Dados IBGE

Sociólogo comenta baixa taxa de natalidade

A Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada ontem, 24, pelo IBGE, revela que quase dois milhões de casais não têm filhos, preferindo dedicar-se à carreira e ao lazer.

Segundo o sociólogo e professor da USP, Dr. Antônio Flávio de Oliveira Pierucci, as taxas de natalidade vêm diminuindo gradativamente nas últimas décadas, em decorrência do intenso processo de modernização capitalista, vivido no País, onde há uma profissionalização, cada vez maior, dos homens e, atualmente, das mulheres.

Esta profissionalização das mulheres é uma novidade no Brasil. Para o sociólogo, as mulheres recém-casadas, que lutaram para conseguir uma profissão, preferem esperar e ver o rumo que vai tomar seu trabalho.

"As pessoas estão vivendo uma situação, para a qual foram levadas. Um processo que todo mundo deseja e todo mundo quer, que é o progresso econômico, e este progresso implica isso", explicou.

Mas, em contrapartida, Pierucci diz que as conseqüências disso, não são nada boas. A população não vai continuar a se repor no nível em que está agora. Para isso, seria necessário que cada casal no Brasil tivesse pelo menos dois filhos.

E, de acordo com o sociólogo, isso já não acontece há algum tempo. "Hoje, a média da taxa de natalidade já é menor do que dois filhos por casal. O sinal vermelho já começou a piscar a algum tempo", destacou.

Ele explica que, com a diminuição da natalidade, haverá cada vez menos crianças e, conseqüentemente, virá o envelhecimento da população, com um grande percentual de idosos. Os aposentados não trabalham mais e dependem, por direito, da Previdência Social. Isso vai começar a pesar na dívida pública, por que a previdência vai fazer dívidas para sustentar as pessoas idosas, que tem seus direitos reconhecidos.

Pierucci diz que é preciso entender que as famílias tem dificuldades de ter muitos filhos, e destaca que os cientistas sociais, de forma geral, explicam que foi o próprio desenvolvimento econômico do Brasil, neste modelo capitalista, que levou à idéia de que um filho é muito caro. "Ele precisa da alimentação, atendimentos médicos, pré-natal, pediatras, depois tem os investimentos com os diferentes cursinhos, natação, judô, balé, curso de línguas", exemplificou.

Mas, como as pessoas não estão convencidas de que isso é um problema, não vão pensar numa saída e destaca a necessidade de se começar a discutir esse assunto. "Cada um tem que buscar uma solução, e quanto mais se discute o problema, mas podem aparecer soluções", concluiu Pierucci.

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