Veja os reflexos da taxação americana na balança comercial brasileira

A Índia, quinta maior economia do mundo, também sofreu imposição de tarifa de 50% do Governo americano. E uma das justificativas é que os indianos continuam comprando petróleo russo. Essa estratégia americana de usar a economia para mexer na política mundial, também foi aplicada ao Brasil.

Reportagem de Sidinei Fernandes e Antonio Matos

Na feira de tecidos em Nova Deli, capital indiana, os comerciantes já esperavam pela taxação de produtos em 50% imposta pelos Estados Unidos. A aposta deles é vender o máximo que podem para o comércio interno. Brasil e Índia, velhos parceiros do Brics, agora amargam as taxas mais altas do planeta. No caso do nosso país, os números da balança comercial com os Estados Unidos indicam que o Brasil está em desvantagem. Os dados estão no site oficial do escritório do representante comercial dos Estados Unidos, o STR, agência do governo americano.

Em 2024, foram negociados 127 bilhões de dólares, elevação de 12% em relação a 2023, 14 bilhões de dólares a mais de um ano pro outro. Compramos deles peças, motores, máquinas e outros itens no valor de 49 bilhões de dólares.

Vendemos para eles petróleo bruto, ferro, aço, alimentos, totalizando cerca de 42 bilhões de dólares. No fim das contas, saldo positivo de quase 7 BI em favor dos Estados Unidos. O comércio total de serviços foi de 36 bilhões de dólares. De lá compramos 29 BI. Daqui para lá, vendemos quase 7 BI e de novo saldo de 23 bilhões de dólares para os americanos.

“E aqui entra um ponto interessante, porque isso desmonta a justificativa de que os Estados Unidos taxariam todos os países que, digamos assim, em alguma medida, prejudicariam a balança comercial deles. Não é o nosso caso, mas nós fomos tarifados do mesmo jeito”, destacou a economista e professora da FGV, Carla Beni. 

Quando a gente pega tudo o que compramos e compara com tudo aquilo que vendemos para os norte-americanos, o resultado final é que a balança pende mais para os Estados Unidos. É o que os economistas chamam de superávit.  Por isso, a taxação de produtos brasileiros por si só não se justifica. Mas no mundo da política, a economia tem sido usada como arma para realinhar o cenário internacional. 

“Ele acabou de sobretachar a Índia porque a Índia continua comprando petróleo da Rússia e ele acabou de afirmar que ele vai sobretachar o Canadá se o Canadá reconhecer o Estado Palestino. Então, é muito importante esses dois exemplos para que a gente entenda que esse mecanismo de aumento de alíquota de importação dos Estados Unidos está sendo usado como uma ferramenta, digamos assim, de movimentação geopolítica, muito mais do que uma questão econômica”, assegurou ela. 

Nesse cenário, o governo americano abriu investigação em meados de julho sobre a política comercial brasileira. O governo do Brasil já respondeu e negou que adote medidas discriminatórias ou restritivas ao comércio americano. Além disso, rechaçou práticas desleais. A expectativa é que representantes de setores afetados pelo tarifaço se reúnam para dialogar no escritório do representante comercial dos Estados Unidos entre os dias 3 e 4 de setembro.

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