Repercussão

População enfrenta depressão dois anos após tragédia de Mariana

Atingidos pelo rompimento da barragem vivem tristeza após mudança brusca de vida. Famílias ainda não foram indenizadas

Da redação, com Agência Brasil

Moradores perderam suas casas com o rompimento da barragem do Fundão /Foto: Léo Rodrigues/Arquivo Agência Brasil

Há dois anos, os habitantes de dois distritos de Mariana e um de Barra Longa, em Minas Gerais, tiveram suas casas atingidas pela lama da mineradora Samarco, após o rompimento da Barragem de Fundão. Contados 730 dias depois da tragédia, muitos ainda esperam pelo reassentamento, indenização e pelo rio límpido — cujas ações de reparo, complexas, enfrentam atrasos e obstáculos que desafiam os órgãos envolvidos.

A espera e a mudança brusca de vida se transformaram em depressão nas comunidades. Algumas pessoas não viveram para testemunhar as mudanças e parentes apontam a tristeza como o agente catalisador dos problemas de saúde. Embora a Comissão de Atingidos da Barragem de Fundão não tenha um levantamento de todas as vítimas, casos de depressão e morte pós-desastre tem ocorrido com pessoas – sobretudo idosos – que morreram nos últimos dois anos, após sintomas que levam a acreditar que a causa foi a tristeza.

A Fundação Renova, criada para desenvolver as ações de reparação e compensação dos estragos provocados pelo rompimento de Fundão pretende fazer um estudo sobre o tema. É o que diz Albanita Roberta de Lima, líder do Programa Saúde de Bem-Estar Social da instituição, financiado pela Samarco e orientado por um Comitê Interfederativo (CIF), composto por órgãos públicos e a sociedade civil.

Albanita argumenta que existe um serviço disponível aos atingidos para trabalhar com a questão da saúde mental. “Desde o dia do rompimento, já foi disponibilizado um conjunto de profissionais, que vão de médicos a psiquiatras, primeiro contratado pela Samarco e depois pela fundação”, diz. “A gente entende que é um sintoma normal, porque mexemos com a vida dessas pessoas. Elas foram tiradas da sua vida, do seu cotidiano, e isso precisa ser reparado. É preciso lembrar que determinadas pessoas têm mais dificuldade para superar esse, vamos dizer assim, inconveniente que ocorre em sua vida”.

A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) informou o desenvolvimento do projeto Prismma, que viabilizará a pesquisa da situação da saúde mental das famílias atingidas pela tragédia. A equipe estará em Mariana entre os dias 15 e 17 de novembro para aplicar um questionário a 1,2 mil vítimas.

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Sofrimento será cobrado na indenização, diz promotor

O promotor do Ministério Público de Minas Gerais, Guilherme Meneghin, atua em ações e acordos extrajudiciais para garantir os direitos dos moradores de Mariana. Ele diz que existe uma complexidade na questão, por não existir a causa de morte por depressão, mas confirma que os casos de sofrimento mental são comuns. Não só pelo trauma que viveram há dois anos, mas pelas consequências de mudança de moradia do meio rural para o urbano, as confusões com o cadastro de atingidos e o atraso na construção dos reassentamentos.

“Tivemos uma audiência na semana passada, em que metade das pessoas era idosa e não foi contemplada com os auxílios. Várias delas desmaiaram. Saíram chorando da audiência. Quem era contemplado, de emoção. Quem não era, de profundo ultraje”, relata.

A Samarco e suas acionistas Vale e BHP Billiton, além da companhia contratada VogBR e 22 pessoas, entre dirigentes e representantes, já respondem a um processo criminal pela morte das 19 vítimas de 5 de novembro de 2015. A acusação é de homicídio com dolo eventual. A ação é de responsabilidade do Ministério Público Federal.

De acordo com o promotor do MPMG, Guilherme Meneghin, é difícil enquadrar as mortes de atingidos com depressão no contexto criminal, mas é possível atuar na área cível. “Esse sofrimento será cobrado na indenização”.

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