Igreja celebra o Jubileu dos Operadores de Justiça neste sábado; sacerdotes refletem sobre esta virtude e diferenciam a justiça humana da divina
Gabriel Fontana
Da Redação

Foto: Canva
Roma recebe neste sábado, 20, o Jubileu dos Operadores de Justiça. O evento, realizado no contexto do Ano Santo de 2025, é voltado para juízes, procuradores, magistrados, advogados e profissionais do Direito.
Membro da Comunidade Canção Nova, padre Marcio Prado cita o Catecismo da Igreja Católica (CIC) para definir a virtude da justiça. Ela é descrita como “a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido” (CIC 1807).
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Imagem desta virtude é o homem justo, que “distingue-se pela retidão habitual dos seus pensamentos e da sua conduta para com o próximo” (CIC 1807). Segundo padre Marcio, tal comportamento, em certo grau, é natural ao ser humano. “Como é natural respirar, andar, e se comunicar, deve ser natural para o ser humano proceder da forma correta, evitando o mal e praticando o bem”, sublinha.
Leis humanas devem respeitar leis divinas

Padre João Paulo Rizek / Foto: Arquivo pessoal
Pároco da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, localizada no bairro Santa Ifigênia em São Paulo (SP), o padre João Paulo Rizek é juiz de turma no Tribunal Eclesiástico da arquidiocese. Ele reflete que, para dar a cada um aquilo que lhe é devido, conforme citado pelo Catecismo, segue-se um itinerário de regras que podem ter origem humana, natural ou divina.
Desta forma, encontram-se diferenças entre a justiça humana e a justiça divina. “As leis humanas são mutáveis de acordo com o tempo e costumes, enquanto as leis de Deus não mudam porque Deus é o mesmo ontem e hoje e sempre”, explica o sacerdote. “Cabe aos homens legislar sobre regras de conduta, mas essa legislação humana não deve afrontar as leis divinas e as leis naturais”, complementa.
Padre João Paulo indica que, para alcançar a virtude da justiça, é preciso o esforço para praticá-la a partir da compreensão do conceito de equidade, tratando os iguais como iguais e os desiguais como desiguais. “A medida dessa desigualdade deve ser observada para que a lei ou as ações não sejam demasiadamente leves ou pesadas para as pessoas que estão subordinadas a ela”, afirma.
Justiça, humildade e misericórdia

Pe. Marcio Prado / Foto: Canção Nova
Por sua vez, padre Marcio sinaliza ainda que a justiça divina é perfeita, uma vez que se baseia no próprio Deus. A justiça humana, porém, está sujeita à corrupção, consequência do pecado original. “Nem sempre a justiça humana é assertiva”, reconhece, chamando a atenção para o perigo da corrupção, ou seja, da busca pelos interesses próprios ao invés do bem comum.
“Viver a humildade é a melhor forma de praticarmos bem a justiça. Evidentemente, a humildade passa pelo reconhecimento dos erros e das falhas. O ser humano é chamado, então, a praticar a virtude da justiça vivendo a humildade no estudo e na escuta do outro, julgando não somente segundo os seus critérios, mas com imparcialidade”, declara o sacerdote.
Para o padre Marcio, o Jubileu dos Operadores de Justiça é uma oportunidade para provocar nos juízes, advogados e em outras pessoas que trabalham no ramo do Direito um senso de conversão e avaliação da própria vida. Tal reflexão não se dá apenas a nível profissional, mas também pessoal, inserida na fé que professam.
Diante disso, o sacerdote sugere que se reflita também sobre a misericórdia, definida por ele como “um passo além”. “A justiça divina se concretiza, se realiza, mas também vai além porque ela tem esse tom da misericórdia”, ressalta. Segundo o padre João Paulo, “a misericórdia anda de mãos dadas com a justiça”.