Ano Missionário

Projeto Igrejas Irmãs despertou vivência missionária no Brasil, diz padre

Iniciativa completa 50 anos de existência em 2022; conheça o testemunho de quem vive, na prática, este projeto 

Julia Beck 
Da redação

Padre Leonardo, missionário pelo Projeto Igrejas Irmãs em Óbidos (PA) /Foto: Arquivo Pessoal

O Projeto Igrejas Irmãs completa, em 2022, 50 anos de existência. Criado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a iniciativa consiste em uma rede que compartilha dons espirituais, humanos e materiais entre as igrejas.

“Uma diocese ou arquidiocese ajuda financeiramente outra diocese e envia missionários e missionárias. É um projeto que se faz entre duas igrejas e de cooperação missionária. Dioceses com realidades sociais e culturais distintas se tornam ‘Igrejas Irmãs’”, explica o diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM), padre Maurício Jardim.

Padre Maurício Jardim é diretor das Pontifícias Obras Missionárias./ Foto: POM

O desafio, segundo o presbítero, é lançado para que as igrejas que tenham mais condições ajudem igrejas localizadas no Norte do país, sobretudo na Amazônia.

De acordo com a Comissão da Ação Missionária da CNBB, entre as 277 Igrejas Particulares no Brasil, 54 delas abraçaram o Projeto Igrejas Irmãs. A Arquidiocese de Juiz de Fora (MG) é uma delas.

Experiência marcante

O arcebispo de Juiz de Fora (MG), Dom Gil Antônio Moreira, conta que conheceu a iniciativa enquanto ainda era seminarista. “É uma das coisas mais maravilhosas que temos no Brasil”, destaca.

O prelado, inclusive, foi missionário do projeto quando ainda tinha 28 anos de idade. Natural da Diocese de Divinópolis (MG), passou seis meses em missão na Prelazia de Tefé, localizada no centro-oeste do estado do Amazonas.

“Aquela experiência marcou toda a minha vida, a minha vida de padre e também de bispo. Aprendi a ser igreja missionária vivendo seis meses em Tefé”, conta.

Igrejas Irmãs

A Arquidiocese de Juiz de Fora (MG) tem como Igreja Irmã a Diocese de Óbidos (PA). Dom Gil conta que, aos poucos, a arquidiocese foi assumindo trabalhos na diocese. Juiz de Fora tem agora uma paróquia em Óbidos: a Paróquia São Martinho de Lima. A igreja local é mantida pela arquidiocese.

Dom Gil Antônio, arcebispo da Arquidiocese de Juiz de Fora (MG) /Foto: Arquivo Pessoal – Dom Gil

Todos os padres recém-ordenados em Juiz de Fora passam ao menos seis meses em missão em Óbidos. “A ação evangelizadora cresceu muito na nossa Arquidiocese. (…) O nosso trabalho missionário foi muito ajudado pelo Projeto Igrejas Irmãs”, comenta Dom Gil.

O prelado conta que a Arquidiocese também assumiu uma frente missionária no Haiti, mas o trabalho precisou ser pausado por conta da pandemia da Covid-19.

Atualmente, padre Leonardo Loures é quem está em missão em Óbidos. Ele é pároco da Paróquia São Martinho de Lima. O arcebispo esclarece que os custos para manter os missionários que vão de Juiz de Fora para Óbidos e vice-versa são exclusivamente da arquidiocese.

Atividade em Óbidos

Padre Leonardo conta que exerce todas as funções que cabem a um pároco em Óbidos. O trabalho vai desde a assistência sacramental, o acompanhamento das pastorais e movimentos, a assistência às comunidades até a administração financeira da Paróquia.

A dificuldade de deslocamento para atender as comunidades e manter financeiramente a paróquia são dois grandes desafios enfrentados pelo presbítero.

Padre Leonardo em Óbidos (PA)/ Foto: Arquivo Pessoal

“A grande experiência é a do encontro, o encontro com outras culturas, outros ritmos, outros povos, outras formas de compreensão e vivência da vida, da fé e sua religiosidade”, diz o padre sobre a experiência missionária vivida diariamente. 

“Para este encontro acontecer tive que despojar-me dos prejuízos e dos preconceitos, tive que abandonar parte da minha bagagem para que eu pudesse entrar no espaço dos outros (povos e culturas), por isso vejo a inculturação como uma ferramenta básica e indispensável para a missão”, relata.

Experiência missionária

Padre Leonardo partilha que já visitou comunidades muito precárias. Mesmo sem terem bens materiais, os fiéis afirmavam ao sacerdote que para estarem completos faltava apenas a presença da Igreja.

O sacerdote revela que já se deparou com comunidades que, mesmo não contando com a presença de um padre há anos, ergueram uma igreja como sinal de fé.

O presbítero ressalta que essa vivência aberta com outra cultura e outros povos é capaz de transformar as pessoas. “Após alguns anos dessa vivência, vejo hoje o quanto o meu ministério modificou, hoje o que sou é fruto da minha história de vida, já marcada pela vivência e experiência com o povo amazônico”.

