Ano Santo

Peregrinar é próprio de quem busca sentido da vida, explica padre

Peregrinação é uma palavra e uma ação bastante atual no contexto do Ano Jubilar; este é um ato que sempre fez parte da história do povo de Deus

Kelen Galvan
Da redação

Peregrinar favorece muito a redescoberta do valor do silêncio, do esforço, da essencialidade, explica Padre Mário Marcelo / Foto: Larissa Ferreira – CN

Peregrinar é o ato de pôr-se a caminho e percorrer uma jornada de fé a um local considerado sagrado. Desde os primeiros séculos do Cristianismo há relatos de peregrinações à Terra Santa, mais tarde, a Roma, e hoje em dia a tantos santuários e locais de devoção espalhados pelo mundo.

Em um Ano Jubilar, a peregrinação representa um elemento-chave, como indica a bula papal “Spes non confundit”, referente ao Jubileu Ordinário de 2025: “Não é por acaso que a peregrinação representa um elemento fundamental de todo o evento jubilar. Pôr-se a caminho é típico de quem anda à procura do sentido da vida” (cf. n.5)

O doutor em Teologia, Padre Mário Marcelo Coelho, SCJ, destaca que a peregrinação tem um sentido e se caracteriza como o começo de uma viagem. “O ponto de partida é a decisão de fazê-la. A peregrinação a pé, por exemplo, favorece muito a redescoberta do valor do silêncio, do esforço, da essencialidade (…) Quando eu me coloco em peregrinação rumo àquela igreja jubilar, estou me colocando em uma atitude de quem quer fazer um caminho de fé, de esperança, um caminho com o Senhor, mas, sobretudo, um caminho que começa com o sacramento da reconciliação. E isso é um ponto essencial do ano jubilar: a reconciliação e conversão”, afirma.

Padre Mário Marcelo Coelho, SCJ, em visita ao Vaticano / Foto: Arquivo Pessoal

O sacerdote destaca que a peregrinação é importante porque ela tira a pessoa de sua zona de conforto. “Ela nos tira de nós mesmos, nos desestabiliza e nos coloca a caminhar. Eu vejo isso com os reis magos, que foram capazes de deixar uma vida cômoda, fizeram uma peregrinação e encontraram o Menino Jesus. É preciso desinstalar-se. É alguém que busca um sentido para a própria vida”.

Peregrinos neste mundo

Peregrinar é uma atitude constante na vida do Povo de Deus. Tanto a Igreja é peregrina quanto cada pessoa vive sua peregrinação terrena rumo ao Reino de Deus.

Padre Mário enfatiza que “a nossa terra definitiva não é este mundo”. “Nós estamos neste mundo e devemos viver bem, porque Deus nos colocou aqui, mas sempre com uma consciência: a terra definitiva do cristão, de quem tem fé, é o Reino dos Céus. Somos peregrinos neste mundo. Caminhamos nessa expectativa de um dia contemplarmos Deus face a face”

O sacerdote da Comunidade Canção Nova, Padre Willian Guimarães, complementa que esta peregrinação tem um sentido de conversão, desapego e eternidade. “É uma ocasião para recordar nosso encontro definitivo com Deus na Pátria celeste e vivermos neste mundo como peregrinos e viajantes. Deus nos criou para o Céu, para a comunhão eterna com Ele no paraíso. Cada um deve viver neste mundo com justiça, piedade e santidade, sem se apegar às coisas deste mundo. Este é o sentido mais estrito e profundo de ‘ser peregrino’”, aponta.

Padre Mário reforça que é preciso ter os pés no chão, mas um olhar para o alto. “É uma igreja peregrina, que caminha e dá sentido ao seu caminho, mas tendo essa certeza que a nossa parada final é no Reino dos Céus”.

Padre Willian Guimarâes, Comunidade Canção Nova / Foto: Arquivo Pessoal

De forma prática, Padre Willian indica que para trilhar esse caminho de peregrinação rumo à Vida Eterna, é preciso centrar-se na comunhão com Deus, sobretudo na oração e vida sacramental. “Além disso, buscar uma vida de conversão e cultivar as virtudes são meios indispensáveis para alcançar com segurança o Prêmio eterno”.

Visão bíblica

Na Bíblia, há muitas passagens que descrevem peregrinações. A primeira é contada já no livro de Gênesis 12, 1-4, quando Abraão foi chamado por Deus a deixar sua terra natal e deslocar-se rumo à terra prometida. Também o livro de Êxodo (capítulo 12 e seguintes) narra quando Moisés conduziu o povo desde a libertação da escravidão do Egito até chegar à Terra Prometida.

“Havia uma promessa que suscitou a esperança e colocou esses homens a caminho. Eles tinham certeza que estavam indo ao encontro com o Senhor”, enfatiza.

O Novo Testamento narra também a peregrinação de Maria e José até Jerusalém, para a festa da Páscoa (cf. Lc 2, 41ss). “Como bons religiosos, eles também fizeram a peregrinação. Tanto é que eles levaram Jesus ali quando tinha mais ou menos 12 anos de idade”, lembra padre Mário Marcelo. O sacerdote explica que era costume do povo judeu fazer peregrinações. “Todos eles tinham que fazer peregrinação pelo menos uma vez ao ano até o templo em Jerusalém”, indica.

Padre Mário destaca que o próprio ministério de Jesus é identificado como a peregrinação da Galileia para a cidade de Jerusalém.

“Em todo momento Jesus estava caminhando. Então, quando se completaram os dias de sua elevação, Jesus tomou a decisão de partir para Jerusalém (cf. Lc 9, 51). Veja, ele dá um sentido e uma motivação para a peregrinação”, aponta.

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