Coluna da semana

Padre explica palavras do Papa sobre missionariedade cristã

O missionário evangeliza pelo testemunho do amor misericordioso de Deus, diz padre Joãozinho à luz das palavras do Papa Francisco

Padre Joãozinho, scj
João Carlos Almeida – Teólogo e educador

padre joaozinhoMissionários da Ternura de Deus

No dia 05 de maio, o Papa Francisco não precisou nem mesmo utilizar os 140 caracteres, com espaço, permitidos pelo Twitter, para definir o significado essencial do ser missionário para todo discípulo de Jesus:

“Cada cristão é missionário na medida em que testemunha o amor de Deus. Sede missionários da ternura de Deus!”

Houve um tempo em que o missionário era uma pessoa que vinha de longe para ensinar verdades fundamentais da fé. Não se podia imaginar que todo cristão fosse um missionário. Esta consciência veio aos poucos e se tornou definitiva quando os bispos da América Latina, reunidos na Conferência de Aparecida, em 2007, colocaram “missionário” como adjetivo de “discípulo”. No início ainda se falava de “discípulo e missionário”. Em seguida passou-se a falar de “discípulo-missionário”, como um substantivo composto. Mas logo a expressão “discípulo missionário” se popularizou e tornou-se vocabulário comum na Igreja. Se alguém não é missionário não pode se considerar nem mesmo discípulo de Jesus. É uma propriedade fundamental do “ser cristão”.

Francisco, na época Dom Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, era da comissão de redação da Conferência de Aparecida. Ele utilizou muito esta expressão “discípulo missionário” e garantiu que fosse uma marca distintiva do texto final. Agora, como Papa, ele não se cansa de motivar os cristãos a que sejam de fato missionários. Mas o que é isso? Certamente é mais do que sair de uma terra e ir para outra mais distante. É importante. Mas o núcleo fundamental da missionariedade cristã é dar testemunho. Isto aparece claramente nesta mensagem do Papa no twitter: o cristão é missionário “na medida em que testemunha o amor de Deus”. Mais do que testemunhar a fé ou as convicções religiosas, mais do que ensinar verdades, o missionário evangeliza pelo testemunho do amor misericordioso de Deus.

Verificamos isso na vida de Maria que disse: Eis aqui a serva do Senhor… e não foi para a igreja rezar. Partiu às pressas para ajudar sua prima que precisava. Ser serva do Senhor significa servir o irmão. Este testemunho surtiu um efeito maravilhoso. Quando ela saudou Isabel o menino estremeceu de alegria no ventre de sua prima, ela ficou cheia do Espírito Santo e começou a rezar. Maria foi um canal da ternura de Deus por meio do seu serviço disponível e discreto.

Vivemos em um mundo onde se propaga a missão do barulho, da fama, do espetáculo. Espetacularizamos a fé. Há quem pense que missionários são apenas os que estão na TV ou no palco. Isto pode ser um ótimo fator motivacional e um canal eficiente para divulgar bons testemunhos. Mas todo cristão que se põe a serviço de alguém está vivendo a dimensão missionária de sua fé. O pai e a mãe que dão testemunho de ternura, honestidade, oração, simplicidade para seus filhos, estão sendo missionários sem precisar sair de casa.

Existem ainda os missionários da raiva. São pessoas que falam de Deus e até defendem a igreja. Mas no tom de suas palavras notamos algo de raivoso e beligerante. Parece que sempre estão com a razão e que existem pessoas muito erradas, verdadeiros hereges, a ser combatidos. Radicalizando este tipo de missionários da raiva, temos religiões que ainda matam em nome de Deus, em pleno século 21. Neste exato momento, existem cristãos sendo perseguidos e mortos em algum lugar do mundo. Diante deste quadro, o Papa nos provoca: “Sejam missionários da ternura de Deus”.

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