Publicamos o comentário do padre Raniero Cantalamessa, ofmcap. — pregador da Casa Pontifícia — à liturgia do próximo domingo, XXI do tempo comum.
Maridos, amai vossas mulheres
XXI Domingo do tempo comum (B)
Josué 24, 1-2ª. 15-17b;
Efésios 5,21-32;
João 6, 61-70
“Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres a seus maridos, como ao Senhor, porque o marido é cabeça da mulher, como Cristo é Cabeça da Igreja, o salvador do Corpo. Assim como a Igreja está submissa a Cristo, assim também as mulheres devem estar a seus maridos em tudo. Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e entregou-se por ela. […] Assim devem amar os maridos a suas mulheres como a seus próprios corpos, porque o que ama a sua mulher, ama a si mesmo”.
Desta vez desejaria centrar a atenção na segunda leitura do dia, procedente da Carta aos Efésios, porque contém um tema de grande interesse para a família. Lendo com olhos modernos as palavras de Paulo, salta à vista imediatamente uma dificuldade. Paulo recomenda ao marido que “ame” a sua mulher (e isto está bem), mas também recomenda à mulher que seja “submissa” ao marido, e isto, em uma sociedade fortemente (e justamente) consciente da paridade de sexos, parece inaceitável. De fato é verdade.
Sobre este ponto São Paulo está condicionado pela mentalidade de seu tempo. Contudo, a solução não está em suprimir das relações entre marido e mulher a palavra “submissão”, mas, no caso, em fazê-la recíproca, como recíproco deve ser também o amor. Em outras palavras, não só o marido deve amar a mulher, mas também a mulher ao marido; não só a mulher deve estar submetida ao marido, mas igualmente o marido à mulher.
Amor recíproco e submissão recíproca.
Submeter-se significa, neste caso, ter em conta a vontade do cônjuge, seu parecer e sua sensibilidade; dialogar, não decidir só; saber às vezes renunciar ao próprio ponto de vista. Em resumo, lembrar-se de que se passou a ser “cônjuges”, isto é, literalmente, pessoas que estão sob “o mesmo jugo” livremente acolhido.
O Apóstolo dá aos esposos cristãos como modelo a relação de amor que existe entre Criador e a Igreja, mas explica em seguida em que consistiu tal amor: “Cristo amou a Igreja e entregou-se por ela”.
O verdadeiro amor se manifesta na “entrega” ao outro. Há duas formas de manifestar o próprio amor à pessoa amada. O primeiro é dar-lhe presentes; o segundo, muito mais exigente, consiste em sofrer por ela. Deus nos amou da primeira maneira quando nos criou e nos encheu de bens: o céu, a terra, as flores, nosso próprio corpo, tudo é dom seu… Mas depois, na plenitude dos tempos, em Cristo, veio a nós e sofreu por nós, até morrer na cruz.
Também ocorre assim no amor humano. Ao princípio, de noivos, se expressa o amor dando-se presentes. Mas chega o tempo para todos em que já não basta dar presentes; há que ser capazes de sofrer com e pela pessoa amada. Amá-la apesar das limitações que se vão descobrindo, dos momentos de pobreza, das enfermidades. Isto é verdadeiro amor que se parece ao de Cristo.
Em geral chama-se o primeiro tipo de amor “amor de busca” (com um termo grego, eros); o segundo tipo, “amor de doação” (com o termo grego ágape).
O sinal de que em um casal se está passando da busca à doação, do eros ao ágape, é esta: em lugar de perguntar-se: “Que mais poderia fazer por mim meu marido (respectivamente, minha mulher) que ainda não faz?”, um começa a se perguntar: “Que mais eu poderia fazer por meu marido (ou minha mulher) que ainda não faço?”.
Traduzido por Zenit.org