dos perseguidos para intercessão em nossas Igrejas, em nossas comunidades, mas é importante uma ação articulada entre essas grandes lideranças das Igrejas mundiais, o Conselho Mundial de Igrejas, o Conselho Mundial de Igrejas Reformadas e o Vaticano no sentido de fazer essa pressão sim junto aos governantes, junto às embaixadas para acabar, para estancar essa perseguição que é injustificada”.
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