Depois de toda polêmica e das pendências judiciais que atrasaram o Projeto de Transposição do Rio São Francisco, o ministro da Integração Nacional, Pedro Brito, anunciou que as obras vão começar em fevereiro. Brito disse estar confiante que até lá será emitida a licença de instalação do projeto pelo Ibama.
As obras serão feitas inicialmente pelo Batalhão de Engenheira do Exército, até que as licitações sejam concluídas e as obras passem a ser feitas pela iniciativa privada. O uso do Exército foi um caminho encontrado pelo governo para não atrasar ainda mais as obras.
Segundo o ministro, o início das obras de transposição – agora batizado de Projeto de Integração do Rio São Francisco – terá a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que fará uma visita a Cabrobó, em Pernambuco, onde o Exército começará as obras. O Ministério da Integração Nacional já repassou, segundo Brito, R$ 100 milhões para o Ministério da Defesa. Esses recursos permitirão o início das obras.
Solução ou Problema?
A transposição que está sendo vista como solução pode não ser a salvação que muitos esperam, segundo o pesquisador João Suassuna- Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco a questão tem que ser tratada em bases mais científicas ao invés de decisões simplórias e descabidas, do tipo "vamos fazer, que depois os problemas surgidos serão resolvidos". Só que, dessa forma, os problemas podem não ter o remédio esperado e, mesmo que surjam algumas alternativas de solução, essas poderão ser inviáveis dado o custo elevado.
.: Saiba mais sobre a transposição
.: CNBB fala sobre Projeto de Transposição
No nosso modo de entender, alguns pontos têm que ser levados em consideração quando o assunto é transposição das águas: o primeiro, diz respeito à intensa evapotranspiração que existe no Nordeste semi-árido, que chega a alcançar patamares médios da ordem de 2000 mm anuais. Isso é um dado espantoso, se imaginarmos uma lâmina de 2 metros de água a céu aberto, em leitos naturais conforme o explicitado no projeto, perdendo-se anualmente para a atmosfera sem o mínimo uso, numa região de déficit hídrico, onde a média pluviométrica gira em torno dos 600 mm anuais.
O segundo, diz respeito ao consumo de energia para recalcar o volume de água pretendido. De acordo com os dados do projeto, a energia necessária para esse fim é equivalente àquela gerada em Sobradinho (1050 MW), ou seja, precisa-se ter uma Sobradinho inteira, funcionando 24 hs por dia, para manter o sistema operando satisfatoriamente, numa região em que estão previstos problemas de geração de energia elétrica já no ano 2000.
O terceiro, e talvez o mais importante, diz respeito à garantia de vazão do rio que assegure a geração de energia elétrica e a irrigação em suas áreas potenciais. O São Francisco é um rio que, no Nordeste semi-árido, corre inteiramente sobre o embasamento cristalino e, em decorrência disso, todos os seus afluentes têm regime temporário.
Este aspecto traz, como conseqüência, uma diminuição gradativa de sua vazão ao longo do ano, dada a diminuição e até a interrupção das vazões dos afluentes que fazem parte de sua bacia, agravada ainda, pelo uso consuntivo das águas na irrigação (águas utilizadas que não têm retorno ao rio).