Pesar

Falece, aos 98 anos, Monsenhor José Carvalho de Souza em Aracaju

Monsenhor Carvalho foi grande referência para Igreja em Sergipe e importante na história da Canção Nova, ajudando na aquisição da geradora da TV em Aracaju

Da redação, com Arquidiocese de Aracaju

Monsenhor José Carvalho de Souza / Foto: Arquidiocese de Aracaju

Faleceu, aos 98 anos, nesta segunda-feira, 26, o monsenhor José Carvalho de Souza, uma das maiores referências do catolicismo em Sergipe. O sacerdote estava internado em um hospital particular de Aracaju há cerca de dois meses para tratar uma infecção respiratória.

A Arquidiocese de Aracaju (SE) divulgou uma nota de pesar destacando a atuação do religioso, que dedicou quase sete décadas de sua vida no serviço à Igreja, como diretor do Colégio Arquidiocesano e na Rádio Cultura. “Monsenhor Carvalho foi um incansável anunciador do Evangelho, cuja vida e obra marcaram profundamente nossa Arquidiocese”, destaca a nota assinada pelo arcebispo local, Dom Josafá Menezes da Silva.

O velório teve início com a Missa de corpo presente às 7h desta terça-feira, 27, no Centro de Evangelização Cultura, localizado na Rua Propriá, nº 222, no Centro de Aracaju. A Missa de sepultamento está marcada para as 14h30 e será presidida por Dom Josafá Menezes da Silva. O sepultamento ocorrerá às 16h, no Cemitério Santa Isabel.

Proximidade com a Canção Nova

Monsenhor Carvalho teve um importante papel na aquisição da geradora da TV Canção Nova na capital sergipana, em 1997. Sem o dinheiro para adquirir uma emissora de televisão que havia sido posta à venda, o fundador da Comunidade Canção Nova, Padre Jonas Abib, contou com um empréstimo do cônego.

“Ele assinou cinco [notas] promissórias de R$ 100 mil e me pagou, todo mês, as parcelas, até terminar. E eu fiquei muito feliz por ter tido a oportunidade de ajudar uma obra de tamanho alcance”, contou Monsenhor Carvalho em entrevista ao Jornalismo Canção Nova em agosto de 2022.

A cofundadora da Comunidade Canção Nova, Luzia Santiago, lembrou esse momento com muito carinho. “Sem nos conhecer ele nos emprestou aquele valor e nos ajudou a pagar pouco a pouco. Então foi uma grande Providência Divina pra nós. Hoje temos a geradora comercial de onde sai o sinal da TV Canção Nova não só para o Brasil, mas também para outros países”, comentou.

O presidente da Canção Nova, padre Wagner Ferreira, expressou suas condolências a todos os familiares e ao Clero de Aracaju. “Nossa mensagem é de condolências, mas ao mesmo tempo de esperanças, porque nós cremos em Jesus Ressuscitado, garantia da nossa salvação, da nossa felicidade eterna. Portanto, nós cremos que o monsenhor Carvalho participa da alegria dos santos e santas de Deus”, afirmou.

Padre Wagner recordou que conheceu e conviveu com monsenhor Carvalho durante o período que morou na missão em Aracaju, no ano 2000, e destacou a “profunda gratidão” da Canção Nova. “Nós não tínhamos recursos para adquirir a geradora e ele se prontificou a nos ajudar, emprestando dinheiro e fomos pagando a ele pouco a pouco. Por isso, a nossa gratidão. Porquê naquele momento ele foi instrumento da Divina Providência”.

Reveja reportagem feita com Monsenhor Carvalho:

Trajetória

Nascido em 24 de novembro de 1926, perdeu a mãe ainda na infância e foi criado pelo avô, o coronel Zacarias. Decidiu-se pelo sacerdócio nos anos 1940, contrariando as expectativas locais que apontavam o caminho da vida rural como o mais promissor para jovens da cidade.

Ingressou no Seminário Arquidiocesano de Aracaju e prosseguiu os estudos em centros de excelência, como o Seminário de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, e a Universidade Católica de Pernambuco. Também formou-se em Administração Escolar em Minas Gerais, área que o prepararia para uma de suas missões mais emblemáticas: a fundação do Colégio Arquidiocesano.

O Educandário Sagrado Coração de Jesus nasceu em 1959 em uma das salas do seminário, na Praça Camerino. Em 1960, mudou-se para a Rua Dom José Thomaz, consolidando-se como Ginásio Diocesano. Sob sua liderança, a escola tornou-se uma das mais respeitadas do Estado, referência de excelência acadêmica e formação cristã.

Afastou-se da direção em 2012, após mais de meio século à frente da instituição. Deixou, porém, marcas profundas e insuperáveis na memória de gerações de alunos e educadores.

Além da atuação no ensino, Monsenhor Carvalho ocupou cargos relevantes na vida eclesiástica e pública. Foi vice-reitor e reitor do Seminário Sagrado Coração de Jesus, membro do Conselho Estadual de Cultura, diretor-presidente da Rádio Cultura de Sergipe e cônego catedrático do Cabido Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju.

Em 2002, recebeu o título de Monsenhor, concedido pelo Papa João Paulo II, a pedido de Dom José Palmeira Lessa. No mesmo espírito de reconhecimento, foi homenageado pelo Governo de Sergipe com a Medalha da Ordem do Mérito Parlamentar (2007), a Comenda Daltro (2011) e o título de Honra ao Mérito Educacional (2015).

Publicou o livro Presença Participativa da Igreja Católica na História dos 150 anos de Aracaju, em 2006. Tornou-se imortal da Academia Lagartense de Letras em 2013, ocupando a cadeira número 10.

Figura marcante nas novenas de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Lagarto, teve o privilégio de encerrar as festividades por muitos anos. Era reconhecido pela retórica firme, pela voz grave e pelo domínio das Escrituras, traços herdados de seu mestre espiritual, padre Frederico Loufer. Sua vida também foi objeto de estudo acadêmico.

Em quase sete décadas de vida sacerdotal, Monsenhor Carvalho foi símbolo de fé, dedicação e serviço. Seu nome permanece vivo na memória dos que convivem com os frutos de sua obra — nos altares, nas salas de aula e nas páginas da cultura sergipana.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo