Artigo - Frei Moser

Terapia Gênica: Começa a brilhar a luz do bom senso

Festejos de fim de ano; carnaval; tragédia em Angra dos reis; supertragédias no Haiti e no Chile, fizeram com que as notícias atinentes aos avanços da biogenética ficassem onde deveria estar: numa posição mais discreta. Nos dias 9 e 11 do corrente mês de março a genética retornou às manchetes, mas desta vez com muito maior ponderação.

Uma das notícias é referente à leitura completa do DNA não mais resultante de uma busca meramente científica, como foi o caso da leitura do DNA de James Watson, um dos que desvendaram a estrutura básica do material genético. Agora a leitura tinha um paciente bem específico, portador de uma configuração genética que aponta para a probabilidade de ser afetada pela mesma doença de seus pais.
           
Claro que a predição de uma doença que ainda não se manifestou traz consigo uma série de vantagens na linha do conhecimento do que poderá acontecer, em vista de medidas preventivas e personalizadas. A razão de fundo de tantas pesquisas é sempre a mesma: buscar resultados clínicas na esperança de evitar, ou ao menos curar doenças até hoje tidas como incuráveis.

A notícia referente à essa leitura desta vez representou de fato um avanço, não tanto de cunho estritamente clínico, quanto de cunho ético. Junto com a notícia, por sinal um pouco menos sensacionalista do que as costumeiras nesta área, se dá destaque às interrogações que esses avanços representam. Afinal, antever uma doença de cunho genético, mas para a qual ainda não temos perspectivas de cura será um bem para a pessoa e para a sociedade, ou só irá disparar uma série de inquietações de ordem psicológica e emocional?

A segunda notícia na área da genética brotou das declarações de um nome destacado no campo das pesquisas, e em visita ao Brasil. Trata-se do americano Gerald Schatten, que há alguns anos atrás, juntamente com um coreano (Hwang Woo-Suk) teria participado de uma farsa de grande envergadura. Apesar desta parceria infeliz, suas declarações jogaram água fria nos que alardeiam perspectivas de curas sensacionais e imediatas a partir da manipulação genética.
      
Apesar de ele pessoalmente não descartar pesquisas com embriões, o que é eticamente indefensável, teve a lucidez de chamar a atenção para dois aspectos fundamentais. Primeiro: esperar resultados a curto prazo no campo da terapia gênica é fazer o papel dos alquimistas da Idade Média. Segundo: se por acaso um dia se conseguir algum êxito, células tronco nunca serão uma panacéia para resolver todos os problemas humanos.

Conclusão: diante dessas duas notícias se começa a entender o por que do silêncio dos nossos pesquisadores que, na ânsia de ver aprovada a liberação de embriões para pesquisas, prometiam milagres e a curto prazo. Logo depois passaram a jogar as curas milagrosas mais para frente. Hoje simplesmente se recolheram para fazer o que sempre deveriam ter feito: acender a luz do bom senso e buscar, pacientemente maneiras mais éticas e mais seguras de ajudar os portadores de deficiências.


Frei Antônio Moser é Diretor Presidente da Editora Vozes, professor de Teologia Moral e Bioética no Instituto Teológico Franciscano (ITF) em Petrópolis (RJ), membro do Conselho Administrativo da Diocese de Petrópolis, Pároco da Igreja de Santa Clara, membro da Comissão de Bioética da CNBB, Coordenador do Comitê de Pesquisa em Ética da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), além de conferencista no Brasil e no exterior. Escreveu 25 livros e inúmeros artigos científicos para revistas nacionais e internacionais. Além disso, desenvolve intensa atividade pastoral, sendo um dos grandes especialistas brasileiros em Pastoral Familiar e Bioética.

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