Na conclusão do ano litúrgico o Papa Bento XVI premiou-nos com a sua segunda Carta Encíclica: a “Spe Salvi”, ou seja, é na esperança que fomos salvos, trecho retirado da Carta de São Paulo aos Romanos (Rom 8, 24).
A reflexão sobre a esperança cristã, abrindo o novo ano litúrgico como tempo do Advento e Natal, nos traz justamente a posição sobre a grande missão de Jesus ao nascer entre nós e o que a Igreja continua anunciando com alegria renovada ao proclamar a atualização do Mistério da Encarnação ao celebrá-lo na liturgia.
Recorda-nos o texto que o “cristianismo significa que o Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida” (2) e que “chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança”, esperança que, enquanto esperança, é “redenção” (3).
Essa Carta Encíclica quer também esclarecer sobre as falsas esperanças que brotaram na história e, ao mesmo tempo, colocar a esperança no coração e na vida de cada cristão, na certeza de que o Senhor que venceu o mundo nos convida a olhar com confiança para a nossa vida e caminhada.
Penso que esse texto é uma ótima meditação para o tempo do Advento e Natal quando falamos sobre o Mistério do Amor de Deus na Encarnação do Verbo vindo ao mundo para salvar-nos e, ao mesmo tempo, pensar nas realidades de hoje que pululam ao nosso redor mas que não nos tiram a confiança e esperança no Deus da Vida que vence o pecado e a morte.
Junto com uma bela caminhada eclesial que nos leva a dar passos corajosos na vida cristã temos também muitas situações de trevas e escuridões. A imprensa às vezes noticia ou vezes silencia, de acordo com os vários interesses que existem e mesmo devido à interpretação dos fatos.
Aqui da Região Norte ouvimos falar de tantas situações de degradação nas prisões, fato que depois se espalhou demonstrando a falência do sistema pelo Brasil afora. Além das pessoas temos também o sistema ineficiente. Pouco a pouco as notícias ficam velhas e não mais aparecem na mídia. É claro que se criam também outros fatos para que uma notícia posterior supere as anteriores. E junto com isso tudo, permanece como sempre foi.
Algumas negociações que ocorrem nos vários âmbitos políticos nem sempre primam pela preocupação de ver o bem do povo, e sim os interesses pessoais ou grupais. Seguimos com interesse pensando que alguma novidade possa acontecer e logo vemos que além de não ocorrer, rapidamente tudo desaparece do noticiário e se perde em algum “buraco negro” do nosso cosmos humano.
A situação do Bispo de Barra, Frei Luis Flávio Cappio que, segundo diz em sua nota ao iniciar o jejum, foi traído e as prometidas negociações e estudo não aconteceram. Mesmo sabendo que existem divergências com relação à transposição ou não do Rio São Francisco e mesmo sobre o método utilizado para protestar, este é um momento crucial para todos nós que queremos salvar a todos e dar continuidade ao diálogo que tanto bem faria para o futuro do nosso país.
Quando olhamos a real situação do atendimento da saúde em nosso país e o dinheiro que se destina para projetos de morte e toda a pressão nacional e internacional com relação ao aborto e outras situações, redobra no coração de toda pessoa sensata, mesmo que não utilize o SUS, que a direção tomada está errada.
O nosso povo sofre com relação ao desemprego, falta de habitação digna, na fome de alguns grupos e os apertos que passam nas várias situações da vida. Consegue sobreviver, cantar, lutar apesar de toda situação adversa.
A confusão política e econômica na América Latina e as intermináveis guerras pelo mundo demonstram que ainda não conseguimos conversar sobre assuntos importantes para nossa vida. Apesar da consciência ecológica melhorada hoje, ainda temos, na prática, muitas situações que comprometem o nosso futuro.
O fanatismo político e o religioso costumam fazer vítimas pelo mundo afora. A mudança cultural que vivemos faz com que valores importantes para a maior parte dos seres humanos passem a ser contestados e legislados por uma minoria que algumas vezes obriga a maioria a situações vexatórias.
E assim poderíamos continuar enumerando tantas situações que estão ao nosso redor. Celebrar o Advento e Natal do Senhor Jesus Cristo é ter os pés nesse chão concreto deste planeta, mas no coração e na vida a esperança cristã que nos leva adiante na caminhada, com a confiança de que serão pessoas novas que construirão esse mundo novo.
O Papa, em sua Carta Encíclica, nos lembra de muitos exemplos. Um deles é Santa Josefina Bakhita, que depois de uma vida de maus tratos e sem direitos humanos, se encontra com o Pai e passa a viver uma nova vida com confiança e esperança.
É tempo de anunciar a Boa Notícia! “A nossa esperança é sempre essencialmente também esperança para os outros; só assim é verdadeiramente esperança também para mim. Como cristãos não basta nos perguntarmos: como posso salvar-me a mim mesmo? Devemos antes perguntar-nos: o que posso fazer a fim de que os outros sejam salvos e nasça também para eles a estrela da esperança? Então terei feito também o máximo pela minha salvação pessoal.” (48) Com essa confiança iniciamos o novo ano litúrgico! Celebramos neste domingo o domingo da alegria, e vamos celebrar o Natal do Senhor Os tempos podem ser melhores, e nós acreditamos e trabalhamos para que isso ocorra!