Zika Vírus

Zika vírus e gestantes: veja dados atuais e formas de prevenção

Especialistas dão informações atualizadas sobre o Zika vírus; grávida relata como lida com essa preocupação 

Denise Claro
Da redação

O mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão dos vírus da dengue, febre chikungunya e Zika / Foto: Arquivo -Agência Brasil

O mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão dos vírus da dengue, febre chikungunya e Zika / Foto: Arquivo -Agência Brasil

Nesta semana, o Ministério da Saúde divulgou um novo boletim e mudou a forma de interpretar os números de casos de microcefalia. A partir de agora, considera-se que todos os casos de bebês nascidos com microcefalia com danos no cérebro estão associados ao Zika vírus. Eles somam agora 508 casos. No boletim anterior, eram 41 casos confirmados pra zika. Outros 421 eram casos de microcefalia com danos no cérebro, mas sem confirmação para o vírus da zika.

O vírus é conhecido há mais de 50 anos. Inicialmente foi encontrado em macacos na África, na região da Uganda. Alguns anos depois, foram verificadas algumas incidências em humanos, mas somente na última década a doença prosseguiu para outros continentes, primeiro na Oceania e depois, na América Latina. Os primeiros casos no Brasil aconteceram no ano passado.

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Para a infectologista Otília Lupi, a grande novidade é este potencial epidêmico que a doença tomou na última década. “Alguma coisa aconteceu com o vírus (que ainda vai se descobrir o que foi) neste trajeto que fez com que ele conseguisse ser mais eficiente na transmissão da doença. E a epidemia acontece quando o vírus chega em um local onde há uma grande população, que ainda não teve contato com a doença.”

A possibilidade de outras doenças mais raras estarem relacionadas com o Zika vírus também é uma preocupação recente, como é o caso da microcefalia e da síndrome de Guillain Barré. A especialista lembra a dificuldade de se diagnosticar as doenças no caso das gestantes.

“A ciência vai demorar a comprovar sem nenhuma dúvida isso por várias razões. Uma delas é porque não se pode fazer experimentos (em gestantes), o que faz com que a gente tenha que esperar mais evidências, fazendo um mapeamento e observando se em todos os lugares onde o vírus passar terá o mesmo efeito. O grau de normalidade também é outra questão, porque as primeiras crianças que nasceram após a mãe ter tido Zika não têm mais do que 8 meses de idade, então o comprometimento em termos de doenças e outros fatores que precisam de um desenvolvimento da criança estão em aberto.”

Otília ainda ressalta que, nos casos das mulheres em idade fértil, é importante buscar se proteger, mesmo sem estar grávida, pois ainda não se sabe se a doença contraída agora teria efeitos em uma gestação futura.

Cuidados para gestantes

Grávidas estão no grupo de risco quando o assunto é Zika vírus./ Foto: ArquivoCN

Grávidas estão no grupo de risco quando o assunto é Zika vírus./ Foto: ArquivoCN

No caso das gestantes, a ginecologista e obstetra Claudia Bonfim lembra a importância das medidas para se proteger da Zika neste momento de epidemia: “A gestante neste tempo de transmissão deve em primeiro lugar buscar o seu médico, fazer o pré natal de forma correta, com todos os exames próprios desde o início da gestação. Além disso, eliminar os criadouros, mantendo portas e janelas fechadas ou com tela, não deixar água parada, usar calça e camisa de manga comprida e utilizar repelente. Evitar também lugares de maior incidência da doença.”

Nadeje Gomes está grávida de cinco meses, mora em Pernambuco e convive com o medo da Zika. “Esta é minha segunda gestação. Já sou mãe de uma menina de 4 anos, e esta gestação está sendo diferente. Eu tive a menina numa outra época, foi uma gravidez normal. Agora, desta vez, assim que soube que estava grávida começaram as notícias sobre a zika e a microcefalia.”

A gestante acabou tendo dengue no terceiro mês de gestação. “Foi um susto. A gente já fica preocupada, pensando no que pode acontecer com o bebê. Aqui obedeço às orientações dos médicos, mas o pior é toda essa atmosfera de dúvida acerca do vírus que ainda existe. Quem está gestante hoje vive com medo, muitas até com medo de perder o bebê, pois não se sabe ainda concretamente das consequências da doença.”

Grávidas e o medo da Zika

Nadeje ainda comenta sobre os efeitos das notícias em quem está grávida neste momento: “Somos bombardeadas de informações por meio da TV e da internet e isso nos assusta. Assim que fiquei grávida começaram na TV as notícias sobre os casos de microcefalia em Pernambuco. Tento não pensar demais, pois acredito que se desesperar antes da hora pode desencadear até uma depressão. O que eu tenho feito é me proteger, fazer a minha parte, e ir trabalhando meu psicológico, pois se Deus permitisse que eu tivesse meu filho com uma má-formação, Ele me prepararia para aceitar, amar, e fazer de tudo para que ele viesse ao mundo da forma mais confortável, e dar a ele todos os cuidados que ele necessitasse.”

O futuro da Zika 

Pesquisas e testes sobre o Zika vírus continuam sendo feitos. Na última quarta-feira, 16, os EUA anunciaram que vão testar uma vacina contra o Zika em humanos antes do fim do ano. A decisão foi anunciada após testes conclusivos em ratos. No momento, a vacina está sendo testada em macacos. “Os testes pré-clínicos mostraram que a vacina sintética contra o vírus Zika desencadeia respostas duradouras e imunes, demonstrando o potencial (…) para prevenir e tratar as infeções causadas por esse patógeno”, disse, em comunicado, a Inovio, empresa que trabalha na vacina.

Nesta semana, especialistas brasileiros conseguiram pela primeira vez fazer o mapeamento genético do vírus da Zika relacionado a casos de microcefalia. A pesquisa foi feita em um laboratório da Fiocruz. É a primeira vez que se decifra o DNA completo do vírus encontrado em líquido amniótico de gestações com microcefalia no Brasil. Com  o mapeamento, os pesquisadores descobriram que o vírus provavelmente vem da Polinésia Francesa, e se aproxima daquele que causa a encefalite japonesa (doença que causa malformações e lesões neurológias).

A infectologista Otília Lupi lembra o curso natural das grandes epidemias: “O que se prevê é que a epidemia que começou ano passado se estenda pelos próximos anos e independente de que alguma coisa seja feita, as ondas epidêmicas começam e crescem até atingir um pico, e depois tendem a declinar naturalmente, mesmo que não se consiga encontrar nenhuma solução. Mas é claro que as medidas tomadas vão abortar esta curva mais precocemente, e a evolução ou não da doença no país e na América depende dessas intervenções.”

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