Apaes promovem atividades para conscientizar sobre a inclusão de portadores de deficiência intelectual e múltipla; pais contam como lidam com o preconceito
Denise Claro
Da Redação
Do dia 21 ao dia 28 de agosto é comemorada no Brasil a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. A iniciativa é da FEAPAE, Federação Nacional das Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), que lança o tema anualmente para que possa ser trabalhado a nível municipal. Neste ano, o tema é “A inclusão se conquista com autonomia”.
Rita Longuine, diretora da Apae de Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba (SP), ressalta a necessidade de se abordar o assunto. “É muito importante conscientizar a população em relação à inclusão. Esta inclusão é muito abordada na teoria, até mesmo na mídia. Mas na prática, as pessoas são muito resistentes a ela. Ainda existe muito preconceito. Ao olhar uma criança com deficiência, as pessoas têm medo que ela possa agredir, bater, morder, e não é assim.”
Para a diretora, o preconceito começa nas famílias. “Em primeiro lugar, é necessário que a família aceite o filho que tem, que saia com ele na rua, que o leve à Missa, a festas de aniversário e ao mercado. Muitas vezes, para a própria família, é mais cômodo deixá-lo trancado em casa, devido às dificuldades de locomoção e ao sentimento de vergonha, por não ser fácil enfrentar os olhares na rua. Eu sempre digo aos pais: ‘Deixem que olhem, não esconda seu filho’. Para a criança é importante esta socialização, pois ela tem limitações, mas também tem potencial.”
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O casal Jorge Peixoto e Heloísa sabem bem disso. Seu filho Josué foi adotado com poucos dias de vida. Três meses depois, perceberam que, além de chorar muito, a cabeça do bebê não crescia. Eles o levaram ao pediatra, que os encaminhou ao neurologista. Após vários exames, a notícia: Josué tinha Microcefalia. Além disso, foi-lhes dito que o filho viveria apenas cinco anos, aproximadamente.
Heloísa conta que foi um choque: “Saímos do consultório e fomos para a Igreja. Rezamos juntos e pedimos a Deus forças para enfrentar o que viesse pela frente. Dissemos a Deus que quando recebemos o nosso filho, o fizemos com alegria, e naquele momento de dor, renovávamos o nosso sim. Deus nos prometeu em oração que nos sustentaria e estaria sempre conosco”.
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Josué completou 32 anos este mês, e para os pais, sua vida é uma vitória de Deus. Em relação ao preconceito, Heloísa diz que ele existe: “O preconceito dói, ficamos tristes por ele existir. E é uma situação que pode acontecer com qualquer um. Quando eu posso, eu falo: ‘Ele não é um coitadinho’. Entendemos que, como pais, nossa missão é dar a ele a oportunidade de viver uma vida plena, dentro das possibilidades dele.”
Lidando com o Preconceito
A semana foi instituída em 1964 e é um esforço nacional coordenado no sentido de sensibilizar e conscientizar a sociedade em geral e o governo, nas suas diferentes esferas, sobre os direitos fundamentais da cidadania plena das pessoas com deficiência.
Segundo o Censo 2010, mais de 45 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência. Destes, 1,4% têm deficiências mentais ou intelectuais. Segundo a ONU, o número de pessoas portadoras de deficiências múltiplas é de 1 milhão e 700 mil pessoas no país. O número é preocupante, e torna relevante a existência de ações que busquem uma maior conscientização da população. Um dos maiores desafios é o preconceito.
Zélia e Antônio Carlos são pais de Mateus, de seis meses. A notícia foi dada na hora do parto, quando a pediatra percebeu que ele trazia as características da Síndrome de Down. No pré-natal, os exames não haviam acusado nenhuma alteração. “Nossa reação foi tranquila, a preocupação maior era em relação às consequências que a síndrome carrega em nível de patologia. Apesar do espanto, Mateus foi amado e acolhido como seria de qualquer forma.”
Quando perguntada sobre o preconceito, Zélia respondeu que ainda não viveram nenhuma situação. “Graças a Deus ainda não tivemos nenhuma experiência desagradável, mas acredito que isso também acontece porque não escondemos de ninguém nosso filho. Faço questão de apresentá-lo e explicar sobre a síndrome, sobre os tratamentos que faz, como a fisioterapia e a fono. O preconceito começa dentro de casa. Se nós não temos, a receptividade das pessoas é maior.”
As mais de duas mil Apaes de todo o Brasil têm buscado, segundo o site oficial, preparar as pessoas com deficiência para cumprir seus deveres, beneficiando sua inclusão educacional, profissional, cultural e social. Além disso, os profissionais lutam para que os direitos dessas pessoas sejam amplamente estabelecidos e se consolidem, valorizando a diversidade e promovendo a dignidade, pois entendem que este é um valor intrínseco ao ser humano.