Batizado em Óbidos (PA)/ Foto: Arquivo Pessoal

Servir a Igreja

Ao todo, 14 sacerdotes e três leigos de Juiz de Fora já trabalharam na Diocese de Óbidos. Mais de 40 outros leigos já visitaram a Diocese de Óbidos para uma experiência missionária, entre eles seis seminaristas.

Por outro lado, cerca de 15 leigos de Óbidos já visitaram Juiz de Fora, para a mesma experiência. Quatro seminaristas de Óbidos foram enviados para o seminário Arquidiocesano de Juiz de Fora para os seus estudos, sendo que um deles hoje já é sacerdote e compõe o clero da Diocese de Óbidos.

O Projeto Igrejas Irmãs mudou completamente a visão do “ser padre” na Arquidiocese de Juiz de Fora, aponta padre Leonardo.

Se antes os presbíteros se prendiam à missão de exercerem seus ministérios apenas no território arquidiocesano, hoje o missionário explica que eles compreendem a importância de servir a Igreja e suas necessidades, independentemente do local.

Padre Leonardo durante missão em Diocese de Óbidos (PA)/ Foto: Arquivo Pessoal

Ano Jubilar Missionário 2022

O assessor da Comissão para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial da CNBB e secretário-executivo do Conselho Missionário Nacional (Comina), padre Daniel Luz Rocchetti, SAC, recorda que a celebração dos 50 anos do Projeto Igrejas Irmãs faz parte do Ano Jubilar Missionário 2022.

O diretor das Pontifícias Obras Missionárias (POM) – que participa do Comina, padre Maurício Jardim, explica que este ano comemorativo celebra importantes datas nacionais e internacionais.

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Em nível internacional, serão celebrados: 400 anos de criação da Congregação para Evangelização dos Povos e três aniversários das quatro Obras Missionárias: 200 anos do nascimento da Pontifícia Obra da Propagação da Fé (POPF), o centenário do motu próprio Romanorum Pontificum do Papa Pio XI e os 150 anos do nascimento do beato Paolo Manna, PIME, fundador da Pontifícia União Missionária (PUM).

No âmbito nacional, os motivos jubilares são: 50 anos de criação do Conselho Missionário Nacional (COMINA); 50 anos das Campanhas Missionárias; 50 anos dos Projetos Igrejas Irmãs; 50 anos do Conselho Missionário Indigenista (CIMI), 50 anos do Documento de Santarém, 60 anos do CCM e 70 anos da criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Projeto da CNBB

Padre Daniel Luz Rocchetti /Foto: Arquivo Pessoal

No ano 1971, padre Daniel lembra que a CNBB visitou Igrejas locais no Norte e Nordeste e ficou impactada com a falta de padres e recursos naquelas regiões.

Um ano depois, em 1972, uma Diocese localizada no sul do país enviou missionários para Dioceses no Norte e Nordeste. Este fato é considerado o coração do Projeto Igrejas Irmãs, indica o assessor da Comissão para a Ação Missionária da CNBB.

Maior conscientização da vivência missionária, este é o principal fruto dos 50 anos desta iniciativa para a Igreja no Brasil, comenta padre Daniel. O presbítero aponta o engajamento dos leigos e leigas como outro benefício do projeto.

É preciso evangelizar

“Ainda existem muitas dioceses que não abraçaram o Projeto Igrejas Irmãs. É preciso entendermos que a Igreja nasceu para evangelizar. O Papa Francisco em mensagem para o Dia Mundial das Missões 2022 é taxativo: a Igreja nasceu para evangelizar”, reforça.

Olhar além das fronteiras e estender a mão para ajudar é o pedido do padre Daniel. “A Igreja sempre vai ter necessidades próximas de nós. Se não tivermos um coração largo, não nos deixaremos impactar pelas necessidades de outras realidades e não sairemos em missão”, sublinha.

Jesus ensina a ter um coração compassivo, afirma o assessor da Comissão para a Ação Missionária da CNBB. Ele lembra que, desde 2017, a CNBB pede às dioceses e arquidioceses que não se fechem nelas, mas se abram à missão ad gentes.

Padre Maurício conta que uma das ações do Programa Missionário Nacional é justamente que cada igreja particular, cada diocese tenha uma “Igreja Irmã”. “As Pontifícias Obras Missionárias, que têm o objetivo de despertar a consciência missionária universal em todo o povo de Deus, se coloca como parceira deste projeto”.

Igreja em saída

A Igreja em saída, um apelo do Papa Francisco, visa fazer com que homens e mulheres entendam que a concretude da vida cristã é viver os sacramentos de maneira plena, testemunhando Jesus de maneira plena, aonde ele ainda não é conhecido, indica padre Daniel.

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O presbítero reforça que o Projeto Igrejas Irmãs atende ao clamor do Papa Francisco por uma Igreja em Saída. “As Igrejas diocesanas podem estar organizadas e em ordem, mas se elas não saem em missão, então falta alguma coisa”.

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