No Dia Nacional do Livro, jovem conta como leitura transformou sua vida, e escritor católico partilha sua trajetória e vocação
Fernanda Lima
Da Redação
Nesta terça-feira, 29, o Brasil comemora o Dia Nacional do Livro. A data foi escolhida em homenagem ao dia em que foi fundada a Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, em 1810. Foi nessa época que o país recebeu seu primeiro acervo, quando a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para o Brasil.
Tão importante quanto os livros são aqueles que se dedicam à arte de escrever. Sandro Arquejada é missionário da Comunidade Canção Nova e já escreveu oito livros. Ele relata como percebeu que precisava escrever sua primeira obra:
“Sempre tive um ardor muito grande de evangelizar. O conteúdo que brota em mim é maior do que as possibilidades que eu tenho na forma verbal em minhas pregações. Minha esposa, que na época era minha namorada, incentivava-me bastante em enviar os textos para o nosso portal. Foi o que fiz. Nessa fase, veio a inspiração de escrever um livro. Então, não parei mais”, partilha.
Sandro sublinha que o principal aspecto do escritor cristão – e o que o diferencia dos outros – é a experiência de vida com Jesus. “O que escrevemos é fruto do que escutamos das palavras d’Ele e colocamos em prática. Transmitimos aquilo que vivemos. Não podem ser meros dados ou argumentos. Não pode ser teoria. O leitor precisa sentir ressoar, dentro dele, que o mesmo Cristo que fez acontecer em mim, também fará na vida dele”, destaca.
Para o missionário, a vasta quantidade de conteúdos digitais e textos curtos oferece ao leitor uma opção de menos esforço e atenção. Por outro lado, ele acredita que isso não fará o hábito da leitura se extinguir. “A pessoa que lê um livro, seja físico ou por meios eletrônicos, é alguém que busca um conteúdo mais denso. Comparo o leitor com uma pessoa que quer degustar algo, aproveitar todos os nutrientes e não somente ingerir um fast food. Sempre haverá pessoas que criam um afeto por um livro específico, porque fizeram uma experiência de vida. O livro os ensinou a viver bem algum aspecto da sua existência. Portanto, é uma questão de necessidade, não de todos, mas daqueles que desenvolveram esse bom hábito da leitura”, conclui.
Adquirindo o hábito de ler
De acordo com uma pesquisa realizada em 2021 pelo Observatório da Juventude na Ibero-América, 67% dos jovens brasileiros, de 15 a 29 anos, afirmam gostar de ler, mas leem apenas dois livros, em média, por ano. Para a jovem estudante de jornalismo, Julia Silveira, 19 anos, o hábito da leitura nem sempre foi algo natural em sua vida, mas o incentivo de sua mãe foi fundamental.
“Minha mãe sempre me incentivou a ler. Ela se sentia um pouco angustiada quando eu recusava algum livro, por isso tentou todos os caminhos. Até que mudei de escola e, na minha pré-adolescência, um amigo me apresentou o gibi da Turma da Mônica, e acabei desenvolvendo o gosto pela leitura”, comenta.
Durante o Ensino Fundamental, Julia relata que os textos de Machado de Assis e outras leituras mais sérias começaram a lhe chamar a atenção, mas ainda não eram suficientes. “Acredito que o prazo de ler um livro me deixava com um sentimento de prisão e muita pressão. Eu sempre acabava procrastinando a leitura”, enfatiza.
A jovem pontua que o período da pandemia foi um fator chave de grande mudança nesse aspecto. “Com a pandemia, todos viviam o isolamento, e eu me via na necessidade de encontrar um novo hobby. Uma amiga me pediu para ler o início de um livro e avaliar se aquela leitura valeria a pena. Como estávamos no início da quarentena, eu não tinha muito o que fazer, e acabei embarcando nesse desafio. Fiquei tão presa na leitura, que não vi o tempo passar”, expressa.
Tal mudança deve-se também ao fato de encontrar seu gênero de leitura. “Quando encontrei meu gênero favorito, a leitura começou a fluir tranquilamente, facilitando até mesmo a leitura de livros acadêmicos”, ressalta.
A estudante também afirma que, mesmo vivendo em uma cultura digital, não abre mão da sua paixão por livros físicos. “Tornou-se fácil e cômodo conviver com a tecnologia, porém, acaba também sendo muito cansativo. Acredito que a procura pelo antigo vai acabar crescendo e tomando um caminho forte. Voltar a tocar em livros, sentir as folhas passando, ler com mais calma, poder sentir o cheiro de um livro novinho, são sensações que eu não trocaria por nada”.
Paixão pela leitura
Julia revela que, atualmente, tem mais de 100 livros físicos em seu quarto, e que isso faz parte de sua vida. “Chegou uma época que não tinha mais espaço, e decidi tirar a televisão do ambiente para dar mais espaço para uma estante. Precisei me render à tecnologia e adquirir um Kindle. No entanto, mesmo sendo mais econômico ler assim, ainda prefiro os livros físicos”, contou.
A jovem conta que o cultivo de boas amizades também influencia o gosto pela leitura. “Ter pessoas com quem você possa conversar sobre as histórias e experiências é definitivamente um ótimo empurrão para desenvolver esse hábito. Quando entendemos o nosso perfil e alinhamos isso aos livros propostos, a leitura se torna um porto seguro. Ler me salvou diversas vezes”, sublinhou.
Criar uma rotina
Julia acredita que se programar para ler é uma questão de esforço. “Se você acha que não tem tempo para ler, vale a pena fazer o esforço para ler uma página por dia e, aos poucos, isso vai aumentando. Certa vez, um amigo acordou duas horas antes do que costuma normalmente, e, não conseguindo dormir novamente, pensou que seria uma excelente oportunidade de ler um livro naquelas duas horas que tinha. Ele odiava ler. Isso prova que tudo é possível quando se tem esforço”, conclui.
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