Para assessor da Pastoral Afrobrasileira da CNBB, o Brasil é um país racista, mas geralmetne, brasileiros não assumem
Luciane Marins e Padre Roger Araújo
O Canção Nova em Foco desta semana conversa sobre o racismo no Brasil, com padre Jurandyr Azevedo, assessor da Pastoral Afrobrasileira da CNBB. Na última terça-feira, 13 de maio, foram recordados os 126 anos da assinatura da Lei Áurea – “Abolição da escravatura”.
Para o padre, a resistência e as conquistas, especialmente do povo negro, devem ser comemoradas, embora novas vitórias devam ser alcançadas.
“O Brasil é um país racista, mas nosso racismo é cordial”, afirma padre Jurandyr. Para ele, uma característica do preconceito brasileiro é seu caráter “não oficial”. Ele explica que aqui, a pessoa que é preconceituosa geralmente não assume, mas atribui o preconceito a outros, é comum ouvir: “eu conheço outras pessoas que têm preconceito, eu não sou preconceituoso, o outro é”.
.: Íntegra da entrevista
O padre acredita que o racismo tem várias origens e depende muito da história de cada um, mas destaca que aqui no Brasil, tem sido um problema desde a era colonial.
“Sabemos que o racismo é qualquer pensamento ou atitude que separa as raças humanas por considerarem algumas superiores às outras. Quando se fala de racismo, o primeiro pensamento que aparece na vida das pessoas é quanto aos negros.”
Embora o dia 13 de maio seja uma data celebrativa por recordar a libertação dos escravos, a Lei Áurea não proporcionou para os negros uma verdadeira libertação. Padre Jurandyr chega a dizer que o pior dia para o negro foi o dia 14 de maio. “Colocou o negro na rua sem documento, casa, educação e isso perdura até hoje, tanto é assim que o racismo no Brasil é fruto dessa época da escravidão”, explica.
Cotas nas Universidades
O Padre acredita que as cotas raciais deram certo no Brasil porque seus beneficiados são competentes e merecem frequentar uma Universidade Pública de qualidade. “É uma lei, talvez seja provisória, até que se resolva que uma porcentagem maior de negros esteja nas universidades”. Uma preocupação para ele é a questão da permanência desses jovens na Universidade, já que o estudo demanda outros gastos como transporte, moradia, livros, entre outras coisas.
“Temos que agradecer essa lei e também dizer que esta conquista está sendo benéfica para o povo negro”, destaca.
Na entrevista o padre fala ainda sobre a presença dos negros na Igreja, recorda a Campanha da Fraternidade promovida pela CNBB que há 26 anos já tratava do tema e diz ainda seu ponto de vista sobre a recente campanha “somos todos macacos”, que surgiu a partir de um ato de preconceito nos campos de futebol.