Membros do Apostolado da Teologia do Corpo indicam ensinamentos de São João Paulo II na educação sexual de crianças e adolescentes
Julia Beck
Da redação
Sexualidade. O tema, que por anos era tido como um tabu ou um assunto que precisava ser evitado, é defendido pelo psicólogo e terapeuta familiar Élison Santos como algo que deve ser falado e explicado logo na infância. “A sexualidade faz parte de uma realidade da nossa vida, uma realidade psíquica e emocional que está ligada ao nosso corpo”, esclarece. O terapeuta detalha como assunto deve ser tratado pelos pais.
“Cada idade exige um nível de conversa: as crianças precisam saber o que são os órgãos genitais, seus nomes, quais são as funções deles, e compreender o sentido da vida. (…) Sobre a pré-adolescência, infelizmente, nas escolas já se fala muito de sexo, então os pais precisam introduzir esse assunto antes para que as crianças não aprendam com os amigos, com a escola e com a internet. É preciso que eles aprendam segundo uma visão de responsabilidade. Lá para os 10, 11 anos já é preciso falar praticamente sobre tudo”, revela o psicólogo.
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Um estudo divulgado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de dezembro de 2019, mostrou uma busca precoce pelo prazer sexual entre os jovens. Segundo a pesquisa, a incidência de iniciação sexual precoce é duas vezes maior entre estudantes com pais permissivos ou negligentes. Santos explica que a afetividade e a imposição de limites são duas grandes ações na educação dos filhos, pois passam segurança para que a criança se sinta capaz de explorar o mundo. A falta delas, destaca o terapeuta, pode levar os filhos a buscarem uma compensação por meio da prática sexual.
A negligência é, para o psicólogo, a pior das ações na educação dos filhos, pois gera a falta destes dois pilares de formação: afetividade e limites. “Isso tem acontecido muito. Pais que se comportam como adolescentes e que não dão amor e limites aos filhos. Estudos indicam que pré-adolescentes e adolescentes que começam a vida sexual muito cedo têm a maior probabilidade de desenvolverem problemas psicológicos, principalmente a depressão”, alertou.
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A religião é vista pelo psicólogo, como uma ótima aliada na descoberta da verdadeira razão e do sentido da sexualidade. “A infância e na adolescência são fases de desenvolvimento. O ser humano está se preparando para a vida adulta. Na vida adulta, o cérebro é capaz de compreender o mundo e assumir responsabilidades. Todo ato sexual tem em si uma possibilidade de ter como consequência uma outra vida”.
“A sexualidade tem que estar submetida à razão. (…) A religião oferece essa moral sobre o sentido da vida, do amor, e isso é importantíssimo e ajuda as pessoas a se desenvolverem e a desenvolverem a sexualidade de forma saudável”. Para que os jovens compreendam de forma positiva a necessidade de espera para a iniciação de uma vida sexual, Santos reforça que a castidade deve ser vista não como uma regra, mas como um valor.
Membros do Apostolado da Teologia do Corpo, Marcelo Pastre e Viviane Pastre defendem a Teologia do Corpo, de São João Paulo II, como uma importante aliada na educação dos filhos e no combate a conceitos errados que são difundidos amplamente às crianças e adolescentes. O casal comenta que existe um desdobramento da Teologia do Corpo para se falar de sexualidade e afetividade com crianças e adolescentes de maneira simples e prática.
A “Teen Star”, de acordo com Marcelo e Viviane, é um programa internacional de Educação holística em Sexualidade Humana. “Com toda certeza se os pais aprenderem o verdadeiro significado do corpo através das catequeses de São João Paulo II eles poderão auxiliar seus filhos para a vivência de uma sexualidade integrada”, defendem.
