Coluna

Padre explica o que o Papa chama de "miséria moral"

No artigo desse mês, padre Mário Marcelo explica o significado da “miséria moral” de que fala o Papa Francisco na mensagem para a Quaresma 2014

Padre Mário Marcelo Coelho, scj
Doutor em Teologia. Autor do livro “Educar para as virtudes humanas” (Editora Canção Nova)

padre mário_divulgacaoMiséria Moral

O Papa Francisco em sua mensagem para a “Quaresma de 2014” – “Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9)” convoca a todos nós cristãos a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar; afirma ainda que “A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança” e faz a distinção entre “três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual”. Neste artigo quero destacar o que ele chama de miséria moral:

“Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se veem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína econômica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos autossuficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus”.

Quando nós não praticamos atos de virtude, acabamos adquirindo na alma uma força má, que é o contrário do que é virtuoso. Esta força má chama-se vício, e é preciso muito esforço para não deixá-lo entrar em nossa vida, pois ele pode nos levar ao pecado.

Existe a seguinte afirmação: as virtudes são difíceis de serem adquiridas e fáceis de serem perdidas, enquanto os vícios são fáceis de serem adquiridos e difíceis de serem perdidos. Os vícios também se propagam em contextos que favorecem seu surgimento; por exemplo, a violência sexual é um comportamento em grande parte aprendido, não algo com base hereditária.

Hoje os vícios gozam de um prestígio muito maior do que as virtudes. No passado, as pessoas se envergonhavam deles, os escondiam, enquanto hoje eles são exibidos, sustentados por uma perfeita legitimidade. Não educar nossos jovens para as virtudes significa deixá-los vulneráveis para que sejam pegos pelos vícios. Eles se tornarão aquilo que os farão tornarem-se.

Percebemos, a cada dia, quais os efeitos que a ausência das virtudes produz em nossa vida, seja privada ou pública. Sem uma educação para as virtudes, não garantimos nem mesmo uma tranquila viagem por uma rodovia ou um passeio pelos nossos bosques.

O cristão que intenta viver uma vida segundo Deus, conta com a graça divina e com as virtudes, ou seja, com todos os meios para conseguir o fim a que Ele o chama. Em consequência, com a ajuda do Senhor e o esforço próprio, há de ir crescendo na virtude e libertando-se dos vícios.

Ser bom, corajoso, honesto, verdadeiro, justo, caridoso, fiel é reconhecer o valor que há em agir virtuosamente e considerar repugnante pensar em envolver-se em atos ilícitos e desonestos. Se tal disposição está profundamente radicada em mim, mesmo que surjam ocasiões para praticar atos ilícitos, será bem fácil reconhecer que tais ações são más e, portanto, não devem ser realizadas.

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