Irmã Dulce

Uma santa que gostava de futebol

Arcebispo primaz do Brasil conta que desde os 13 anos Irmã Dulce ia aos domingos, em companhia de seu pai e irmãos, ao Campo da Graça, torcer pelo Ypiranga.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj – arcebispo de São Salvador da Bahia – Primaz do Brasil

A proximidade da canonização de Irmã Dulce dos Pobres está nos fazendo descobrir histórias interessantes a seu respeito. O que emerge dessas histórias são aspectos humanos dessa figura encantadora que a cidade de Salvador e o estado da Bahia já conheciam, e que o Brasil mais e mais passa a conhecer e admirar. Quem poderia imaginar um santo ou uma santa que gostasse de futebol? Que tivesse seu time de preferência? E que exagerasse nos elogios a seu jogador preferido?

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Pois assim foi Irmã Dulce. A partir dos 13 anos, ia aos domingos, em companhia de seu pai e irmãos, ao Campo da Graça, torcer pelo Ypiranga. Fundado em 1906, o Ypiranga foi um os primeiros times do Brasil a aceitar a inclusão de jogadores negros. Maria Rita, nome de nascimento, Mariinha, para seus familiares, não escondia sua preferência pelo jogador Popó (Apolinário Santana), conhecido como “o craque do povo”, “o Terrível”. Provavelmente se unia à torcida, que cantava: “Não há fogueira sem brasa, não há mato sem cipó, não há partida animada, quando não joga Popó”.

O tempo não diminuiu o interesse de Irmã Dulce pelo futebol, a ponto de, já na década de oitenta, ao dar um testemunho a respeito de Popó, ter afirmado: “Popó era o meu preferido. Era um escuro com as pernas tornas. Se ele estivesse vivo hoje, ele seria Pelé. Ele era danado na bola!” Sem dúvida, exageros de uma santa…

O Ypiranga fez história: conhecido como “O mais querido” e, também, “aurinegro”, dadas as cores amarela e preta de seu uniforme, era o time de maior torcida em Salvador, na primeira metade do século passado, tendo conseguido dez títulos estaduais (o último, em 1951). Sua última participação na primeira divisão foi em 1999. Irmã Dulce tinha companheiros ilustres como torcedores ypiranguenses: Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro e o músico João Gilberto. Já quanto a Popó: mesmo tendo sido o maior craque baiano nas décadas de 20 e 30, e o maior ídolo da história do clube, morreu pobre. O futebol da época dava fama que encantava até os santos, mas não dinheiro.

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Aspectos como esse da vida de Irmã Dulce dos Pobres servem para nos mostrar que os santos têm como característica estarem sempre com os olhos voltados para o céu, mas com os pés sempre bem firmes na terra em que pisam. Longe de serem alienados, eles também sentem, sofrem, alegram-se e reagem como qualquer um de nós. A diferença está nas motivações que os dirigem, no equilíbrio que os mantêm em qualquer situação e na intensidade de seu amor por Deus e pelo próximo. Afinal, o mesmo futebol que alegra e diverte pode se tornar uma paixão doentia – essa, sim, inútil, alienante, cara e prejudicial.

Quanto ao Ypiranga: quem sabe agora tenha um novo e celestial impulso!

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