Teologia do Corpo
A Teologia do Corpo é um conjunto de 133 catequeses proferidas por São João Paulo II entre os anos de 1979 à 1984, focadas no Amor Humano no Plano Divino. Segundo Marcelo e Viviane, este conteúdo busca descrever quem é o ser humano e qual é o itinerário da sua existência: de onde veio, onde está e para aonde vai. “Podemos dizer também que a Teologia do Corpo é um estudo de Deus através do corpo, afinal de contas: ‘O Verbo se fez Carne e habitou entre nós’”, completa Marcelo.
Sobre a tese central de São João Paulo II, o casal conta que tem como objetivo afirmar que o sentido do ser humano e de sua existência passa pelo sentido esponsal, que significa tornar-se um dom. Essa doação ao outro reciprocamente gera comunhão de pessoas: “Comunhão das pessoas significa existir num recíproco”, relata Viviane. São João Paulo II explica que o homem se tornou “imagem e semelhança” de Deus não só mediante a própria humanidade, mas ainda mediante a comunhão de pessoas, que o homem e a mulher formam desde o princípio. (TdC 9:3) Tudo isso é constatado, através de todo o ser da pessoa: corpo da alma.
Ao retomar perguntas como: “quem eu sou, quem me constituiu e para que fui feito?”, Marcelo e Viviane declaram: “A já foi dada: servimos para Amar, isto é, para se doar aos outros. E é nisto que encontraremos o sentido do nosso ser e existir!”.
O corpo e o sexo
“O corpo humano é a imagem e semelhança de Deus. A Igreja reconhece o corpo humano como criatura de Deus e tudo o que Deus criou é bom! Como é que o corpo seria algo ruim se ele foi criado para ser sinal de Deus? Toda a constituição dos sexos – masculinidade e feminilidade – culminam naquele ápice da doação que se unem tão intimamente a ponto de se tornar uma só carne, através do sacramento do matrimônio!”, opina Viviane.
A partir disto, o casal esclarece que sexo é o masculino e o feminino. “Ninguém faz sexo – os casais se doam um ao outro em um dom recíproco de comunhão. Inclusive o casal que recebe o sacramento do matrimônio no leito nupcial vive a consumação da Palavra proclamada no ato nupcial – experienciando a íntima comunhão. Justamente pelo fato da sua constituição corpórea ser complementar”.
Marcelo e Viviane alertam que a compreensão errada destes conceitos culminam em uma sociedade materialista e utilitarista. O casal frisa que infelizmente o sexo é confundido de maneira muito equivocada com a genitalidade. “O uso dos genitais para se obter prazer apenas pelo prazer (usando as pessoas como objeto) de maneira desordenada é o que confunde.
Castidade e matrimônio, depois a sexualidade
“A Teologia do Corpo nos mostra que o ser humano é chamado a viver a castidade em todos os momentos da sua vida independente da sua vocação: para os celibatários, viver a castidade por amor ao reino dos céus; para os casais, viver a castidade na doação reciproca, aos filhos e na comunhão íntima – ápice da doação – vivida no seu leito nupcial. Todos buscando, assim, a ‘integridade e a integralidade da doação’”, sublinha Marcelo.
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Padre Adriano Zandoná, membro da Comunidade Canção Nova, destaca que é preciso respeito ao corpo e aintimidade. “O ato sexual não é somente corporal, é uma linguagem na qual o corpo diz: eu sou teu para sempre. Quando não há maturidade e um vínculo matrimonial que suporte essa relação, o corpo e a alma estão dizendo algo mentiroso, que não tem relevância na vida prática”, reforçou. A prática da sexualidade antes do amadurecimento da decisão matrimonial gera, de acordo com o sacerdote, frustrações e ferimentos na alma.
“O sexo é no casamento, na intimidade. Quando uma pessoa se casa, pressupõe-se que ela assume o outro. O matrimônio é o selo sacramental, após a constatação de uma estabilidade da relação construída e o compromisso de uma entrega para a vida inteira. Viver tudo isso de maneira precoce, deixa marcas. Com este ensinamento a Igreja não está impedindo a liberdade, mas ajudando a pessoa a ser livre”, concluiu.