CN em Foco

Vice-postulador conta detalhes da vida e canonização de Anchieta

De maneira simples e espontânea, padre César fala sobre o relacionamento de Anchieta com os índios e explica porque o processo demorou 400 anos

Luciane Marins
Da redação

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Padre César Augusto dos Santos, um dos vice-postuladores da causa de canonização de Anchieta / Foto: Canção Nova Roma

O Canção Nova em Foco desta semana destaca o novo santo brasileiro: o Apóstolo do Brasil, José de Anchieta. O vice-postulador da causa de canonização, padre César Augusto dos Santos, conta, em entrevista à nossa correspondente em Roma, Danusa Rego, detalhes da vida do santo e do longo processo de canonização.

Padre César, que também é diretor do programa Brasileiro da Rádio Vaticano, faz questão de apresentar Anchieta como um jovem. Ele explica que, muitas vezes, quando se pensa no santo, tem-se a imagem errada de um homem sisudo, com aspecto sério. “Foram 400 anos com essa imagem. Mas, refletindo como ele ficou santo, a gente vê que foi muito forte dos 17 até os 29, 30 anos. Então, resolvemos apresentar, agora, com a canonização, o Anchieta jovem, que deu início a essa santidade”.

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.: Ouça entrevista na íntegra na voz de Liliane Borges

O postulador destaca o amor do santo pelos índios. Segundo ele, Anchieta os observava, e percebendo que eles não gostavam tanto de discursos, mas sim de música e dança, ele se adapta e passa a evangelizar também por meio do teatro. “É um homem de muito amor, devoção, certeza do amor de Deus. Não tem receio de falar de modo severo quando percebe que o índio o respeita; se ele é muito positivo e doce, o índio vai achar até que ele é fraco. Em alguns momentos, ele tem uma linguagem um pouco dura, não sem amor, mas dura, aí o índio obedece, porque vê que ele tem voz de comando.”

O primeiro pedido de canonização de Anchieta foi feito há mais de 400 anos. O vice-postulador explica que isso não se deu por falta de interesse da Santa Sé, mas por dificuldades próprias do processo. Na época, o Papa Urbano VIII assinou um decreto que só permitia que o processo de canonização fosse aberto 50 anos após a morte do candidato a santo; depois, houve falta de dinheiro, a supressão da Companhia de Jesus e, por fim, o questionamento se valeria a pena, depois de tanto tempo, levar a causa adiante.

“Mas a resposta veio do povo de Deus”, comemora padre César. Ele explica que a devoção do povo continuou viva. “Temos inúmeras instituições hospitalares, escolares, universitárias, edifícios, pessoas que tem o nome de Anchieta, tudo dedicado a Anchieta; por isso retomamos o trabalho.”

O próximo passo seria a comprovação de um milagre. Mas o postulador explica que  quando se comprova a amplitude da devoção ao santo há a dispensa da comprovação do milagre. Em outubro do ano passado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fez uma petição pedindo ao Santo Padre a canonização de Anchieta.

“Eu fui atrás dos arquivos que estão na Cúria dos Jesuítas, em São Paulo. Lá, tive a surpresa de que, de fato, a devoção foi muito grande. Encontramos em cada Estado do Brasil pelo menos 50 devotos com igrejas e capelas; com isso, chegou o momento da canonização, não por um milagre, mas pela perseverança dos devotos e sua amplitude.”

Essa canonização é chamada equipolente. Três requisitos são necessários: provar a constância e a antiguidade do culto ao candidato a santo, o atestado histórico incontestável de sua fé católica e virtudes, e a amplitude de sua devoção. “Vários santos foram canonizados assim. Esse foi o caso de Anchieta”, explica o vice-postulador.

Mesmo tendo passado 400 anos, o padre destaca que o exemplo de vida do Apóstolo do Brasil continua atual. “Fé em Deus, em si mesmo, grande generosidade, humildade e disposição para enfrentar os desafios: ir, não ter medo, confiar em Deus”.

Na entrevista, o postulador recorda ainda atitudes que o jovem europeu Anchieta se submeteu para se enculturar no Brasil. “Na Serra do Mar, em alguns lugares, subia engatinhando”. Conta o que motivou o santo a escrever a gramática em Tupi e dá detalhes do processo de canonização.

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