Padre avalia potencial das atividades esportivas, inclusive para o desenvolvimento global, e dá exemplos do que é e do que não é ético no esporte
Padre Mário Marcelo Coelho
Atividades esportivas
Estamos vivendo o período eufórico da Copa do Mundo, que acontece no “país do futebol”, o nosso Brasil. Nos estádios, nas ruas, encontramos uma variedade de cores e idiomas que se misturam, identificam povos e enfeitam as cidades com a beleza das cores e a riqueza da diversidade de línguas. Pessoas que torcem pela seleção do seu país e, ao mesmo tempo, se confraternizam, enquanto, dentro dos campos, as seleções lutam pela vitória intercalando sucessos e fracassos, conquistas e derrotas; e o mundo contemplando a beleza do esporte que encanta multidões.
A atividade desportiva manifesta, além das ricas possibilidades físicas do homem, também as suas capacidades intelectuais e espirituais. Não é mera potência física e eficiência muscular. Eis por que o verdadeiro atleta não se deve deixar subjugar pelas duras leis da produção e do consumo, ou por considerações puramente utilitaristas e hedonistas…. Desta forma, o desporto não é um fim, mas um meio; pode tornar-se veículo de civilização e de genuíno entretenimento, estimulando a pessoa a dar o melhor de si e evitar o que pode ser perigoso ou de grave prejuízo para si ou para o próximo.
Quando praticadas com o verdadeiro espírito, afirma o Papa João Paulo II, as potencialidades do fenômeno desportivo tornam-no um significativo instrumento para o desenvolvimento global da pessoa e um fator mais útil do que nunca para a construção de uma sociedade mais à medida do homem. O sentido de fraternidade, a magnanimidade, a honestidade e o respeito pelo corpo, virtudes sem dúvida indispensáveis a todo o bom atleta, contribuem para a edificação de uma sociedade civil onde o antagonismo é substituído pela competição, onde ao confronto se prefere o encontro e à contraposição rancorosa, o confronto leal.
Desta forma, o desporto não é um fim, mas um meio; pode tornar-se veículo de civilização e de genuíno entretenimento, estimulando a pessoa a dar o melhor de si e a evitar o que pode ser perigoso ou de grave prejuízo para si ou para o próximo…. Enquanto favorece a robustez física e tempera o caráter, o desporto nunca deve distrair dos deveres espirituais quem o pratica e o aprecia. Seria como correr, segundo quanto escreve São Paulo, apenas “por uma coroa corruptível”, esquecendo que os cristãos jamais podem perder de vista “a coroa incorruptível” (cf. 1Cor 9, 25). A dimensão espiritual deve ser cultivada e harmonizada com as várias atividades de entretenimento, entre as quais se insere também o desporto.
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Às vezes, os ritmos da sociedade moderna e de algumas atividades desportivas levam o cristão a se esquecer da importância de guardar os domingos e festas de guarda, ou seja, o Dia do Senhor. Contudo, o justo e merecido entretenimento não podem causar detrimento à obrigação do fiel de santificar o dia do Senhor. Ao contrário, nesse dia, a atividade desportiva deve estar inserida num contexto de descanso e convivência, que promova o estar juntos e o crescer na comunhão especialmente familiar.
A postura ética no esporte passa por atitudes de respeito pelo outro, de espírito comunitário, de honestidade e pela formação dos atletas que são orientados a uma ética de convivência que valorize a dignidade da própria atividade esportiva. A atitude ética, antes de tudo, é o dever de cada desportista de não fazer distinções, diferenciações ou discriminações de pessoas. Algumas atitudes como: a gentileza do atleta numa competição de esporte coletivo como o futebol, ao estender a mão para auxiliar um adversário a se levantar, o pedir desculpas quando agride o outro, o cumprimento do vencedor ao vencido e vice-versa, o respeitar a integridade física e moral dos adversários, e outras atitudes de gentileza, são exemplos significativos da ética esportiva.
A falta de ética no esporte é identificada por meio de comportamentos como: uso de substâncias ilícitas, manipulação de resultados esportivos, corrupção, incitações e agressões física, verbais ou morais, atitudes de discriminação de pessoas etc.
O esporte deve promover, acima de tudo, o respeito e a integração das pessoas, fazendo da própria competição uma escola de convivência sadia e honesta. Como afirma o Papa João Paulo II: “apraz-me citar aqui uma conhecida expressão de São Paulo que se adapta bem à vossa múltipla atividade amadora e desportiva: ‘Os atletas abstêm-se de tudo’ (1Cor 9, 25). Com efeito, sem equilíbrio, autodisciplina, sobriedade e capacidade de atuar honestamente com os outros, o desportista não é capaz de compreender plenamente o sentido de uma atividade física destinada a robustecer, além do corpo, o espírito e o coração”.