Cardeais brasileiros fazem balanço do Ano Jubilar dedicado à esperança, que começou com o Papa Francisco e será encerrado com o Papa Leão XIV
Jéssica Marçal
Da Redação

A cruz jubilar utilizada na peregrinação à Porta Santa em Roma / Foto: Joyce Mesquita
A virtude da esperança marcou o Ano Santo da Igreja Católica vivido ao longo de 2025. Iniciado ainda em 2024 com o então Papa Francisco, o jubileu convidou os fiéis a uma verdadeira caminhada espiritual, com a proposta de uma revisão de vida e renovação da fé. Foi dentro desse contexto que a Igreja deu adeus a um Papa e viu nascer outro, sinalizando uma vez mais a virtude teologal escolhida por Francisco como mote desse tempo especial que a Igreja vive a cada 25 anos.
Tudo começou em 24 de dezembro de 2024, quando o Papa Francisco abriu a Porta Santa da Basílica de São Pedro. Desde então, Roma recebeu uma série de eventos jubilares e o mesmo aconteceu nas igrejas particulares em todo o mundo, com atividades também em nível diocesano.

O Cardeal Odilo Scherer / Foto: Daniel Xavier
Um ano depois, fiéis em todo o mundo se despedem do Ano Jubilar: as Igrejas particulares, de um modo geral, celebraram o encerramento neste domingo, 28, conforme estabelecido na bula de proclamação do jubileu Spes non condundit. O Ano Santo será oficialmente encerrado em 6 de janeiro com o fechamento da Porta Santa na Basílica de São Pedro com o Papa Leão XIV.
Legado do Jubileu
Mas o que fica desse jubileu? “Acho que o Ano Jubilar ajudou e ajudará a fortalecer a fé, a esperança e a caridade”, afirma o arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer. Embora considere cedo para falar em frutos, Dom Odilo observa que o Ano Jubilar suscitou uma boa adesão e envolvimento na arquidiocese de São Paulo. “As paróquias se movimentaram, organizaram suas peregrinações; tivemos 12 igrejas de peregrinação durante este Ano Santo, que foram bastante visitadas por grupos de peregrinos. O tema da ‘esperança’ foi muito oportuno”, contou Dom Odilo.
Para o arcebispo de Porto Alegre (RS), Dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a celebração de um Ano Santo é oportunidade para renovação e aprofundamento da fé para todos os batizados, além de possibilitar também um caminho de conversão. Ele conta que foram várias as atividades promovidas durante esse período na arquidiocese gaúcha.
“Peregrinações às Igrejas destinadas para a celebração das indulgências; iniciativas de aprofundamento na compreensão da virtude teologal da esperança; incentivo e apoio a iniciativas pastorais em favor de realidades sociais, a fim de incentivar o cuidado e a promoção da vida humana e do planeta.”

O Cardeal Jaime Spengler / Foto: Daniel Xavier
A peregrinação também foi um ponto forte na arquidiocese do Rio de Janeiro, segundo o arcebispo local, Cardeal Orani João Tempesta. “Houve uma grande mobilização do povo de Deus em direção às igrejas jubilares, com momentos de oração, confissões e celebrações, o que contribuiu significativamente para a revitalização da caminhada eclesial. Essa experiência de peregrinar é sempre muito importante para a renovação espiritual das pessoas, que é justamente o objetivo central de um Ano Jubilar, de um Ano Santo.” Ele acrescenta a isso a renovação espiritual das pessoas e a valorização do sacramento da Reconciliação.
Transição de papado e o sentido de continuidade
Sobre a morte de Francisco, ocorrida em 21 de abril, Cardeal Odilo explica que a morte de um Papa pode ser motivo de luto e suscitar sentimentos de pesar, mas nunca de desesperança. “Os Papas passam e a Igreja segue adiante, com um novo Papa”, pontua Dom Odilo. “Ontem, ‘Pedro’ tinha o rosto e o jeito de João Paulo II, de Bento XVI, de Francisco; hoje, ‘Pedro’ tem o rosto e o jeito de Leão XIV. A Igreja segue em frente com o serviço deles, de todos os bispos, do clero, do testemunho dos consagrados e com a fé alegre, generosa e forte do Povo Santo de Deus.”
Dom Jaime destaca a sadia continuidade do ministério apostólico, dando como exemplo a exortação apostólica “Dilexi te”, de Leão XIV, publicada em 4 de outubro de 2025. “Outro exemplo a ser considerado pode ser as diversas manifestações antes e durante a COP30, sobre a questão das mudanças climáticas.”, acrescenta.

O Cardeal Orani Tempesta / Foto: Daniel Xavier
Dom Orani ressalta ainda que o novo Papa deu continuidade também ao grande caminho jubilar, mantendo as atividades previstas e incrementando-o, conduzindo tudo com muito zelo pastoral. “Isso manifesta claramente a continuidade desse grande evento e reforça o sentido de esperança que marcou e continua marcando toda a vivência jubilar da Igreja.”, conclui o cardeal.
A continuidade da caminhada
Com o encerramento do Ano Santo, a caminhada continua. Dom Odilo pontua que as prioridades pastorais na arquidiocese de São Paulo estão voltadas para o cumprimento da missão permanente da Igreja: anunciar o Evangelho, promover a santificação do povo de Deus e testemunhar a “vida nova” e a caridade pastoral, como sinal de que o “o reino de Deus chegou e está no meio de nós”.
Dom Jaime destaca também a acolhida, formação e gestão, ressaltando que estas prioridades estão em sintonia com as orientações do último Sínodo celebrado em Roma. “No centro das indicações do Sínodo está a questão da conversão: Conversão das relações, conversão dos vínculos e conversão dos processos.”
Na arquidiocese do Rio de Janeiro, o ano jubilar coincidiu com o Jubileu da Arquidiocese, que celebra 450 anos da prelazia e culminará nos 350 anos da diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. “Enquanto aguardamos as novas diretrizes da CNBB, a Arquidiocese seguirá refletindo e amadurecendo esse percurso, para então formular um novo Plano de Pastoral, que deverá ser fruto de uma Assembleia Arquidiocesana, em comunhão com toda a Igreja no Brasil.”, anunciou Dom Orani.




