O Natal vem chegando. Há quase 2.000 anos, Deus realizou seu desígnio de misericórdia enviando ao mundo o seu próprio Filho para nos salvar. Este acontecimento transformou a história, trazendo-nos a reconciliação entre nós e com Deus. Nestas semanas, grupos de famílias se reúnem para preparar o Natal.
À luz da fé, podemos descobrir melhor as lições da vinda de Cristo em nossa vida. O Filho de Deus, ao nascer da Virgem Maria e entrar em nosso mundo, fez a opção do amor solidário. Quis passar pelas vicissitudes de todo ser humano, exceto o pecado. Ao irmanar-se conosco, revela o valor de cada pessoa humana e gera entre nós um anseio profundo de apreço, respeito e comunhão. Ensina-nos a dignidade de toda pessoa e nos ajuda a vencer barreiras e distâncias de classes sociais e a superar discriminações e ressentimentos.
Acolher Cristo que nasce em Belém é aprender a reconhecê-lo em cada irmão e irmã com quem quis se identificar. A consciência da dignidade do próximo está na origem de todo empenho pela promoção humana, a começar dos mais pobres e excluídos.
Quanto maior é a luz da fé que nos faz reconhecer a natureza divina e humana de Jesus que nasce, tanto maior é a compreensão da dignidade de todo aquele com quem Cristo se irmana. A celebração do Natal deve nos levar a assumir, com novo ardor, a vivência do amor gratuito e solidário, a exemplo de Cristo.
Numa sociedade que permanece marcada pelo egoísmo e pelo descaso diante do sofrimento alheio, precisamos redescobrir a beleza do amor oblativo, único que dá paz e alegra o coração humano.
Basta lançar um olhar sobre o mundo para discernir os grandes gestos de amor: a dedicação dos pais aos filhos, o cuidado dos enfermos e idosos, o desvelo pelos portadores de deficiência, o empenho para auxiliar crianças desamparadas e as vítimas de infortúnio. Que há de mais belo do que o amor gratuito à imitação de Jesus Cristo? Assim, o Natal é o momento privilegiado para aprender as lições profundas que o Filho de Deus nos dá, abrindo a nossa compreensão para a prática do amor solidário em nossas vidas.
No ambiente familiar, é a oportunidade de reconciliação e auxílio mútuo. Nas situações cotidianas na sociedade, precisamos esquecer mágoas e renovar o relacionamento e apreço mútuo. O amor solidário leva-nos mais longe e nos ensina a procurar as pessoas que sofrem abandono, rejeição e graves necessidades espirituais e materiais.
Entre as áreas mais carentes do exercício de nosso amor gratuito e solidário convém lembrar a condição dos encarcerados, a situação dos migrantes, o sofrimento dos que não conseguem emprego e o número cada vez maior do povo pobre que vive nas ruas, sem moradia.
Nesses dias que preparam o Natal, temos de superar as luzes das vitrines e do consumismo para viver a beleza da gratuidade do amor em benefício dos que mais precisam de nós. Quando isso acontecer, vamos experimentar a misteriosa alegria de quem dá. Feliz Natal.
Dom Luciano Mendes de Almeida
Arcebispo de Mariana – MG