Entrevista Dom Orlando

Planejamento familar ou controle de natalidade?

Dom Orlando Brandes é atualmente Arcebispo de Londrina e foi recentemente eleito na Assembléia Geral da CNBB para presidente da Comissão Vida e Família. Em entrevista ao noticias.cancaonova.com, falou sobre as medidas de planejamento familar lançadas pelo Governo Federal.

noticias.cancaonova.com.: Neste momento em que a Igreja da América Latina está com os olhos voltados para a valorizaçao da dignidade humana, como o senhor analisa o novo conjunto de medidas de planejamento familiar que o Governo lançou nesta segunda-feira? 

Dom Orlando.: O governo tem realmente que cuidar da saúde pública. Isso é necessário, a saúde no Brasil precisa receber mais investimentos. Porém, os maiores investimentos, as urgências, – onde está havendo uma "hemorragia" na saúde – não são nesses assuntos de controle da natalidade. Porque isso [controle da natalidade] vem de longe, vem da ONU, de determinadas instituições que estão como que globalizando estas idéias de controle da natalidade, e infelizmente, nosso Governo está indo nessa direção.

A Igreja sempre apoiará a saúde pública, e se há alguém que trabalha nessa área e que tem hospitais, que atendem às pessoas, é a Igreja Católica. Nós temos de administrar e gastar o dinheiro do povo ali onde existe a presença da morte, a "cultura da morte". E não diminuir a vida. E não proibir nascimentos. E não impor determinados comportamentos éticos que são contrários à liberdade da família e à liberdade do casal. E falo isso como religioso, como católico, que isso é contra a vontade de Deus, que é: "Não matarás".

Por outro lado, a Igreja deve – junto com o Governo – sempre educar as pessoas para um planejamento familiar, para uma paternidade responsável. A Igreja nunca ensina que os casais devam ter "a filharada", como se dizia, mas – com a consciência bem formada – ter filhos conforme as suas capacidades e também conforme a realidade econômica, social, política e familiar deles também. É por isso que a CNBB já se pronunciou sobre esse assunto. E saúde pública não pode se tornar um argumento para outros interesses e outras políticas "antifamiliares", que estão sendo impostos aos governos do mundo.

noticias.cancaonova.com.: Como a missão continental pode contribuir para uma mudança de mentalidade quanto ao planejamento da família na América Latina?

Dom Orlando.: Olha, isto tem duas frentes de trabalho. Uma frente dos meios de comunicação social, das escolas, das universidades e dos profissionais do Governo. E tem uma outra que é a das pequenas comunidades, e nós, no caso da Igreja Católica, temos as CEBs, os grupos de reflexão, as pequenas comunidades e as reuniões em família. Também preparamos nossos noivos para o casamento. Nós temos essas oportunidades, além de nossa pastoral familiar e de nossos movimentos. Temos muitos meios, e claro, também a CNBB –com sua comissão pastoral da família – terá muito a contribuir com essa educação.

noticias.cancaonova.com.: O Ministro da Saúde disse que não há nenhuma força significativa contra os métodos contraceptivos porque é maciça a adesão da opinião pública ao projeto e que as mulheres de todas as religiões usam métodos contraceptivos. O que o senhor diz? 

Dom Orlando.: Olha, claro que se usa métodos contraceptivos, mas existem métodos muito diferentes. Há métodos contraceptivos que são abortivos, como a pílula do dia seguinte que é abortiva. E a esterilização da mulher e do homem, a vasectomia, são também radicais demais, não são abortivos, mas são muito radicais. E existem outros meios anticoncepcionais que são artificiais, mas que não são abortivos e que não são radicais. E existem métodos que muitos casais usam e que dão muito certo e são os métodos naturais, como o Método Billings.

noticias.cancaonova.com.: O presidente Lula promoteu ao Papa, em sua visita ao Brasil, promover a família. Como o senhor vê a postura dele, nesta segunda-feira, dia 28, ao inaugurar este planejamento?

Dom Orlando.: Todos nós somos falíveis e nem sempre temos coerência nas nossas falas e nos nossos interesses. Por isso, eu creio que a gente precisaria aqui analisar o contexto e eu não tenho este contexto do discurso do presidente Lula ao Papa. Eu escutei, mas eu precisaria deste contexto, como também do contexto da fala dele [Lula], da qual eu também não tive oportunidade de me inteirar. Mas, nós precisamos ter coerência e precisamos vencer tudo aquilo que é ideologia, tudo aquilo que é manipulação, como uma determinada corrupção do pensamento, da alma, do espírito das idéias, tudo isso é sumamente importante e isso vale para todos nós. Primeiramente, para nós, pastores, para nós, padres, para nós, da Igreja, todos precisamos ter essa coerência de vida, e dar este testemunho. Porém as nossas autoridades – aqueles que nos dirigem –, não podem ter "dois pesos" e "duas medidas".

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