Na homilia da missa do Jubileu das Forças Armadas, Francisco confiou os esforços das Forças Armadas a Cristo, lembrando que recorrer a Ele é uma fonte de força
Da redação, com Vatican News
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Papa Franciso durante a missa do Jubileu das Forças Armadas / Foto: Joyce Mesquita – CN
“Sejam testemunhas corajosas do amor de Deus, nosso Pai…”
O Papa Francisco enfatizou esta máxima em sua Missa Jubilar às Forças Armadas, Polícia e Pessoal de Segurança neste domingo, 9, ao refletir sobre o relato do Evangelho de São Lucas sobre as ações de Jesus no Lago de Genesaré, que o Sucessor de Roma observou que pode ser dissecado de três maneiras: ele viu, ele embarcou e ele sentou-se.
Colocar em primeiro lugar o encontro com os outros
Em sua homilia, o Papa se deteve na atitude de Jesus no lago de Genesaré, descrita pelo evangelista Lucas com três verbos: ver, subir e sentar.
“Jesus não está preocupado em dar uma imagem de si mesmo às multidões, em executar uma tarefa, em seguir um cronograma; pelo contrário, coloca sempre em primeiro lugar o encontro com os outros, a relação, a preocupação com aqueles trabalhos e fracassos que muitas vezes sobrecarregam o coração e tiram a esperança.”
“Foi por isso que naquele dia Jesus viu, subiu e sentou-se”, sublinhou o Papa.
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Vista geral da Praça São Pedro na manhã deste domingo, 9, durante o Jubileu das Forças Armadas / Foto: Joyce Mesquita – CN
Jesus viu. “Ele tem um olhar atento que lhe permite, mesmo no meio de tanta gente, avistar dois barcos atracados na margem e notar a desilusão no rosto daqueles pescadores, que, depois de uma noite que correu mal, lavam as redes vazias. Jesus dirige o seu olhar cheio de compaixão”. “Não nos esqueçamos da compaixão de Deus. Das três atitudes de Deus: proximidade, compaixão e ternura. Não se esqueçam: Deus é próximo, Deus é terno e Deus é compassivo, sempre”, frisou.
“Jesus olha com aquele olhar cheio de compaixão para os olhos daquelas pessoas, captando o seu desânimo, a frustração de terem trabalhado toda a noite sem apanhar nada, o sentimento de terem o coração vazio, tal como as redes que agora seguram nas mãos”, ressaltou Francisco.
Jesus sobe na barca da nossa vida
A seguir, o Papa pediu desculpas por não continuar a leitura da homilia por causa da dificuldade de respirar, devido a uma bronquite que o acometeu nos últimos dias. Prosseguiu a leitura, o mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, dom Diego Giovanni Ravelli,
“Vendo o seu desânimo, Jesus subiu. Pede a Simão que afaste o barco da terra e sobe a bordo, entrando no espaço da vida de Pedro e abrindo caminho naquele fracasso que habita o seu coração. E isto é bonito”:
“Jesus não se limita a observar as coisas que não correm bem, como nós fazemos muitas vezes, acabando por nos fecharmos em lamentos e amarguras. Em vez disso, Ele toma a iniciativa, vai ao encontro de Simão, detém-se com ele naquele momento difícil e decide subir na barca da sua vida, que naquela noite regressou à terra sem nenhum resultado.”
A esperança que renasce
“Por fim, tendo subido, Jesus sentou-se. Nos Evangelhos”, disse o Papa, “esta é a postura típica do mestre, daquele que ensina. Efetivamente, o Evangelho diz que ele se sentou e ensinou. Depois de ter visto nos olhos e no coração daqueles pescadores a amargura de uma noite de trabalho em vão, Jesus sobe a bordo do barco para ensinar, isto é, para anunciar a boa nova, para levar luz àquela noite de desilusão, para narrar a beleza de Deus no meio das dificuldades da vida humana, para fazer sentir que, mesmo quando tudo parece perdido, ainda há esperança. E é aí que acontece o milagre: quando o Senhor sobe no barco da nossa vida trazendo-nos a boa nova do amor de Deus que sempre nos acompanha e sustenta, então a vida recomeça, a esperança renasce, o entusiasmo perdido retorna e podemos lançar de novo as redes ao mar”.
