Devoção

Tradicional Festa de Nossa Senhora Achiropita completa 94 anos

Festa acontece em São Paulo e celebra devoção que nasceu na Itália

Denise Claro
Da redação

Festa de Nossa Senhora Achiropita é celebrada há 94 anos (foto de edição passada)/ Foto: Divulgação

Neste sábado, 15, é celebrada a Assunção de Nossa Senhora. Juntamente com a data, é comemorada a festa de Nossa Senhora Achiropita. A paróquia, no bairro da Bela Vista (Bixiga), em São Paulo, é a única no Brasil dedicada a este título da Mãe de Deus. Achiropita significa “não pintada por mãos humanas”, e tem uma história surpreendente.

O título data do ano de 580, no Sul da Itália, quando um capitão enfrentou uma tempestade em alto mar. Gritava por socorro a Nossa Senhora e prometeu que, se fosse salvo com sua tripulação, construiria um santuário em sua homenagem. Conseguiu salvar-se, e um monge o aconselhou a construir a Igreja. Chamou um artista para pintar a imagem de Maria, mas tudo o que pintava durante o dia, desaparecia à noite. Colocaram um vigia para impedir que a pintura fosse danificada. Numa certa noite, uma formosa mulher, com uma criança no colo, pediu para entrar e rezar. Após insistir, obteve a permissão. Passou um tempo, e a mulher não saiu da Igreja. Quando o vigilante entrou, viu a imagem da mulher e do menino estampada no lugar da pintura apagada. O vigilante saiu gritando pelas ruas: Nossa Senhora Achiropita! Nossa Senhora Achiropita! (não pintada por mãos humanas).

Devoção no Brasil

Festa de Nossa Senhora Achiropita acontece no Bixiga, em São Paulo (foto de edição passada)/ Foto: Divulgação

Padre Antônio Bogaz é orionita, atua na Paróquia de Nossa Senhora Achiropita e conta que a devoção a Nossa Senhora Achiropita veio da região da Calábria, e trazida pelos imigrantes italianos para o Brasil no século XIX.

“Esta região é o antigo centro de São Paulo, e abriga muitos imigrantes e descendentes, que vieram com sua cultura e devoções. Nossa Senhora Achiropita é celebrada aqui desde então.”

A relações públicas da festa, Maria Emília Moitinho, acrescenta que os italianos recém-chegados ao Brasil sentiam muita falta da “Madonna”, como eles falavam, então mandaram fazer uma réplica da imagem que existia em Rossano, na Calábria.

“Em 1904, foi feita a imagem que nós temos hoje ainda no altar. Ela veio para o Brasil no porão de um navio, em caixotes de cebola. Quando chegou ainda não havia a igreja, ela ficava na casa dos italianos. Em 1910, eles fizeram um altar na rua, e fizeram a primeira festa. O bairro tinha muitas chácaras. Eram arrecadadas comidas, e as mamas faziam os assados para a festa. Com os leilões e a participação do povo, conseguiram construir a igreja.”

Cultura, devoção e ajuda aos mais pobres

A festa acontece sempre no mês de agosto. São mais de 30 barracas e mais de mil e duzentos voluntários que trabalham durante todo o ano na organização do evento. O público estimado é de cerca de 250 mil pessoas por ano. Além das Missas, novena, e a bênção que é dada de hora em hora, há muita música italiana, pratos típicos e atividades culturais.

Padre Antônio ressalta que, desde a chegada dos padres orionitas, a comunidade tem também um grande trabalho voltado aos pobres, missão que é sustentada pela festa de Nossa Senhora Achiropita.

“O objetivo da festa sempre foi fazer alguma coisa de bom. Primeiro, a construção da igreja, a pintura da igreja, e hoje são as obras sociais. Temos hoje uma obra que atende mais de mil pessoas diariamente. Tudo isso com a renda da festa”, confirma Maria Emília.

Solução para a pandemia: o delivery

Em 2020, as tradicionais comidas italianas podem ser pedidas por delivery (foto de edição passada)./ Foto: Divulgação.

Neste ano de 2020, acontece a 94ª edição da festa, mas de forma diferente, devido à realidade vivida no Brasil e no mundo com o coronavírus.

“A festa religiosa continua, com a novena que começou dia 6 e vai até dia 14. No dia 15, é o Dia de Nossa Senhora, e em vez da tradicional procissão que fazíamos no dia 16, queremos fazer uma carreata. O primeiro objetivo é a devoção em si, que temos a Nossa Senhora. Também por conta da tradição italiana, que queremos manter viva. Mas o objetivo principal é a caridade com os pobres, para podermos acolher aqueles que precisam, dando continuidade a esta missão. Com os ajustes, estamos fazendo tudo o que é possível”, diz Maria Emília.

Padre Antônio diz que a criatividade dos paroquianos e da comunidade movimentou a festa deste ano.

“Neste ano, estamos vivendo um pouco essa aflição de todas as instituições religiosas, que é a sobrevivência em meio a esta pandemia. Estamos procurando realizar trabalhos promocionais como o delivery dos alimentos tradicionais da festa, como a fogazza, o macarrão e os doces italianos. Algo simbólico, mas muito importante para manter a tradição. Estamos rezando e vivendo a espiritualidade de Nossa Senhora, e temos certeza que com Ela todos nós atravessaremos esta corredeira.”

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo