Professora de Literatura explica importância do hábito de ler e como cultivá-lo; mães falam da experiência de leitura com os pequenos
Jéssica Marçal
Da Redação
Com as crianças passando mais tempo em casa neste tempo de pandemia, que já dura meses, muitos pais se perguntam o que mais fazer para mantê-las entretidas. A leitura pode ser uma aliada e seus benefícios vão além de um momento de lazer.
“Esse tempo de pandemia exigiu de nós, pais, uma reestruturação de vida. Em minha casa, percebo que é um dia de cada vez, semanas que as coisas fluem, outras mais difíceis, e está tudo bem”, conta Anamelia Hummel, professora de educação infantil e mãe de Ana Lívia, 12, Analice, 8, e Joaquim, 4.
Ela acrescenta que a leitura é uma grande aliada na formação de seus filhos e entende como uma missão a necessidade de causar o encantamento pela leitura, sendo exemplo. “Na rotina da semana, temos um horário para leitura e, antes de dormir, sempre conto histórias para eles na cama, dormem imaginando o cenário da história narrada, é bem divertido”.
Na casa da monitora de colégio Fabiane Eleutério Lopes, os livros sempre fizeram parte da rotina de seus filhos – Giovani, 12, e Rafael, 6. “Giovani sempre gostou muito de ler, despertou o interesse muito cedo e, com a chegada do irmão, adorava ler para ele”.
Mas como ajudar a criança a criar esse hábito de leitura? A professora de Literatura Luciana Lachance recomenda fazer essa atividade diariamente, porém fazer pouco no início: 10 minutos por dia é um bom começo.
Outra dica é ler em voz alta e em família. “Que este momento seja de leitura em voz alta entre toda a família, que isso não seja uma meta imposta para a criança, mas sim que o adulto se proponha a ler em voz alta com toda a família reunida, para criar esse laço de comunicação, de momento de rotina da família, e para que seja um momento alegre, em que eles possam conversar”, orienta.
“O interesse pela leitura precisa de constância, perseverança. O hábito nasce do exemplo dos pais”, destaca Anamélia.
Os benefícios da leitura
Em especial nesse tempo de pandemia, o hábito da leitura é uma boa alternativa para outros tipos de atividades culturais que as crianças possam ter. “É algo que ajuda no seu processo de alfabetização, no seu processo educacional. Uma criança que lê vai levar vantagens não apenas na própria questão da leitura, mas em todo o seu aprendizado, é importante de todos os ângulos”, pontua Luciana.
As mães também reconhecem essa abrangência da leitura. “O mundo é todo letrado. É fundamental que nossos filhos criem o hábito de ler, para assim ‘ler’ o mundo e contribuir de forma ativa”, acrescenta Anamelia. “Com a leitura, eles desenvolvem a criatividade, imaginação e as brincadeiras se tornam muito mais divertidas”, conta Fabiane.
Dicas para os pais: tipos de leituras, horários, vocabulário
Uma dúvida que pode ocorrer entre os pais é que tipo de leitura oferecer aos filhos, de forma a manter a atenção e despertar, de fato, o interesse pelo livro.
Se os pais são novos no universo literário para o público infantil, Luciana indica que eles procurem uma referência, alguém que já fale do assunto para facilitar. Isso porque as escolhas das leituras para crianças envolvem critérios e muita atenção, principalmente diante das possíveis orientações ideológicas presentes nas publicações.
Ela explica que existem livros com tamanhos de texto mais adequados para cada faixa etária, mas quando se cria o hábito de leitura em família, esse conceito se amplia, pois a leitura em voz alta será dialogada com o adulto, de forma que a duração do texto não será tão importante assim.
“A minha indicação é que os pais tenham esse momento de leitura, que incentivem a leitura individual e que tenham diferentes tipos de tamanhos de texto, de tipos de narrativa, que incluam não só os livros ilustrados, que são os tipos mais conhecidos de livros para crianças, mas que possam incluir sobretudo poesia infantil”.
“O hábito da leitura terá tanto mais sucesso quanto mais toda a família estiver envolvida”
Luciana Lachance
Sobre o horário para leitura, a professora de Literatura destaca que o melhor é o que vai funcionar para cada família. No geral, esse momento acaba sendo ao fim do dia, quando – com exceção desse tempo de pandemia – as pessoas já se ocuparam com trabalho ou escola e, então, a família poderá se reunir.
Luciana não indica que esse momento seja imediatamente na hora de dormir, devido ao sono da criança, ao cansaço dela e sua necessidade de dormir, o que vai interferir em um fator-chave: o diálogo. “Não que não possa ler à beira da cama, é uma coisa bonita também, claro. Mas se você estabelece sempre a hora de dormir, você sempre estará sujeito a um tempo muito limitado, que vai sempre brigar com o cansaço da criança e não haverá a oportunidade de diálogo que é fundamental para o momento da leitura e principalmente para formar o hábito”.
A leitura pode, inclusive, contribuir para a formação do vocabulário da criança. Para que isso aconteça, Luciana explica que é preciso estar atento aos tipos de narrativas, bem como a uma diversidade de textos: incluir poesias, contos da oralidade, histórias clássicas. E com relação ao uso de diminutivos – como “casinha”, em vez de casa”, por exemplo – uma prática às vezes comum ao ler para os pequenos, Luciana também faz uma observação.
“Se você se propõe a fazer uma leitura em voz alta, que você faça a leitura daquilo que está no texto. Então essa questão de ‘menorizar’ as palavras, se você faz uma boa seleção do texto você consegue não passar por esse tipo de coisa. Não é exatamente um problema grave, mas para que isso não fique um hábito, escolher bons textos e ler exatamente o que está ali”.
Livros escolhidos e momento definido, é hora, então, de reunir a família: a leitura também é boa ocasião para interação no ambiente familiar. “O hábito da leitura terá tanto mais sucesso quanto mais toda a família estiver envolvida, para que isso não seja apenas um peso imposto à criança, como uma tarefa quase que escolar, que a criança tem que ler ou bater meta de leitura imposta pelos pais. Que isso possa mudar. Que possa ser algo que toda a família abrace”, conclui.