É muito fácil distinguir entre uma pessoa otimista e outra pessimista. Basta que se coloque diante delas, por exemplo, uma garrafa de vinho, depois da metade de seu conteúdo já tiver sido consumida. Para o otimista "ainda sobra meia garrafa"; para o pessimista: "só sobra meia garrafa". Tudo é questão de ótica.
Também é questão de ótica o valor que se atribui a um objeto; como é questão de ótica como se avaliam os fatos. Para um, a coisa mais importante é uma loteria acumulada… Para outro é ter o mínimo para levar uma vida digna. Para um, o importante é a viagem que vai fazer para um país distante; para outro, é poder andar alguns passos.
Claro que os meios de comunicação também têm sua maneira de avaliar os fatos. Embora haja tônicas diferentes, de acordo com a linha ideológica, percebe-se uma coisa constante e curiosa: fatos em si insignificantes ganham grandes manchetes; enquanto fatos que deveriam merecer muito mais destaque passam quase desapercebidos.
Ainda que as notícias já estejam ficando um tanto cansativas, compreende-se, por exemplo, que se fale muito da tragédia do voo 447 da Air France. Compreende-se também que se dê destaque ao que está ocorrendo no Irã. Compreende-se ainda que se dê destaque às ameaças vindas da Coréia do Norte.
No entanto, não deixa de ser surpreendente que se dê tanta importância, por exemplo, aos suínos, que, de repente viraram personagens centrais da história. Curiosamente, há alguns anos, as manchetes iam para a “vaca louca”; depois o personagem central passou a ser o frango. Depois outros animaizinhos passaram a ser enfocados como portadores de grandes perigos para todos.
Curiosamente ainda, os mesmos noticiários, de um momento para o outro, fazem desaparecer aquilo que parecia uma ameaça terrível ou então representaria uma conquista decisiva. Até há pouco a “anencefalia” (fetos com cérebro incompleto) pareciam se constituir num problema central. Hoje, eles desapareceram do mapa. Da mesma forma, até há pouco o uso de embriões parecia ser algo de decisivo para a cura de certas doenças. Quem não pensasse assim era chamado de ignorante. Agora, se percebe um certo consenso científico afinado com a posição da Igreja: as portadoras de esperanças são as células adultas, ainda que nem essas devam ser absolutizadas.
Esses e outros muitíssimos fatos são curiosos, mas não dispensam uma pergunta muito importante: como explicar essas mudanças de foco e, sobretudo, como explicar que coisas insignificantes ganhem manchetes e outras de vital importância não sejam nem mencionadas?
Na linha da busca dos porquês, convém trazer à tona algumas comparações: ainda que nunca se deva negligenciar qualquer fator que traga ameaça para a saúde pública, não se entende a importância dada às ameaças provindas da peste suína. Pouquíssimas são as vítimas, se comparadas às mortes cotidianas, e não consta que tenha havido aqui no Brasil qualquer óbito decorrente da temida peste. E, no entanto, agentes de saúde mascarados se posicionam em pontos estratégicos nos aeroportos e respeitáveis organismos internacionais, onde alertam para os enormes riscos. Os alertas são tantos que acabam criando outra pandemia, essa real: a do medo do medo.
Enquanto isso milhares de crianças que poderiam ser salvas com simples doses de soro caseiro morrem de diarréia. Da mesma forma, milhares morrem por falta de condições mínimas de alimentação, de higiene. E pouco se fala nisso. Inclusive nem se dá o devido destaque à Pastoral da Criança, uma das iniciativas mais importantes em termos de saúde, pois salva a vida de milhares de crianças com baixíssimos custos.
Mas agora vem a maior prova de que urge fazer avaliações mais ponderadas dos fatos. Finalmente, nesses últimos dias, a grande mídia deu manchetes sobre aquilo que todo mundo já sabia, mas fazia de conta que ignorava. Segundo a FAO, hoje, nada menos do que hum bilhão, isto mesmo, um bilhão de pessoas morrem literalmente de fome.
Acontece que esses dados espantosos, num mundo onde existe fartura de tudo, certamente não traduzem a realidade total, pois nem levam em conta outro bilhão de pessoas que sobrevivem em condições mais do que precárias.
Esses breves acenos para certos paradoxos com certeza deveriam levar-nos a um senso crítico mais aguçado: por que de vez em quando se levanta a bandeira de uma “pandemia” quando não há razões para isso e, ao mesmo tempo, se coloca uma cortina de fumaça sobre o que pode ser constatado a olhos vistos?
O próprio Jesus já apontava nessa direção quando acusava certos grupos de ficarem coando mosquitos e ao mesmo tempo engoliam camelos. Para ele, essa atitude não passava de hipocrisia. Com certeza, hoje, Ele haveria de explicar que por trás de atitudes hipócritas podem se esconder os mais diversos interesses, que nada têm a ver com preocupações pelo bem estar de todos.
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