Na abertura do Curso de Atualização para Sacerdotes, o Cardeal Scherer recordou as assembleias do Sínodo dos Bispos sobre a família
Jornal O São Paulo
Cerca de 170 sacerdotes de 60 dioceses do Brasil estão no curso de atualização para sacerdotes, realizado no Instituto Internacional de Ciências Sociais até sexta-feira, 22. O curso acontece anualmente desde 2008. Neste ano, o tema escolhido foi “Uma Pastoral da Família à luz da Exortação Apostólica Amoris laetitia.
As manhãs são dedicadas a conferências, com sessão de perguntas em seguida, enquanto as tardes são reservadas para laboratórios e troca de experiências.
O evento foi aberto pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, na terça-feira, 19. Após compartilhar sua experiência como membro do Sínodo dos Bispos e participante das duas últimas assembleias, ele explicou o motivo da atenção da Igreja ao tema da família nos últimos anos.
Segundo o Cardeal, o ideal da família cristã sempre esteve presente no ensinamento da Igreja, mas já há alguns anos tem sido objeto de uma atenção especial. O sínodo de 2012 sobre a evangelização – que foi utilizado pelo Papa Francisco em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium – já havia ressaltado a importância da família para a transmissão da fé. Mas hoje está claro que a família passa por uma profunda crise, cujas raízes são culturais e antropológicas, e da qual um dos principais sintomas é a desvalorização da dignidade da pessoa humana.
A crise da família é concomitante à erosão dos valores da cultura cristã. Ela afeta o mundo inteiro, principalmente a Europa e a América do Norte. NaUcrânia, que é um país cristão, as estatísticas indicam que 80% dos casamentos se desfazem após alguns anos. Constata-se que se perdeu o apreçopela família, sobretudo pela família tradicional, selada pelo sacramento do Matrimônio entre um homem e uma mulher, em uma união aberta à vida. A consequência é o aumento do número de divórcios, das uniões informais e a queda do número de casamentos nas paróquias.
Segundo Dom Odilo, tudo na Igreja pode ser reformado e melhorado, mas se não houver cuidado com a família, que é a base de tudo, nada fará muita diferença. Por isso é preciso atentar-se para a relação entre a Igreja e a família. Esta deve colaborar para a vida eclesial. O conceito de pastoral da família é algo a ser repensado, porque não deve ser como um departamento, mas deve integrar todo o resto, deve ser transversal, presente em todas as pastorais.
O Arcebispo lembrou, ainda, que é na família que é encontrada a pessoa e o evangelho deve ser transmitido no encontro com cada pessoa. Isso se faz acolhendo, acompanhando e formando os jovens e as famílias. É pela restauração da família que se melhora também a sociedade. Basta pensar nas pessoas que estão morando nas ruas ou que entraram no mundo do crime e foram presas ou mortas. Na maior parte, senão na totalidade dos casos, são pessoas que vêm de famílias desintegradas ou desestruturadas.
Por isso, segundo o Cardeal, o Papa Francisco escolheu o tema da vocação e missão da família. A Igreja traz um ensinamento que não é seu, mas que lhe foi confiado por Deus por meio da Revelação. Segundo esse ensinamento, a família é obra de Deus, é um dom. Por isso, o evangelho da família deve ser redescoberto, traduzido à linguagem atual. Esse trabalho se torna mais importante no contexto atual, em que a família encontra mais obstáculos do que ajuda nas demais instituições sociais, sendo muitas vezes alvo de ataques.