Dom Giovane Pereira comenta sobre riqueza do Cerrado brasileiro e afirma: Igreja tem papel fundamental na missão de zelar por este bioma
Da redação, com CNBB
Nesta sexta-feira, 11, comemora-se o Dia Nacional do Cerrado, ocasião em que são lembradas as riquezas da diversidade do bioma e os desafios para sua preservação. Bispo de Tocantinópolis (TO), Dom Giovane Pereira de Melo comenta necessidade de proteger o Cerrado brasileiro. Desde 2003 é celebrado no Brasil o Dia Nacional do Cerrado. A data foi instituída por decreto com o objetivo de estimular sociedade e governo a realizarem uma discussão nacional sobre a situação de cada um desses biomas, que estão entre os mais ricos em diversidade biológica, social e recursos naturais.
Comentando sobre esta riqueza, o bispo de Tocantinópolis (TO), Dom Giovane Pereira de Melo, ressaltou que o bioma “é um conjunto de riqueza que deve ser cuidado e preservado”. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o cerrado tem uma área de cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados, reunindo de forma contínua parte dos estados do Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Pará e Rondônia, além de todo o Distrito Federal.
Uma das principais características do Cerrado é a de ter contato com todos os outros biomas brasileiros, permitindo um constante fluxo genético entre as espécies, especialmente por suas matas de galeria, onde são observadas diversas espécies típicas dos biomas adjacentes. O Cerrado é considerado o Berço das Águas porque é a região que abriga os três maiores aquíferos que abastecem o Brasil e países vizinhos: Guarani, Bambuí e Urucuia. Também no Cerrado nascem as principais bacias hidrográficas que banham não só a região central do país.
Dom Giovane ressalta que a Igreja tem um papel fundamental neste sentido, através das pastorais sociais e da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam-Brasil), “de trazer o símbolo da água como aglutinador de força em defesa do cerrado, e a igreja tem essa missão de cuidar e de zela desse bem tão precioso”. É neste contexto que o Dia Nacional do Cerrado se reveste de importância para refletir sobre a necessidade de preservação deste , como indica o Papa Francisco na encíclica Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum:
“No cuidado da biodiversidade, os especialistas insistem na necessidade de prestar uma especial atenção às áreas mais ricas em variedade de espécies, em espécies endémicas, raras ou com menor grau de efetiva proteção. Há lugares que requerem um cuidado particular pela sua enorme importância para o ecossistema mundial, ou que constituem significativas reservas de água assegurando assim outras formas de vida”. Confira a íntegra da entrevista concedida por Dom Giovane Pereira de Melo à CNBB:
Quando se fala em biomas, há uma série de elementos que o compõem, para além das características da biodiversidade. Como o senhor observa a diversidade e a riqueza socioambiental do Cerrado?
Dom Giovane: A riqueza de um bioma vai desde a sua biodiversidade, que é composta pelos elementos naturais como a água, a fauna e a flora. A questão socioambiental do Cerrado é de uma riqueza muito grande, a diversidade de culturas que temos, são mais de 80 povos indígenas, temos as raizeiras, os povos e populações tradicionais, agricultores familiares, quilombolas, geraizeiros e também o povo da cidade. É um conjunto de riqueza que deve ser cuidado e preservado.
Mas também há desafios, uma vez que estamos numa crise socioambiental, como alerta o Papa Francisco na Laudato Si’. O que a Igreja tem acompanhado neste contexto dentro do Regional?
Dom Giovane: Os desafios são muitos e tão grande quanto o próprio Cerrado. Existe a situação do agronegócio grilando terras, expulsando esses povos de suas terras, causando desmatamento, destruindo as nascentes dos rios e poluindo os mesmos, matando os animais. É um desafio gritante, que põe em risco toda essa riqueza e diversidade. A Igreja tem atuado no Regional Norte 3 e na Diocese de Tocantinópolis através da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e da Cáritas na denúncia e no anúncio, dando voz e visibilidade a esses povos.
O Cerrado é o bioma brasileiro que contribui no abastecimento de água para outros biomas do país. Como ressaltar esta importância de cuidar desse espaço de vida na ação pastoral da Igreja?
Dom Giovane: A água como os povos indígenas, os pescadores e os ribeirinhos falam, é a fonte da vida, ‘sem água, sem vida’. A água é o símbolo da purificação e da renovação da vida. O Cerrado é o berço das águas do Brasil que abastece boa parte dos estados brasileiros e tem um grande potencial hídrico. Portanto, a Igreja tem um papel fundamental através das pastorais sociais, da REPAM de trazer o símbolo da água como aglutinador de força em defesa do Cerrado, e a Igreja tem essa missão de cuidar e de zela desse bem tão precioso.
A CNBB, Pastorais e organismos eclesiais fazem parte de uma campanha nacional em defesa do Cerrado, que busca valorizar a biodiversidade e as culturas dos povos e comunidades do Cerrado, que lutam pela sua preservação. O Regional está envolvido de alguma forma? Como contribuir?
Dom Giovane: Sim, o regional está completamente envolvido na Campanha em Defesa do Cerrado. A Campanha Nacional em defesa do Cerrado iniciou pela CPT e tem várias pastorais sociais envolvidas, como o CIMI e a Cáritas. A CPT e o CIMI fazem parte da coordenação executiva da campanha. No nosso Regional Norte 3, a Valéria Santos, que é da CPT Araguaia/Tocantins, faz parte da coordenação executiva da campanha em defesa do Cerrado articulando não só no Tocantins, mas em todo o Cerrado Brasileiro essa luta em defesa do Cerrado.