“Irmãos e irmãs, esta palavra de esperança acompanha-nos hoje ao celebrarmos o Jubileu das Forças Armadas, Polícia e Segurança, a quem agradeço o serviço prestado, saudando todas as Autoridades presentes, as Associações e Academias Militares, bem como os Ordinários castrenses e os Capelães”, disse Francisco, acrescentando:
“A vós está confiada uma grande missão, que abrange múltiplas dimensões da vida social e política: a defesa dos nossos países, o compromisso em prol da segurança, a guarda da legalidade e da justiça, a presença nas prisões, a luta contra a criminalidade e as diferentes formas de violência que ameaçam perturbar a paz social. E recordo ainda aqueles que prestam o seu importante serviço em situação de catástrofes naturais, na salvaguarda da criação, no resgate de vidas em alto mar, na defesa dos mais frágeis, na promoção da paz.”
Uma presença que é ensinamento para nós
“Também a vocês o Senhor pede para fazerem como Ele: ver, subir, sentar-se”, disse ainda o Papa. “Ver, porque vocês são chamados a manter um olhar atento, capaz de captar as ameaças ao bem comum, os perigos que pairam sobre a vida dos cidadãos, os riscos ambientais, sociais e políticos a que estamos expostos”, sublinhou o Francisco. “Subir, porque suas divisas, a disciplina que os forjou, a coragem que os distingue, o juramento que prestam, são coisas que os recordam o quanto é importante não só ver o mal, mas denunciá-lo, subir a bordo do barco que está numa tempestade e, com a missão a serviço do bem, da liberdade e da justiça, empenhar-se para que ele não afunde”, acrescentou.
“E, por fim, sentar-se, porque a sua presença em nossas cidades e bairros, o modo como estão sempre do lado da legalidade e dos mais fracos, torna-se ensinamento para todos nós: ensina-nos que, apesar de tudo, o bem pode vencer. Ensina-nos que a justiça, a lealdade e a paixão cívica continuam sendo valores necessários hoje em dia. Ensina-nos que podemos criar um mundo mais humano, mais justo e mais fraterno, apesar das forças contrárias do mal.”
Capelães, presença de Cristo
O Pontífice recordou também os capelães, que são uma presença sacerdotal importante no meio dos militares. “Eles não servem — como por vezes e infelizmente aconteceu na história — para abençoar atos perversos de guerra. Não! Eles encontram-se no meio de vocês como a presença de Cristo, que quer acompanhar, ouvir e oferecer a vocês a sua proximidade, dar-lhes coragem” e apoio “na missão que desempenham todos os dias. Como apoio moral e espiritual, eles caminham com vocês, ajudando-os a realizar suas tarefas à luz do Evangelho e a serviço do bem”.
Vigilantes contra a tentação de cultivar um espírito de guerra
Por fim, o Papa agradeceu aos militares pelo que fazem, “por vezes correndo riscos pessoais” e os exortou “a não perderem de vista o propósito de seu serviço e de suas ações: promover a vida, salvar a vida, defender sempre a vida”.
“Por favor, peço-lhes que sejam vigilantes: vigilantes contra a tentação de cultivar um espírito de guerra; vigilantes para não deixarem se seduzir pelo mito da força e pelo rumor das armas; vigilantes para não serem contaminados pelo veneno da propaganda do ódio, que divide o mundo entre amigos a defender e inimigos a combater. Em vez disso, sejam testemunhas corajosas do amor de Deus Pai, que nos quer todos irmãos. Caminhemos juntos para construir uma nova era de paz, justiça e fraternidade.”