Rede Eclesial Pan-amazônica denuncia aumento na violência doméstica em muitos países da América Latina
Da redação, com Vatican News
“É como um fantasma que prende a garganta, persegue o dia inteiro, atravessa os espaços privados, os mais íntimos, e não deixa em paz.” Assim, a Rede Eclesial Pan-amazônica (Repam) define a violência contra a mulher que, devido à quarentena obrigatória para conter a pandemia de coronavírus, está aumentando rapidamente em muitos países da América Latina.
Obrigadas a ficarem em casa, muitas mulheres sofrem abusos por parte do marido ou familiares. “A violência masculina é uma pandemia”, lê-se no site da Repam, “que se torna ainda mais feroz quando acompanhada por outra pandemia”. “Na Amazônia, os indicadores de agressões físicas, sexuais e psicológicas contra as mulheres são alarmantes e, em muitas áreas, quase naturalizados pelas próprias autoridades, pelos Estados e sistemas públicos machistas e violentos”, ressalta a Repam, tanto que a situação grave enfrentada por muitas mulheres “é invisível e não é abordada como uma necessidade urgente”. Além disso, “a superlotação das casas, a fome e o desespero, resultantes da crise econômica causada pelo coronavírus, aumentam ainda mais essa realidade”.
Sem esquecer o fator saúde, em tempos de pandemia, o atendimento e a atenção às vítimas de violência de gênero tornaram-se ainda mais deficientes e ameaçam seriamente suas vidas. Felizmente, existem alguns sinais positivos. A Repam, por exemplo, lembra que, em muitos países da Região Pan-amazônica, “foram criadas linhas telefônicas para assistência às mulheres”. Infelizmente, porém, tudo isso não basta. “Em quarentena, as mulheres são obrigadas a ficarem próximas a seus agressores e não podem os denunciar. Não podem pedir ajuda.”
Enquanto isso, as ameaças aumentam. A Repam relata que, na Bolívia, por exemplo, mais de 1.200 casos de violência foram registrados desde o início da quarentena. No Peru, foram denunciados 43 casos de estupro, muitos deles cometidos dentro de casa. Na Colômbia, na fase atual, as linhas telefônicas de ajuda às mulheres registraram um aumento de 50% nas ligações, destacando que 77% dos crimes de gênero são cometidos nas casas das vítimas. Há também casos de assassinatos de líderes sociais que são, principalmente, mulheres e ataques perpetrados por narcotraficantes e crime organizado.
“Essa pandemia de violência masculina continuará enquanto, como sociedade, não fizermos todos os esforços necessários para detê-la com ações concretas e cotidianas. Mesmo que uma só mulher seja abusada, é como se todas fossem abusadas”, conclui a Repam.