Especialista lembra que papel da mulher é importante para tornar o mundo mais humano
Élison Santos*
O mundo azul das mulheres
Desde que temos conhecimento, a vida nunca foi fácil para as mulheres, o mundo sempre foi mais azul do que rosa, embora estas convenções de cores parecem estar deixando de fazer diferença, o mundo está mudando, os homens hoje também vestem rosa. Mais do que cores, o mundo feminino conquistou lugar nos ambientes de trabalho, na política e nas tomadas de decisão, conquistou direitos que hoje parecem óbvios para as novas gerações, mas que outrora não faziam sentido para as sociedades machistas. Do direito a uma vida sexual satisfatória dentro do próprio casamento, porque para muitas nem isto era permitido, até poder possuir cargos de liderança em grandes multinacionais, o maior desafio para a mulher continua sendo compreender e lidar com o homem.
Nesta semana, assisti a dois filmes, Spotlight e As Cartas de Madre Teresa, dois filmes que recomendo e que tive a alegria de assistir nesta mesma sequência. O primeiro nos mostra o lado doentio de um sistema de poder masculino onde alguns padres puderam utilizar de seu lugar na sociedade para abusar da confiança de muitas crianças e suas famílias e ainda serem acobertados em uma negação da verdade que pregavam. Um filme que choca, mas que também revela a insensibilidade que não falta no mundo feminino e que, por esta razão, tem tanto a contribuir para a transformação da sociedade. É exatamente o que se vê no segundo filme sobre Madre Teresa, a história de uma jovem que decide entregar sua vida aos pobres mais pobres da Índia e que desconcertou o mundo sócio-político durante mais de seis décadas fazendo o bem, em uma entrega de si mesma ao sacrifício do amor pelo próximo. Uma entrega que teve o reconhecimento social quando recebeu o Prêmio Nobel da Paz, uma prova de que o mundo tem sede de uma sensibilidade feminina que lhe mostre o que de fato é importante.
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O mundo ainda é mais azul, mas tem se tornado um lugar melhor para se viver à medida que a mulher encontra mais espaço. O pesquisador Steven Pinker revela em seu livro Os anjos bons da nossa natureza as razões pelas quais a violência vem realmente diminuindo no mundo e uma destas razões se deve ao fato de a mulher estar mais presente nas tomadas de decisão, tanto no mundo organizacional como no mundo político.
A família é o lugar mais importante da sociedade humana, nela aprendemos como deve ser uma dinâmica social, em que homem e mulher são co-dependentes e não importa quão diferente sejam os papéis que exerçam, ambos possuem a mesma dignidade e o mesmo grau de importância nesta dinâmica. Quando o homem se sente superior, invariavelmente ele tende à opressão, não somente diante da mulher, mas também diante dos outros homens. Ao analisarmos a vida dos ditadores e tiranos que fizeram história em diferentes partes do mundo, veremos não apenas o desrespeito para com seu povo no âmbito político, mas também o desrespeito para com a mulher no âmbito privado. O caráter de um homem se revela em como ele trata sua esposa e também as outras mulheres ao seu redor.
Respeitar as diferenças
Homens e mulheres são diferentes e compreender estas diferenças é essencial para se construir um bom convívio em casa e na sociedade. O machismo não surgiu do acaso, mas de ideias equivocadas acerca da vida humana, ideias que foram perdendo sentido à medida que fomos desenvolvendo as ciências humanas, em especial, a psicologia. Hoje, por exemplo, alguns insistem na ideia de que o gênero é constituído pela cultura, mas não são poucos os estudos que provam o contrário. Desde os traços físicos externos, o tamanho de alguns órgãos vitais, os órgãos sexuais, até os aspectos psíquicos e a forma com que o cérebro funciona, tudo destaca diferenças que fazem com que homens e mulheres sejam de fato seres que se complementam, justamente devido a suas diferenças.
Um dos estudos publicados na Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA corrobora a ideia de que os meninos não escolhem os carrinhos como brinquedos porque são influenciados pelo meio, mas porque sua estrutura cerebral busca objetos que lhe façam mais sentido e que expressem movimento e aerodinâmica, por exemplo. A experiência foi feita com 34 macacos rhesus que demonstraram o mesmo interesse que os meninos humanos. Outras pesquisas neurológicas indicam que os neurônios no cérebro feminino se comunicam mais entre os hemisférios esquerdo e direito, de um lado para o outro, o que faz com que as mulheres tenham mais facilidade com a linguagem verbal e a intuição, por exemplo, enquanto que nos homens a maior comunicação acontece entre a parte da frente do cérebro e a parte de trás, o que faz com que os homens tenham mais facilidade em raciocínios especiais.
A história nunca se desenvolveu tanto como no último século, isto também está relacionado ao avanço da figura feminina, não como superiora, mas como parceira do homem na construção de uma civilização verdadeiramente do amor. É bem provável que compreendendo as diferenças, homens e mulheres possam potencializar ainda mais suas capacidades específicas e construir relacionamentos mais saudáveis e duradouros, desenvolver formas mais efetivas de se educar os filhos e soluções mais eficazes para os problemas sociais, ao final das contas, este mundo mais que azul, deve ser um mundo mais humano.
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* Élison Santos, Psicólogo e Palestrante. Atende adultos e adolescentes e é Terapeuta de Casais em São José dos Campos. Realiza aconselhamento psicológico Online através do Skype. É especialista em Análise Existencial e Logoterapia pela Pontifícia Universidade Católica de Curitiba. Oferece Cursos Online sobre relacionamento e comportamento humano em sua página www.elisonsantos.com. É participante do Programa Trocando Ideias.
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