Homilia no Centro de Detenção

Papa aos detentos: “Somos muito mais do que os rótulos que nos dão”

Ao visitar os jovens detentos do Panamá, Francisco refletiu sobre o Evangelho que cita críticas sofridas por Jesus por “acolher os pecadores e comer com eles”

Da redação, com Vatican News

Papa Francisco ouve a confissão de um preso em um centro de detenção juvenil em Pacora, Panamá/ Foto: REUTERS/ Alessandro Bianchi

O Papa Francisco presidiu nesta sexta-feira, 25, a liturgia penitencial no Centro de Detenção Juvenil Las Garzas de Pacora, no Panamá. Recebido por 167 jovens internos, com idades entre 17 e 25 anos, o Santo Padre refletiu sobre o Evangelho de São Lucas (Lc. 15, 1-17) que cita as críticas sofridas por Jesus por “acolher os pecadores e comer com eles”.

“Assim murmuravam alguns fariseus e escribas, muito escandalizados e incomodados com o comportamento de Jesus. Pretendiam, com esta afirmação, desqualificá-Lo e desacreditá-Lo à vista de todos, mas tudo o que conseguiram fazer foi destacar um dos seus procedimentos mais comuns e caraterísticos”, refletiu o Pontífice durante o início de sua homilia.

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Aos detentos, o Papa afirmou: “Jesus não tem medo de Se aproximar daqueles que, por inúmeras razões, carregavam o peso do ódio social, como no caso dos publicanos – lembremo-nos que os publicanos se enriqueciam roubando o seu próprio povo, provocando muita, mas muita indignação – ou o peso das suas culpas, erros e enganos, como no caso daqueles que eram conhecidos por pecadores”. Francisco observou que Jesus se aproximava dos pecadores, pois sabia que no céu há mais alegria por um só pecador convertido do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão.

Segundo o Pontífice, enquanto muitos se limitavam a murmurar ou indignar-se, fechando assim qualquer possibilidade de mudança, conversão e inclusão, Jesus se aproximava e fazia um convite capaz de renovar a vida e a história. “Dois olhares muito diferentes, que se contrapõem: um olhar estéril e infecundo – o da murmuração e bisbilhotice – e o outro que convida à transformação e conversão – o do Senhor”, observou.

O Santo Padre revelou que muitos não suportavam, nem gostavam da opção de Jesus, por isso manifestavam descontentamento, procurando desacreditar o comportamento dEle. De acordo com o Pontífice, para muitos, é mais fácil colocar etiquetas e rótulos que congelam e estigmatizam não só o passado, mas também o presente e o futuro. Para Francisco, este procedimento contamina tudo, porque levanta um muro invisível que faz pensar que marginalizando, separando e isolando resolver-se-ão, magicamente, todos os problemas.

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“Quando uma sociedade ou comunidade se decide por isso, limitando-se a criticar e murmurar, entra num círculo vicioso de divisões, censuras e condenações; entra numa conduta social de marginalização, exclusão e oposição tal que leva a dizer irresponsavelmente como Caifás: ‘Convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira’ (Jo 11, 50). E, normalmente, a corda quebra pelo ponto mais fraco: o dos mais frágeis e indefesos. Que pena faz ver uma sociedade que concentra as suas energias mais em murmurar e indignar-se do que em comprometer-se, empenhar-se por criar oportunidades e transformação!”, refletiu o Papa.

O Evangelho está marcado, segundo o Pontífice, pelo outro olhar que nasce precisamente do coração de Deus: “O Senhor quer fazer festa quando vê os seus filhos que regressam a casa (Lc 15, 11-32). Assim o testemunhou Jesus, levando até ao extremo a manifestação do amor misericordioso do Pai. Um amor que não tem tempo para murmurar, mas procura romper o círculo da crítica inútil e indiferente, neutra e imparcial e assume a complexidade da vida e de cada situação; um amor que inaugura uma dinâmica capaz de proporcionar caminhos e oportunidades de integração e transformação, cura e perdão, caminhos de salvação”.

De acordo com Francisco, comendo com publicanos e pecadores, Jesus quebra a lógica que separa, exclui, isola e divide falsamente entre “bons e maus”, criando vínculos capazes de permitir novos processos; apostando e fazendo festa em cada passo possível. Desta forma, o Papa afirma que Jesus quebra também outra murmuração difícil de detetar e capaz de aprisionar sonhos: o murmúrio interior. Segundo o Santo Padre, este tipo de murmúrio brota em quem, tendo chorado o seu pecado e consciente do próprio erro, não crê que possa mudar.

“Cada um de nós é muito mais do que os rótulos que nos dão. Assim Jesus no-lo ensina e convida a acreditar. O seu olhar desafia-nos a pedir e procurar ajuda para percorrer os caminhos da superação. Por vezes a murmuração parece vencer, mas não acrediteis, não lhe presteis ouvidos. Procurai e ouvi as vozes que impelem a olhar para diante e não aquelas que vos desencorajam”, exortou o Pontífice.

A alegria e a esperança do cristão nasce, segundo o Papa, após o experimento do olhar de Deus que diz: “‘Tu fazes parte da minha família e não posso abandonar-te às intempéries, não posso perder-te pelo caminho, estou contigo aqui’”. O Santo Padre prosseguiu: “E, assim, Jesus transforma a murmuração em festa e diz-nos: ‘Alegrai-vos comigo!’ (Lc 15, 6)”. Para Francisco, uma sociedade adoece quando não é capaz de fazer festa pela transformação dos seus filhos, e uma comunidade adoece quando vive a murmuração que esmaga e condena sem sensibilidade.

Segundo o Pontífice, uma sociedade só é fecunda quando consegue gerar dinâmicas capazes de incluir e integrar, assumir e lutar para criar oportunidades e alternativas que deem novas possibilidades a todos, quando se preocupa por criar futuro com comunidade, instrução e trabalho. “É uma aliança que temos de nos animar a realizar: vós, rapazes, os responsáveis pela custódia e as autoridades do Centro e do Ministério, e as vossas famílias, bem como os agentes pastorais. Todos juntos, lutai sem cessar por encontrar caminhos de inserção e transformação”, pediu.

Após a homilia, o Papa Francisco ouviu a confissão dos detentos e os presenteou com uma escultura de ferro de Cristo na Cruz contornado por Ramos de Oliveira, de um artesão italiano, Pietro Lettieri. Ao término da celebração, o Santo Padre retornou à Nunciatura.

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