ENTREVISTA

Prevenção da Obesidade: 119 milhões de brasileiros estão acima do peso

No Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, especialista alerta sobre os perigos do sobrepeso à saúde, o que acomete 34,66% da população brasileira

Thiago Coutinho
Da redação

Neste 11 de outubro é recordado o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade / Foto: i yunmai por Unsplash

No mundo todo, estima-se que haja 1 bilhão de pessoas que sofra com o peso excessivo. No Brasil, a obesidade atinge 119 milhões de pessoas. De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), do Ministério da Saúde, 34,66% da população está com algum nível de obesidade. E para reforçar os cuidados com o peso excessivo e o quão nociva a doença pode ser, é recordado neste sábado, 11, o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade.

Para discutir o assunto, o noticias.cancaonova.com traz uma entrevista com a endocrinologista Lívia Marcela dos Santos, que fala sobre os principais benefícios de quem combate o sobrepeso, os perigos que cercam quem não deixa a vida sedentária, a importância de uma vida ativa entre outros temas.

A endocrinologista Lívia Marcela / Foto: Arquivo Pessoal

noticias.cancaonova.com — Segundo o Atlas Mundial de Obesidade 2025, no Brasil, 31% da população adulta vive com a obesidade e 68% tem excesso de peso. Quais são as principais causas que levam os brasileiros a estarem acima do peso?

Lívia Marcela O documento aponta que a obesidade é multifatorial, resultado da interação entre fatores genéticos, ambientais e comportamentais. O Brasil tem 31% de adultos com obesidade e 68% com excesso de peso. Entre as causas estão: dieta ultraprocessada, rica em açúcares, gorduras e sódio. Sedentarismo e baixa atividade física. Privação de sono e estresse crônico, que alteram o metabolismo e aumentam o apetite. Fatores socioeconômicos e culturais que limitam acesso a alimentos saudáveis e espaços de exercício.

noticias.cancaonova.com — O sedentarismo é uma das principais causas relacionadas diretamente com o excesso de peso. As pessoas costumam se queixar do quaão difícil é manter uma rotina de exercícios físicos periódicos. O corpo, num primeiro momento, responde de maneira negativa às primeiras tentativas de abandono da vida sedentária. Quais são as dicas para quem tenta e não consegue manter a rotina de exercícios?

Lívia Marcela A diretriz reforça que mudança de estilo de vida é a base do tratamento, mas deve ser progressiva e realista. Comece com 150 minutos semanais de atividade aeróbica, divididos em pequenos blocos. Aumente gradualmente a intensidade. Busque exercícios prazerosos (dança, caminhada com amigos, natação). O apoio profissional e psicológico é essencial, o abandono inicial é comum porque o corpo sente o esforço, mas a consistência reverte a resistência fisiológica e mental.

noticias.cancaonova.com — Exercícios físicos e dieta precisam andar de mãos dadas? Aquela velha máxima popular, “eu treino para comer”, é contraditória? Qual é a importância de uma dieta equilibrada e o papel dos macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) no manejo da obesidade e na manutenção de um peso saudável?

Lívia Marcela Sim, a diretriz deixa claro que atividade física e alimentação saudável são complementares. A máxima “eu treino para comer” é contraditória, pois sem reeducação alimentar, o balanço energético positivo permanece. Os macronutrientes que têm papéis centrais são as Proteínas, pois preservam a massa magra e saciedade; os Carboidratos complexos: fornecem energia sustentada; Gorduras boas, que são essenciais para equilíbrio hormonal e absorção de vitaminas. O foco deve ser alimentação balanceada e redução de ultraprocessados, não dietas restritivas.

noticias.cancaonova.com — Qual é o principal método utilizado para diagnosticar a obesidade e quais são três sinais de alerta importantes que devem motivar a busca por tratamento médico?

Lívia Marcela O IMC [Índice de Massa Corporal, é uma medida que relaciona o peso e a altura de uma pessoa para avaliar a faixa de peso em relação a uma altura ideal] ainda é usado como triagem populacional, mas a diretriz recomenda avaliar também circunferência da cintura, perfil metabólico e risco cardiovascular. Três sinais de alerta que indicam necessidade de avaliação médica: ganho rápido de peso associado à fadiga, apneia do sono ou falta de ar. Aumento abdominal desproporcional. Comorbidades como hipertensão, resistência insulínica ou esteatose hepática.

noticias.cancaonova.com — Como o tratamento da obesidade é tipicamente estruturado, e por que a abordagem multidisciplinar (envolvendo diferentes profissionais de saúde) é considerada essencial para o sucesso a longo prazo?

Lívia Marcela O tratamento é crônico e contínuo, baseado em mudança de estilo de vida (MEV); terapia farmacológica individualizada; suporte psicológico e nutricional; e, quando necessário, cirurgia bariátrica. A abordagem multidisciplinar é essencial porque a obesidade envolve fatores biológicos, emocionais e sociais. Equipes com endocrinologista, nutricionista, psicólogo e educador físico aumentam a adesão e reduzem recaídas.

noticias.cancaonova.com — Qual a frequência e intensidade ideal de exercícios aeróbicos e de força para indivíduos com obesidade?

Lívia Marcela Aeróbicos: pelo menos 150–300 min/semana (moderada) ou 75–150 min/semana (intensa). Força/resistência: 2–3 vezes por semana para preservar massa magra. A perda sustentada de 5–10% do peso corporal já reduz pressão arterial, glicemia e risco cardiovascular.

noticias.cancaonova.com — Em quais casos a cirurgia bariátrica é considerada uma opção de tratamento para a obesidade? Quais são os critérios de elegibilidade?

Lívia Marcela A cirurgia é considerada quando: IMC ≥ 40 kg/m², ou IMC 30–35 kg/m² com comorbidades graves (diabetes tipo 2, apneia do sono, esteatose avançada, doença cardiovascular). Deve haver falha prévia de tratamento clínico bem conduzido e avaliação multidisciplinar antes da decisão.

noticias.cancaonova.com — Além da perda de peso, quais são os principais benefícios da cirurgia bariátrica na saúde do paciente? Quais são os cuidados nutricionais e o monitoramento que o paciente deve seguir rigorosamente após a operação?

Lívia Marcela Além da perda de peso, há redução expressiva de Diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia, esteatose e risco cardiovascular global. O sucesso depende do seguimento rigoroso com reposição de micronutrientes, monitoramento metabólico e suporte psicológico. A diretriz recomenda acompanhamento médico e nutricional permanente, pois a obesidade é uma doença crônica, não curável, mas controlável.

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