Tatiane acompanhou a pequena Helena por meses no hospital e segue com o homecare, e Angeliane luta contra um câncer ao lado da filha Caroline
Julia Beck
Da Redação
Força e resiliência são qualidades intrínsecas à missão de uma mãe. O desafio de cuidar de um ser indefeso, ingênuo e em constante processo de formação torna-se ainda maior, quando uma enfermidade é acrescida a esta tarefa.
Desde o nascimento da filha Helena, de 2 anos, Tatiane Aparecida Rocetão, de 35 anos, a acompanha nos muitos cuidados médicos de que ela precisa. Angeliane Dias Tavares, de 39 anos, mãe de Caroline, de 4 anos, é quem lida hoje com o diagnóstico de um câncer e o tratamento.
Mãe de UTI

Angeliane com Helena no colo, no hospital / Foto: Arquivo pessoal
Após sete anos de tentativas, Tatiane engravidou de Helena. No primeiro exame de ultrassom morfológico, ela conta que descobriu uma artéria única no cordão umbilical – o que dificultava a chegada de nutrientes para o bebê e, consecutivamente, a dificuldade no crescimento e desenvolvimento intrauterino.
No segundo ultrassom morfológico, a mãe de Helena revela que foi constatado um problema renal: a pequena tinha um rim displásico multicístico – cheio de cistos – e um rim pélvico – que, durante o desenvolvimento fetal, não migra para a sua posição normal na região lombar, permanecendo na região pélvica.
Com 31 semanas de gestação, Tatiane teve um descolamento de placenta que culminou num parto prematuro. Helena nasceu com 1,175 kg. Após dois dias, os médicos informaram os pais que os rins da bebê não estavam funcionando e que ela não sobreviveria. “Minha fé foi mais persistente que o meu medo”, afirma a mãe. No outro dia a pequena voltou a urinar e foi transferida para um hospital com mais recursos.
Helena ficou numa Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por quatro meses. Neste tempo ela apresentou um derrame pleural, hipertensão pulmonar, passou por duas cirurgias cardíacas, ficou dois meses entubada e pegou seis infecções por sepse (resposta inflamatória excessiva do organismo).
Fé e valor nas pequenas coisas
“Foi muito traumatizante, ainda mais sendo mãe de primeira viagem (…). O que me sustentou foi ver o rostinho dela e a minha fé. Deus e Nossa Senhora me sustentaram. Nos momentos que eu sentia muito medo eu ajoelhava em frente à incubadora e pedia pra Deus me ouvir”, partilha a mãe de Helena.
Durante o tempo que acompanhou a filha na UTI, Tatiane revela que passou a dar ainda mais valor às pequenas coisas: sua casa, cama, poder cozinhar a própria comida, comer o que quer.
Após os quatro meses de internação, mãe e filha enfim puderam ir para casa. Contudo, em meio a diversas limitações e dificuldades, foi descoberta uma hérnia diafragmática, com um pedaço do intestino colado com o pulmão da pequena.
Retorno ao hospital
Helena precisou voltar a ser internada, dessa vez por um período de 11 meses. “Nessa internação, ela passou por essa cirurgia de hérnia diafragmática”, explica Tatiane. “Depois, suspeitaram de alguma doença nela, por ela estar bastante hipotônica, não se mexia, não movimentava os braços, as pernas. Então ela passou por um exame e foi diagnosticada com amiotrofia muscular espinhal”.
A pequena não tinha força muscular para respirar, precisando usar uma máscara de ventilação não invasiva. Após meses de espera, a família retornaria para casa com o homecare, mas pouco antes de deixarem o hospital, foi descoberto um pneumoperitônio – uma presença de ar na região da barriga.

Helena recebe cuidados médicos em casa e segue evoluindo / Foto: Arquivo pessoal
Os médicos suspeitaram de perfuração no intestino ou estômago e a Helena precisou de uma nova cirurgia. Durante a operação, foi necessário entubar a pequena, e durante este processo encontrou-se uma via aérea “muito difícil”. Por isso, tiveram também que fazer traqueostomia e gastrostomia também.
“Deus faz milagres”
Para as mães que estão vivendo a realidade hospitalar, ela afirma: “tenha fé, acredite no seu filho, acredite nele, acredite em Deus, que Deus faz milagres. A minha filha é um milagre, ela passou por tanta coisa”.
“Helena está aqui, lutando pela vida dela dia após dia. Está muito bem graças a Deus e são etapas que passam. Não digo que é fácil, é muito difícil, mas acredite em Deus e no seu filho (…). Eu acredito que ela está tendo uma vida maravilhosa. Mesmo com as limitações, ela é muito feliz”, conta.
Desafios da maternidade
Angeliane descobriu sua gravidez em 2019 e parte da gestação de Caroline se deu em meio à pandemia de Covid-19. Ela recorda que foi muito época muito difícil, na qual ter que escolher as roupas, móveis e decoração pela internet se tornou algo desafiador.
A mãe de Caroline afirma que a maternidade a transformou completamente, tornando-a mais empática com outras mães. “Sempre as vi como fortes e resilientes, mas não imaginava como era desafiador tentar dar conta de tudo e todos, mesmo sendo uma tarefa impossível”, expressa.
Mais recentemente, Angeliane passou a enfrentar um desafio diferente. Ao realizar um autoexame, ela descobriu um nódulo e logo procurou ajuda. “Quando ouvi da médica as palavras ‘câncer’ e ‘quimioterapia’, o medo tentou tomar conta, pois o tratamento é muito desgastante e o medo de não dar conta é imenso”, partilha.
“Minha filha é a minha maior força”

Tatiane e Caroline / Foto: Arquivo pessoal
Apesar disso, a mãe de Caroline é enfática: “minha filha é a minha maior força, por ela eu escolhi lutar com tanta força contra o câncer”. Angeliane relata que, ainda quando estava investigando a doença, já conversava com a filha.
“Quando comecei a quimioterapia e os efeitos colaterais começaram a surgir, fui explicando que os remédios estavam deixando a mamãe mais cansada, mas que tudo isso vai passar”, explica. “Minha filha ajudou a cortar o meu cabelo e isso a trouxe com leveza para esse novo mundo. Eu tento ser clara dentro da compreensão dela e respondo todas as dúvidas”.
Angeliane frisa que, por mais difícil que seja o tratamento, não se pode entregar-se: é preciso lutar da melhor maneira possível naquele momento. “Nem sempre podemos dar 100%. Tem dias que ter força para levantar já será o nosso 100%. Colocar-se em primeiro lugar não é egoísmo, é cuidado. Temos que ficar bem para conseguir continuar sendo as mães incríveis que somos”, conclui.